São Paulo, sábado, 06 de julho de 2002

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ANÁLISE

Plano sugere mudança na política para o Oriente Médio

PATRICK E. TYLER
DO "THE NEW YORK TIMES"

A pressão exercida sobre o Pentágono para que produza um plano de guerra contra o Iraque realça o fato de que nem a diplomacia nem operações sigilosas foram capazes de derrubar o ditador Saddam Hussein ou obrigá-lo a autorizar a entrada de inspetores da ONU para procurar armas de destruição em massa no país.
O surgimento de uma proposta detalhada para um ataque militar contra o Iraque também sugere que a nova abordagem proposta pelo governo Bush à solução do conflito entre Israel e os palestinos talvez faça parte de uma nova abordagem regional, segundo a qual o foco de atenção seria deslocado para os preparativos para a campanha contra o Iraque.
Bush foi informado sobre o estado atual dos planos de guerra em 19 de junho, pelo general de mais alto escalão do Comando Central dos EUA, Tommy R. Franks. Cinco dias mais tarde, o presidente fez seu longamente aguardado discurso sobre o Oriente Médio, convocando os palestinos a descartar o líder Iasser Arafat e avisando que, se não o fizerem, não poderão esperar muito apoio dos EUA.
O discurso congelou, na prática, o esforço de mediação americano no Oriente Médio. A situação atual reflete a visão dos assessores mais conservadores do presidente -entre eles o vice-presidente Dick Cheney e o ministro da Defesa Donald Rumsfeld-, para os quais o conflito israelo-palestino não representa uma ameaça estratégica aos interesses americanos no Oriente Médio, o que seria o caso do interesse do Iraque em desenvolver armas de destruição em massa.
As evidências de que Saddam ainda possua tais armas são poucas e obscuras, especialmente na opinião dos aliados dos EUA na Europa, a maioria dos quais já se manifestou inequivocamente contra um novo ataque ao país.
Nos EUA, entretanto, e em seu principal aliado no Oriente Médio, Israel, vários políticos de alto escalão -incluindo o premiê israelense, Ariel Sharon, e o ex-premiê Ehud Barak- acreditam que um Iraque pós-Saddam poderia ser transformado numa forma de democracia.
De acordo com essa visão, um Iraque sob novo governo poderia transformar-se num novo aliado do Ocidente, ajudando a reduzir a dependência americana das bases situadas na Arábia Saudita, a garantir a segurança do flanco oriental de Israel e a atuar como separador entre o Irã e a Síria, dois dos países que mais ativamente patrocinam o terrorismo.
Os obstáculos, riscos e custos dessa estratégia ainda não foram, em sua maioria, analisados a fundo pela administração Bush, e seu planejamento para qualquer guerra eventual está cercado de sigilo profundo.


Tradução de Clara Allain


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