São Paulo, terça-feira, 06 de junho de 2006

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Abbas fará plebiscito que isola o Hamas

Após fracasso de negociação com grupo terrorista, presidente palestino deve convocar hoje votação sobre plano que reconhece Israel

Consulta popular terá como base documento elaborado por prisioneiros, que aceita a negociação com Israel e exige fronteiras pré-1967

DA REDAÇÃO

O presidente da Autoridade Nacional Palestina (ANP), Mahmoud Abbas, deverá convocar hoje um plebiscito pelo qual atropelaria o gabinete controlado pelo grupo islâmico Hamas e buscaria o reconhecimento implícito do direito de Israel à existência.
O jornal israelense "Haaretz" informou que Abbas se reuniu ontem à tarde com os responsáveis pela comissão eleitoral palestina para discutir a logística da consulta popular.
Pouco antes da meia-noite local (17h, em Brasília), Abbas reuniu as facções palestinas e afirmou que suas consultas com o Hamas terminaram em impasse e que não restava alternativa a não ser convocar a população às urnas.
Sua decisão foi relatada à Associated Press por Khalda Jara, um dos participantes do encontro e dirigente de um pequeno grupo laico menos influente.
No final da tarde, Abbas declarara que não recuaria do ultimato dado ao Hamas -majoritário no Parlamento e que desde janeiro controla o gabinete que governa Cisjordânia e Gaza-, para que aceitasse o plano de paz elaborado por prisioneiros palestinos de diferentes facções, que se encontram em presídios israelenses.
O plano propõe dois Estados vizinhos que se reconheçam mutuamente. O texto é rejeitado pelo Hamas, ainda partidário da "destruição" de Israel.
Pesquisas de opinião demonstraram nos últimos anos que, cansada do terrorismo e de conflitos, uma maioria expressiva de palestinos aceita reconhecer Israel em troca da paz. Se o Hamas perder o plebiscito, o governo majoritário em termos legislativos se verá minoritário entre os cidadãos.
O presidente e seu partido, o Fatah, tentaram aproximar suas posições em negociações que se prolongaram até ontem à tarde. Uma última rodada, prevista para a noite, foi cancelada em razão do impasse.
"Se alguém quiser emendar esse documento [do plano], não chegaremos a nenhum resultado", disse Abbas, depois de se encontrar com o chefe da diplomacia da União Européia, Javier Solana.
Assessores do presidente disseram que ele consultou juristas palestinos antes de redigir o decreto de convocação do plebiscito, que ocorrerá um mês depois da publicação do texto.
Além de colocar seus adversários internos numa posição difícil, o que o presidente da ANP procura é romper o embargo oficioso praticado pelos Estados Unidos, Israel e em parte pela União Européia, que consiste em não mais doar dinheiro à ANP enquanto o Hamas não renunciar abertamente ao terrorismo e não reconhecer os direitos israelenses.
O primeiro-ministro palestino e líder do grupo islâmico, Ismail Haniyeh, em entrevista à TV israelense, disse defender "a continuação do diálogo" com o presidente e disse que o ultimato por ele proposto "é uma espada pendurada em cima de nossos pescoços".
O porta-voz do Hamas, Sami Abu Zuhri, também rejeitou o ultimato. "Somos contra o plebiscito e não vamos aceitá-lo", afirmou ele.
A plataforma eleitoral do Hamas não priorizava a destruição de Israel. Valorizava a moralização da administração palestina, em meio a evidências de corrupção do governo anterior, controlado pelo Fatah.
Um dos líderes do Fatah, Azam Ahmad, disse que o plebiscito "incrementaria a legitimidade de Abbas e daria a ele sinal verde para prosseguir nas negociações com Israel".
Afirmou também que Abbas convocaria novas eleições presidenciais e parlamentares, caso o Hamas não se curvasse ao resultado do plebiscito.
Confrontos entre o Hamas e o Fatah mataram 16 pessoas nas últimas semanas, cinco delas anteontem.


Com agências internacionais


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