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EUA
Ao lado da britânica Margaret Thatcher, presidente lançou bases para surgimento do "consenso de Washington"
Com Reagan, marketing político atingiu seu auge
ESPECIAL PARA A FOLHA
Os oito anos de Ronald Reagan
na Presidência serão provavelmente lembrados pela história como um período em que a "onda
conservadora" (liderada por ele e
por Margaret Thatcher no Reino
Unido) criou as condições políticas e econômicas para o "consenso de Washington" na década
posterior praticamente uniformizar a política econômica de quase
todos os países do mundo.
Grande parte da vitória de Reagan na eleição de 1980 se deveu à
incompetente administração de
seu antecessor e adversário
Jimmy Carter. A inflação americana na década de 1970 chegou a
inacreditáveis, para o padrão daquele país, 13,5% ao ano. Reagan
assumiu o poder e implementou
uma orientação radical de incentivo à oferta de bens e serviços por
meio de grandes reduções de impostos para empresas e pessoas.
Ao mesmo tempo, ele ordenou
profundos cortes orçamentários,
em especial nos programas sociais do governo federal, que haviam sido bastante expandidos
nas administrações de Lyndon
Johnson, Richard Nixon e Carter,
e iniciou o processo de desregulamentação da economia.
A "reagonomics" atingiu boa
parte dos seus objetivos. A taxa de
inflação ficou entre toleráveis 4%
e 6% anuais, o desemprego, embora tenha alcançado altíssimos
10% em 1982, permaneceu na
maior parte da década de 80 em
margens consistentes com a história do país, e a atividade econômica se expandiu em níveis recordes para tempos de paz até então
(sob o governo Clinton, ela viria a
crescer ainda mais).
Em compensação, o déficit no
orçamento federal atingiu patamares altíssimos, que foram reduzidos com grande esforço entre
1994 e 2000 por uma união de esforços entre o Executivo sob a liderança de Bill Clinton e o Congresso sob o comando de Newt
Gingrich, apenas para voltarem a
se elevar na atual administração
de George W. Bush. A dívida pública americana triplicou nos oito
anos de governo Reagan.
O abandono pelo Estado da sua
condição de regulador permitiu
que ocorressem escândalos financeiros como os dos bancos de
poupanças, com grandes prejuízos tanto para o governo como
para muitos investidores. De certo modo, o espírito da época Reagan, de ambição ilimitada, criou o
caldo de cultura que permitiu a
ocorrência dos grandes escândalos corporativos de anos recentes.
Além disso, apesar de seu discurso em favor do livre comércio,
a Presidência de Reagan foi o período desde a gestão de Herbert
Hoover em que mais aumentaram as tarifas alfandegárias para
importação nos EUA.
Do ponto de vista político, os
anos Reagan marcaram o apogeu
do espetáculo como forma de ganhar votos e apoio da opinião pública. Apelidado de "O Grande
Comunicador", o ex-ator deu o
tom para todos os seus sucessores
com uma Presidência nitidamente orientada para a fotogenia e para a mídia. Com ele, o marketing
político chegou ao auge.
Vinte anos antes do dia de sua
morte, por exemplo, os assessores
de comunicação do então presidente modelaram sua visita às
praias da Normandia para comemorar o quadragésimo aniversário do Dia D como uma grande
oportunidade para cenas de emoção na TV. O show se tornou um
caso clássico de sucesso em relações públicas políticas e seria imitado depois por Bush, Clinton e,
ontem, pelo atual presidente americano.
Sua habilidade em criar empatia
entre si e o público permitiu que
saísse ileso do principal escândalo
de seu governo, o episódio Irã-Contras, que envolveu o desvio
ilícito de dinheiro obtido pela
venda ilegal de armas para o Irã
(que estava sob embargo comercial dos EUA) para os guerrilheiros de direita da América Central.
A política externa de Reagan foi
marcada ao mesmo tempo por
um discurso ideológico duríssimo contra a União Soviética (o
"império do mal") e até 1985 aumentos substantivos do arsenal
nuclear americano, mas ao mesmo tempo por uma abordagem
pragmática de détente, em especial entre 1986 e 1988, que em
grande medida deu condições para Mikhail Gorbatchov consolidar
sua liderança e estabelecer sua
"glasnost".
Reagan aumentou os gastos de
defesa dos EUA até níveis nunca
antes alcançados, mas limitou
ações militares a situações em que
a certeza de vitória sem custo humano significativo era praticamente nulo, como em Granada.
Durante o governo Reagan, os
EUA deram apoio financeiro e
militar a grupos radicais islâmicos
no Afeganistão que combatiam a
União Soviética (entre eles muitos
que depois se integrariam à Al
Qaeda).
(CELS)
Carlos Eduardo Lins da Silva, 51, jornalista, é diretor da Patri Relações Governamentais e Políticas Públicas
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