São Paulo, quinta-feira, 06 de julho de 2000


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MÉXICO
O presidente eleito afirma que pretende resolver o impasse em Chiapas antes de assumir o cargo, em 1º de dezembro
Fox abre contato com guerrilha zapatista

DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

O presidente eleito do México, Vicente Fox, iniciou o envio de mensagens aos guerrilheiros do EZLN (Exército Zapatista de Libertação Nacional), grupo guerrilheiro que conta com o apoio dos indígenas do Estado de Chiapas, região mais pobre do país.
O objetivo, disse ele, é tentar solucionar o problema antes de assumir o governo, em 1º de dezembro. Nas eleições de domingo passado, Fox, do PAN (Partido da Ação Nacional, de centro-direita), derrotou o PRI (Partido Revolucionário Institucional), que estava no poder havia 71 anos. Ele teve cerca de 43% dos votos, contra 36% do candidato governista, Francisco Labastida.
Fox disse que, se percebesse sinais de possibilidade de diálogo, poderia retirar imediatamente parte das tropas do Exército hoje estacionadas em Chiapas.
O presidente eleito não detalhou o conteúdo das mensagens, mas disse que a retirada do Exército é viável "sempre e quando houver um processo sério de acordos e resoluções que possam levar a uma resolução total".
Opositores criticaram Fox durante a campanha, quando ele afirmou que poderia resolver o problema de Chiapas "em 15 minutos". Eleito, esclareceu que esse seria o tempo de conversa com o subcomandante Marcos, porta-voz do movimento, para reiniciar o diálogo. Marcos mantém sua identidade em segredo, mas supõe-se que seja o professor de sociologia Rafael Sebastian Guillen.
O EZLN inspira-se em Emiliano Zapata, que, durante a Revolução Mexicana (1910-1917), distribuiu terras nas áreas sob seu controle.
Os zapatistas chamaram a atenção pública em 94, quando derrotaram o Exército mexicano e tomaram a capital do Estado, San Cristóbal de las Casas.
Após o reinício das conversações com a guerrilha, segundo Fox, os acordos serão enviados ao Congresso. "E que aí a questão fique resolvida", disse.
Os zapatistas congelaram o diálogo no dia 30 de setembro de 96, após acusar o governo do então presidente, Ernesto Zedillo, de não cumprir os acordos sobre direitos e culturas indígenas.
No último dia 13 de junho, Fox anunciou compromisso de que, desde o primeiro dia de seu governo, iria desarmar grupos paramilitares e que o Exército voltaria a suas posições originais, anteriores à rebelião zapatista.
Afirmou também que vai convocar o zapatistas para uma reunião com o Executivo. Até ontem, o EZLN não havia se pronunciado sobre o resultado das eleições. Em 22 de junho, o movimento liberou seus seguidores para decidir em quem votar.
O subcomandante Marcos declarou seu apoio ao candidato Cuauhtémoc Cárdenas, do Partido da Revolução Democrática, de centro-esquerda.
A posição de Fox de se dispor a dialogar com os guerrilheiros, no entanto, atraiu votos de muitos centro-esquerdistas.
O partido de Fox não terá maioria no Parlamento e precisará aliar-se a outras legendas para levar adiante a iniciativa.
Ontem, Cárdenas rejeitou qualquer tipo de colaboração com o governo de Fox. O candidato é considerado um dos grandes perdedores das eleições de domingo. É a terceira vez que ele concorre à Presidência do país. Apoiado por uma coalizão liderada pelo PRD, conseguiu apenas 16% dos votos.
Apesar da derrota, Cárdenas manteve um discurso triunfante e ressaltou o papel de sua legenda na derrota infligida ao PRI. Durante a campanha, ele se recusou a formar uma frente de oposição para derrotar Labastida.
O oposicionista rejeitou a oferta feita por Fox ao PRI e à esquerda de participar de seu governo. "Não tenho nada que tratar com ele", disse. O PRD praticamente proibiu funcionários e simpatizantes do partido de colaborar com a administração Fox.
Em reuniões internas, no entanto, não descarta estudar uma fórmula de negociar com Fox para participar da transição.
Após a histórica derrota, o PRI vive sua maior crise interna. Dirigentes que haviam renunciado a seus postos após o anúncio dos resultados do pleito de domingo retomaram seus cargos ontem.
O partido sofre com um racha entre a ala reformista, ligada ao atual presidente, Ernesto Zedillo, e os políticos tradicionais. Pela primeira vez, a legenda perdeu a maioria no Senado e não terá o maior número de cadeiras na câmara baixa do Parlamento.
Entre os planos anunciados por Fox ontem estão os de estimular a inclusão do segundo turno no processo eleitoral e de permitir que os eleitores residentes nos EUA, cerca de 10 milhões, votem.
Ele estabeleceu o combate à corrupção, ao crime e ao tráfico como prioridades.


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