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ANÁLISE
Plano sugere mudança na política para o Oriente Médio
PATRICK E. TYLER
DO "THE NEW YORK TIMES"
A pressão exercida sobre o Pentágono para que produza um plano de guerra contra o Iraque realça o fato de que nem a diplomacia
nem operações sigilosas foram
capazes de derrubar o ditador
Saddam Hussein ou obrigá-lo a
autorizar a entrada de inspetores
da ONU para procurar armas de
destruição em massa no país.
O surgimento de uma proposta
detalhada para um ataque militar
contra o Iraque também sugere
que a nova abordagem proposta
pelo governo Bush à solução do
conflito entre Israel e os palestinos talvez faça parte de uma nova
abordagem regional, segundo a
qual o foco de atenção seria deslocado para os preparativos para a
campanha contra o Iraque.
Bush foi informado sobre o estado atual dos planos de guerra
em 19 de junho, pelo general de
mais alto escalão do Comando
Central dos EUA, Tommy R.
Franks. Cinco dias mais tarde, o
presidente fez seu longamente
aguardado discurso sobre o
Oriente Médio, convocando os
palestinos a descartar o líder Iasser Arafat e avisando que, se não o
fizerem, não poderão esperar
muito apoio dos EUA.
O discurso congelou, na prática,
o esforço de mediação americano
no Oriente Médio. A situação
atual reflete a visão dos assessores
mais conservadores do presidente -entre eles o vice-presidente
Dick Cheney e o ministro da Defesa Donald Rumsfeld-, para os
quais o conflito israelo-palestino
não representa uma ameaça estratégica aos interesses americanos no Oriente Médio, o que seria
o caso do interesse do Iraque em
desenvolver armas de destruição
em massa.
As evidências de que Saddam
ainda possua tais armas são poucas e obscuras, especialmente na
opinião dos aliados dos EUA na
Europa, a maioria dos quais já se
manifestou inequivocamente
contra um novo ataque ao país.
Nos EUA, entretanto, e em seu
principal aliado no Oriente Médio, Israel, vários políticos de alto
escalão -incluindo o premiê israelense, Ariel Sharon, e o ex-premiê Ehud Barak- acreditam que
um Iraque pós-Saddam poderia
ser transformado numa forma de
democracia.
De acordo com essa visão, um
Iraque sob novo governo poderia
transformar-se num novo aliado
do Ocidente, ajudando a reduzir a
dependência americana das bases
situadas na Arábia Saudita, a garantir a segurança do flanco
oriental de Israel e a atuar como
separador entre o Irã e a Síria, dois
dos países que mais ativamente
patrocinam o terrorismo.
Os obstáculos, riscos e custos
dessa estratégia ainda não foram,
em sua maioria, analisados a fundo pela administração Bush, e seu
planejamento para qualquer
guerra eventual está cercado de sigilo profundo.
Tradução de Clara Allain
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