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NO MEIO DO MANDATO
Presidente não cumpre promessas eleitorais e pode continuar sem maioria após pleito parlamentar de hoje
México vai às urnas frustrado com Fox
OTÁVIO DIAS
DA REDAÇÃO
O presidente do México, Vicente Fox, 61, que se aproxima da metade do mandato sem cumprir
suas principais promessas de
campanha, passa por importante
teste nas urnas hoje, quando serão renovadas as 500 cadeiras da
Câmara dos Deputados, além de
parte dos governos e prefeituras.
Levado ao poder numa eleição
histórica em julho de 2000, que
encerrou 71 anos de governo do
PRI (Partido Revolucionário Institucional), Fox gerou euforia no
México com seu estilo de empresário bem-sucedido que iria trazer desenvolvimento e acabar
com os privilégios e a corrupção.
Passados três anos, o governista
PAN (Partido da Ação Nacional,
centro-direita) não deverá, mais
uma vez, obter uma maioria,
comprometendo as perspectivas
dos últimos três anos do mandato
presidencial, que vai até 2006.
"O que está em jogo é o que poderá ou não fazer o presidente na
segunda metade de seu mandato", disse à Folha Jorge Castañeda, chanceler de Fox do início do
governo até janeiro passado (leia
entrevista na página seguinte).
Mais: o PRI, principal partido
de oposição, tem chance de manter sua atual vantagem em relação
ao PAN na Câmara dos Deputados. Não haverá votação para o
Senado, onde o PRI lidera por
uma margem um pouco maior.
Segundo pesquisas de 27 de junho, último dia de divulgação, nenhum dos três principais partidos
-PRI, PAN e PRD- deve obter
maioria (para a qual, por conta do
sistema mexicano, seriam necessários ao menos 43% dos votos).
De acordo com o jornal "El Universal", o PAN teria 36,3% das intenções de voto, contra 33,7% para o PRI e 18,7% para o PRD (com
margem de erro de 3,1 pontos
percentuais). Já a Consulta Mitofsky dá ligeira vantagem para o
PRI, com 35,9%, contra 32,8% para o PAN e 20,8% para o PRD
(margem de erro de 4,5).
Na campanha, Fox prometeu
renovar a política, promover um
crescimento econômico de 7%,
criar empregos e assinar um acordo com os EUA para regularizar a
situação de milhões de imigrantes
ilegais mexicanos. Dois anos e sete meses após a posse, ele sente o
cheiro do fracasso.
Apesar de alguns bons resultados macroeconômicos (inflação e
juros na faixa dos 4% ao ano, reservas acima dos US$ 55 bilhões),
a economia quase não cresceu, o
acordo com os EUA não saiu e a
população começa a solidificar a
imagem de um presidente honesto e bem intencionado, mas que
não tem as rédeas do país.
Fox está sendo obrigado a conviver com uma Câmara dos Deputados na qual o PRI tem 207 deputados, contra 202 do PAN. A
terceira maior agremiação, o PRD
(Partido da Revolução Democrática, centro-esquerda), tem 56.
Resultado: o México vive uma
paralisia, e as reformas fiscal, trabalhista e do setor elétrico -propostas por Fox e vistas por diversos setores como essenciais para o
crescimento- não avançaram.
Diante da importância de obter
uma maioria na Câmara, o presidente, que tem um percentual de
aprovação pessoal de 63,5%, realizou uma intensa campanha publicitária de sua gestão. Nas últimas semanas, estrelou anúncios
nos quais instava o eleitor a votar.
A oposição reclamou, e a campanha foi tirada do ar por pressão do
Instituto Federal Eleitoral.
Seu partido também tentou
sensibilizar a população para a
necessidade de dar maioria ao governo com a frase "Remova o
freio da mudança". Mas os esforços parecem ter sido em vão.
Se as pesquisas de opinião se
confirmarem, Fox não obterá
uma maioria que viabilize uma virada. E estará diante de um dilema: ou parte para a negociação
com seus adversários políticos ou
corre o risco de ver seu governo
fracassar, o que seria uma grande
frustração para a jovem democracia mexicana.
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