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Máscaras, quarentena e repressão ajudaram a derrotar pneumonia
DA REDAÇÃO
No dia 30 de abril, os infectologistas Eduardo Massad e Marcelo
Burattini, da USP, mandaram para a revista "Nature" um artigo
científico contendo um exercício
de futurologia: o número de casos
de Sars em Hong Kong seria 320
mil no meio do ano se não fosse
adotada nenhuma medida de
controle. Com o uso de máscaras,
aventais, isolamento de pacientes
e medidas de higiene como lavar
as mãos, ficaria em 1.778.
Hong Kong teve a doença contida no mês seguinte, com 1.765 casos. "A curva é tão boa que o pessoal acha que a gente roubou",
afirma Burattini, referindo-se ao
modelo de computador montado
por ele e seu colega, com base nos
dados da OMS, para prever o
comportamento da Sars.
O modelo atesta que um desastre global com a pneumonia foi
evitado por meio de medidas simples. "Não houve vacinas ou remédios. Identificando casos por
vigilância, isolando pacientes,
buscando as pessoas que estiveram em contato com esses casos e
pondo essas pessoas de quarentena é que os países se livraram do
surto", diz David Heymann.
"O uso de máscaras, o isolamento e a lavagem de mãos reduziram a intensidade da transmissão em 75%. Isso dá 3 em cada 4
casos", diz Burattini.
E, se as autoridades chinesas
não tivessem demorado tanto para notificar o surto (surgido em 16
de novembro na Província de
Guangdong), a doença poderia
ter tido o mesmo destino da "gripe da galinha", de 1997: ser erradicada antes de cruzar fronteiras.
Se a omissão inicial do governo
chinês ajudou a espalhar a epidemia, sua posterior repressão
-com ameaças de morte a quem
fugisse à quarentena-, também
ajudou a contê-la. "Eles fecharam
escolas, hospitais, tudo ficou de
quarentena, sem ter necessariamente uma justificativa epidemiológica. E parece que funcionou", disse à revista eletrônica
"The Scientist" o médico James
Mackenzie, da OMS, que visitou
Guangdong em março.
Segundo David Heymann, a
China conseguiu estabelecer um
sistema de vigilância "confiável"
no país. "Eles viram que deveriam
fazer algo, ou as repercussões econômicas seriam grandes."
O chefe de doenças transmissíveis da OMS diz não saber, no entanto, se os chineses foram ajudados pelo fato de o vírus da Sars
não ser tão transmissível -diferentemente do vírus da gripe, ele
não passa pelo ar-, ou porque a
Sars é uma doença sazonal. "É
uma questão que teremos de responder no próximo ano."
(CA)
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