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São Paulo, domingo, 06 de julho de 2003

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Crise nos EUA e divisão interna freiam economia

DA REDAÇÃO

"Má sorte" e excessiva dependência dos EUA no plano externo. Falta de maioria e de competência política no plano interno. Essas são as explicações, a grosso modo, para os resultados insatisfatórios do governo Vicente Fox até agora.
Má sorte porque sua chegada ao poder, em dezembro de 2000, coincidiu com uma brusca desaceleração da economia dos EUA, destino de cerca de 90% das exportações mexicanas. O PIB mexicano, que havia crescido 6,57% em 2000, caiu 0,31% no ano seguinte e cresceu apenas 0,9% em 2002. Neste ano, crescerá no máximo 2,3%. Fox prometera 7%.
Além disso, o 11 de Setembro tirou o México do centro das prioridades externas do governo George W. Bush, adiando a assinatura de um acordo migratório.
Sem contar com a "ajuda" dos EUA, a economia mexicana ficou dependente do mercado interno e de seus próprios recursos. As reformas estruturais tornaram-se fundamentais para dar ao governo maior capacidade de investir e à economia mais dinamismo.
Logo no início, Fox propôs uma reforma fiscal -o México possui uma carga tributária equivalente a cerca de 18% do PIB, metade da brasileira. Minoritário no Congresso, o presidente não se mostrou um bom operador político para negociar e aprovar o projeto.
Também não teve êxito em realizar as reformas trabalhista e do setor elétrico. "Sem as reformas, sobrou muito pouco para o governo realizar gastos sociais e investir", disse Lorenzo Meyer, 61, professor de história política mexicana no Colégio do México.
Na macroeconomia, alguns indicadores vão bem. Tanto a inflação quanto a taxa de juros básica estão na faixa dos 4% anuais. As reservas estão acima dos US$ 55 bilhões, e o déficit fiscal, em 2003, deverá ficar abaixo de 1%. Mas crescem as pressões para que Fox adote medidas não tão ortodoxas para aquecer a economia.
De onde viriam os recursos? O maior empresário do país, Carlos Slim, sugeriu que parte das reservas em dólar seja usada em obras de infra-estrutura e na construção de moradias. Outros defendem um pouco mais de inflação e de déficit em prol de mais crescimento. Mas Fox tem repetido que não ouvirá "o canto das sereias".
Segundo pesquisa realizada em maio pela Consulta Mitofsky, a população tem visões contraditórias. Por um lado, 63,5% aprovam a maneira como Fox está governando, contra 33,7% que desaprovam. Em fevereiro de 2002 (após a recessão de 2001), a aprovação havia caído a 44,6% e a reprovação subido a 53,1%.
Por outro lado, 53,7% pensam que Fox está perdendo as rédeas do país, contra 35,1% que acham o contrário. Quanto à economia, 61,7% pensam que está pior do que há um ano; 34,7% acham que esteja melhor.
Resta lembrar os êxitos de Fox. Em primeiro lugar, ele protagonizou uma alternância de poder tranquila, tanto do ponto de vista econômico quanto da violência política, algo novo no país. E aprovou uma lei de transparência que exige que os gastos públicos estejam à disposição na internet.
Finalmente, os mexicanos consideram que Fox melhorou a imagem externa do país. E aprovaram sua decisão de não apoiar os EUA na invasão do Iraque no Conselho de Segurança da ONU. (OD)



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