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MÉXICO
O presidente eleito afirma que pretende resolver o impasse em Chiapas antes de assumir o cargo, em 1º de dezembro
Fox abre contato com guerrilha zapatista
DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS
O presidente eleito do México,
Vicente Fox, iniciou o envio de
mensagens aos guerrilheiros do
EZLN (Exército Zapatista de Libertação Nacional), grupo guerrilheiro que conta com o apoio dos
indígenas do Estado de Chiapas,
região mais pobre do país.
O objetivo, disse ele, é tentar solucionar o problema antes de assumir o governo, em 1º de dezembro. Nas eleições de domingo passado, Fox, do PAN (Partido da
Ação Nacional, de centro-direita),
derrotou o PRI (Partido Revolucionário Institucional), que estava
no poder havia 71 anos. Ele teve
cerca de 43% dos votos, contra
36% do candidato governista,
Francisco Labastida.
Fox disse que, se percebesse sinais de possibilidade de diálogo,
poderia retirar imediatamente
parte das tropas do Exército hoje
estacionadas em Chiapas.
O presidente eleito não detalhou o conteúdo das mensagens,
mas disse que a retirada do Exército é viável "sempre e quando
houver um processo sério de
acordos e resoluções que possam
levar a uma resolução total".
Opositores criticaram Fox durante a campanha, quando ele
afirmou que poderia resolver o
problema de Chiapas "em 15 minutos". Eleito, esclareceu que esse
seria o tempo de conversa com o
subcomandante Marcos, porta-voz do movimento, para reiniciar
o diálogo. Marcos mantém sua
identidade em segredo, mas supõe-se que seja o professor de sociologia Rafael Sebastian Guillen.
O EZLN inspira-se em Emiliano
Zapata, que, durante a Revolução
Mexicana (1910-1917), distribuiu
terras nas áreas sob seu controle.
Os zapatistas chamaram a atenção pública em 94, quando derrotaram o Exército mexicano e tomaram a capital do Estado, San
Cristóbal de las Casas.
Após o reinício das conversações com a guerrilha, segundo
Fox, os acordos serão enviados ao
Congresso. "E que aí a questão fique resolvida", disse.
Os zapatistas congelaram o diálogo no dia 30 de setembro de 96,
após acusar o governo do então
presidente, Ernesto Zedillo, de
não cumprir os acordos sobre direitos e culturas indígenas.
No último dia 13 de junho, Fox
anunciou compromisso de que,
desde o primeiro dia de seu governo, iria desarmar grupos paramilitares e que o Exército voltaria
a suas posições originais, anteriores à rebelião zapatista.
Afirmou também que vai convocar o zapatistas para uma reunião com o Executivo. Até ontem,
o EZLN não havia se pronunciado
sobre o resultado das eleições. Em
22 de junho, o movimento liberou
seus seguidores para decidir em
quem votar.
O subcomandante Marcos declarou seu apoio ao candidato
Cuauhtémoc Cárdenas, do Partido da Revolução Democrática, de
centro-esquerda.
A posição de Fox de se dispor a
dialogar com os guerrilheiros, no
entanto, atraiu votos de muitos
centro-esquerdistas.
O partido de Fox não terá maioria no Parlamento e precisará
aliar-se a outras legendas para levar adiante a iniciativa.
Ontem, Cárdenas rejeitou qualquer tipo de colaboração com o
governo de Fox. O candidato é
considerado um dos grandes perdedores das eleições de domingo.
É a terceira vez que ele concorre à
Presidência do país. Apoiado por
uma coalizão liderada pelo PRD,
conseguiu apenas 16% dos votos.
Apesar da derrota, Cárdenas
manteve um discurso triunfante e
ressaltou o papel de sua legenda
na derrota infligida ao PRI. Durante a campanha, ele se recusou
a formar uma frente de oposição
para derrotar Labastida.
O oposicionista rejeitou a oferta
feita por Fox ao PRI e à esquerda
de participar de seu governo.
"Não tenho nada que tratar com
ele", disse. O PRD praticamente
proibiu funcionários e simpatizantes do partido de colaborar
com a administração Fox.
Em reuniões internas, no entanto, não descarta estudar uma fórmula de negociar com Fox para
participar da transição.
Após a histórica derrota, o PRI
vive sua maior crise interna. Dirigentes que haviam renunciado a
seus postos após o anúncio dos
resultados do pleito de domingo
retomaram seus cargos ontem.
O partido sofre com um racha
entre a ala reformista, ligada ao
atual presidente, Ernesto Zedillo,
e os políticos tradicionais. Pela
primeira vez, a legenda perdeu a
maioria no Senado e não terá o
maior número de cadeiras na câmara baixa do Parlamento.
Entre os planos anunciados por
Fox ontem estão os de estimular a
inclusão do segundo turno no
processo eleitoral e de permitir
que os eleitores residentes nos
EUA, cerca de 10 milhões, votem.
Ele estabeleceu o combate à corrupção, ao crime e ao tráfico como prioridades.
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