São Paulo, quinta-feira, 06 de julho de 2000


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PROCESSO DE PAZ
Reunião em Camp David na semana que vem pode ser a última chance de evitar confrontos devido a impasse
EUA anunciam cúpula israelo-palestina

Reuters
Manifestantes carrega cartaz em que Barak entrega a chave de Jerusalém para Arafat


PHIL REEVES
DO "THE INDEPENDENT", EM GAZA

O presidente Bill Clinton anunciou ontem o que parece ser a última chance de transpor as grandes divergências que ainda separam Israel e palestinos: uma cúpula de paz, a ser realizada na semana que vem, em Camp David (EUA).
A notícia produziu uma reação política instantaneamente em Israel. Natan Sharansky, ministro do Interior, renunciou em protesto contra a cúpula.
O encontro acontece apenas nove semanas antes da data fixada como prazo final para um acordo de paz. O presidente da Autoridade Nacional Palestina, Iasser Arafat, ameaçou declarar um Estado independente unilateralmente, se necessário.
O processo de paz atravessa um momento delicado, com ameaças e contra-ameaças de ambos os lados. Os israelenses disseram que anexariam assentamentos da Cisjordânia se Arafat declarasse um Estado sem um acordo. E os palestinos estão cada vez mais frustrados com a incapacidade do premiê israelense, Ehud Barak, de implementar acordos anteriores, incluindo uma terceira retirada de territórios ocupados, que já deveria ter ocorrido.
Fortalece-se a previsão de choques violentos. Clinton disse ontem que palestinos e israelenses atingiram um impasse, após sete anos de negociações. Não há, segundo ele, garantias de sucesso, mas ele parecia surpreendentemente otimista, para alguém que tem acompanhado as negociações. Ele quer um acordo antes de deixar a Presidência. "Se trabalharmos duro, podemos consegui-lo em poucos dias", afirmou.
Durante dias, Arafat se manifestou contrário à realização da cúpula em Camp David, afirmando que ela estava fadada ao fracasso.
Depois do embaraço com o fracasso de uma reunião, em março, com o presidente sírio Hafez al Assad, morto no mês passado, os norte-americanos não vão permitir que o evento não produza resultados. A questão é: que resultados eles vão obter?
Os israelenses devem finalmente entregar à ANP o controle total de Abu Dis, cidade próxima a Jerusalém. A transferência da localidade para os palestinos havia sido aprovada pelo Parlamento israelense. Os israelenses querem que os palestinos a aceitem como sua capital, o que parece totalmente fora da realidade. Isso pode ter contribuído para o afastamento de Sharansky, que deixa a coalização de Barak ainda mais fraca.
Israel também pode libertar alguns prisioneiros e completar a terceira retirada, que havia sido adiada, da Cisjordânia. Mas há ainda outros vários assuntos que precisam ser resolvidos, incluindo a porcentagem da Cisjordânia em que Arafat poderá criar o Estado palestino.
Os palestinos citam repetidamente a resolução 242 da ONU (Organização das Nações Unidas), que pede a retirada total dos territórios ocupados.
Acredita-se, no entanto, que eles estejam preparados para aceitar menos. A maioria espera ao menos 90%, o que permitiria que Barak conservasse o grosso dos assentamentos judaicos e seus moradores extremistas sob controle de Israel.
Há também muitas divergências em relação ao destino dos mais de 3,5 milhões de refugiados palestinos, ao controle da água e das fronteiras e ao desejo israelense de manter o controle de parte do vale do Jordão. Mas a principal questão -que parece impossível de ser resolvida até o dia 13 de setembro- é o destino de Jerusalém. Qualquer acordo será, com certeza, incompleto e deve adiar as negociações desse assunto explosivo para uma outra data. Ontem, os israelenses anunciaram sua satisfação com a realização da cúpula. "Vamos fazer o melhor possível para obtermos um acordo antes do dia 13", afirmou Barak.
Os palestinos se mostraram muito mais sombrios. O negociador palestino Ahmad Qorei declarou que não havia consenso em nenhum assunto.
"Barak quer se sentar com Arafat e esclarecer todos os problemas de A a Z", disse um palestino. "Barak está jogando pôquer e tem as melhores cartas." Segundo ele, deve haver uma "declaração de princípios", que incluiria a aceitação israelense de um Estado palestino. Arafat quer que essa declaração faça referência à resolução 242.
Os acontecimentos de ontem sugerem, de maneira clara, que a ameaça de Arafat de declarar um Estado unilateralmente era pura tática, parcialmente para forçar Barak a implementar acordos prévios e parcialmente para preparar os palestinos para mais concessões. Mas o anúncio foi levado a sério nas ruas palestinas, que estão repletas de frustração com o processo de paz e com o desempenho do governo palestino.
Muitos palestinos receberam a promessa de um Estado com satisfação e vão ficar furiosos se a declaração for adiada mais uma vez.
Outros compreendem, no entanto, que um Estado cujas fronteiras são controladas por Israel, além do fornecimento de luz e água, não é um Estado de fato. Esse grupo deu boas-vindas à cúpula nos EUA.
Há assuntos que os israelenses não podem resolver, como a corrupção na Autoridade Nacional Palestina e nos serviços de segurança.
De acordo com Raji Sourani, diretor do Centro Palestino para os Direitos Humanos em Gaza, jornais que questionam o governo são constantemente fechados. Jornalistas que criticam a administração palestina podem ser presos. Sourani, advogado, diz que as autoridades palestinas controlam a maior parte dos negócios mais lucrativos.


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