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VENEZUELA
Partido de Lula enviará delegação para dar solidariedade ao presidente; para oposição venezuelana, ato é "irresponsável"
PT anuncia apoio a Chávez no plebiscito
FABIANO MAISONNAVE
DA REDAÇÃO
O presidente do PT, José Genoino, anunciou ontem que o partido do presidente Luiz Inácio Lula
da Silva enviará uma delegação a
Caracas para entregar uma carta
de apoio ao presidente Hugo Chávez, às vésperas de um plebiscito
que pode tirá-lo do poder. A oposição venezuelana disse que é
uma ingerência em assuntos internos. E a oposição brasileira
aproveitou para criticar: "É uma
iniciativa estudantil", disse o senador tucano Arthur Virgílio
(AM).
"No âmbito da América Latina,
o PT se congratula com a decisão
democrática do governo da Venezuela de implementar o referendo
e manifesta ainda a convicção de
que a vitória do governo representará a consolidação da democracia e a ampliação das conquistas sociais do povo venezuelano",
diz a nota do Diretório Nacional
do PT, divulgada ontem.
Na verdade, quem aprovou a
realização do plebiscito de 15 de
agosto foi o Conselho Nacional
Eleitoral (CNE), órgão máximo
do Poder Eleitoral -criado pela
Constituição de 1999 e independente dos Poderes Executivo e Judiciário. Para a realização do plebiscito, a oposição conseguiu coletar assinaturas de mais de 20%
do eleitorado, conforme determina a Constituição.
"Não estamos fazendo nenhuma crítica nem juízo de valor à
oposição. Estamos manifestando
a simpatia política pela vitória do
governo, para ser muito franco",
disse Genoino à Folha.
Na semana que vem, a nota do
PT deve ser entregue pessoalmente a Chávez por uma delegação
formada pelo deputado federal
Maurício Rands (PE), Marlene
Rocha, do Diretório Nacional, e
por João Felício, que é secretário-geral da CUT, mas representará a
Secretaria Sindical petista.
O anúncio do apoio petista a
Chávez foi criticado pelo deputado Timoteo Zambrano, um dos
principais líderes da Coordenação Democrática (CD, coalizão
oposicionista), que, no entanto,
elogiou Lula.
"É uma irresponsabilidade desse partido se meter nos assuntos
internos de um país, onde existe
um conflito claramente estabelecido entre dois atores que tem sido resolvido pelos próprios venezuelanos", disse à Folha.
"Recomendo ao PT que se dedique aos gravíssimos problemas
que Lula enfrenta em vez de se envolver nos problemas internos da
Venezuela", disse. "Que eles venham para nos ver defendendo o
que defende Lula na Venezuela: a
institucionalidade democrática".
O líder oposicionista diz que o
PT apóia um governo que "viola
maciçamente os direitos humanos, assassina gente inocente portadora de uma bandeira nas ruas
de Caracas, militariza a vida nacional, manipula a Justiça e a usa
como uma arma política contra
seus opositores, tem presos políticos e viola a liberdade sindical".
O governo Chávez, que sofreu
uma frustrada tentativa de golpe
de Estado por parte da oposição
em abril de 2002, tem negado todas essas acusações e vem denunciando novos planos golpistas.
Zambrano elogiou o Grupo de
Amigos da Venezuela, criado no
ano passado por iniciativa de Lula
para ajudar a OEA (Organização
dos Estados Americanos) a negociar uma saída para crise política
venezuelana, que já provocou dezenas de mortos.
O grupo, por outro lado, tem recebido duras críticas de chavistas
por incluir os EUA, país acusado
de envolvimento no golpe de
2002. Os demais países são México, Chile, Espanha e Portugal.
Para o senador Virgílio, que
participa da Comissão de Relações Exteriores do Senado, a iniciativa petista faz parte da "tentativa megalomaníaca de Lula de se
tornar um líder terceiro-mundista e enfrentar os EUA".
"Não dá para separar PT do governo. Você não viu o escândalo
do Porcão?", disse, em referência
à compra de ingressos feita pelo
Banco do Brasil para um show de
arrecadação de fundos do PT.
Para Genoino, não se trata de
ingerência interna: "O partido pode ter opinião sobre uma questão
política sem intromissão", disse.
"Nós estamos saudando o governo por ter convocado o plebiscito e se submetido a um referendo", afirmou, repetindo o erro da
nota petista. "Um governo que faz
um referendo, se submete e ganha
é porque tem legitimidade."
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