São Paulo, sexta-feira, 06 de agosto de 2004

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VENEZUELA

Partido de Lula enviará delegação para dar solidariedade ao presidente; para oposição venezuelana, ato é "irresponsável"

PT anuncia apoio a Chávez no plebiscito

FABIANO MAISONNAVE
DA REDAÇÃO

O presidente do PT, José Genoino, anunciou ontem que o partido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva enviará uma delegação a Caracas para entregar uma carta de apoio ao presidente Hugo Chávez, às vésperas de um plebiscito que pode tirá-lo do poder. A oposição venezuelana disse que é uma ingerência em assuntos internos. E a oposição brasileira aproveitou para criticar: "É uma iniciativa estudantil", disse o senador tucano Arthur Virgílio (AM).
"No âmbito da América Latina, o PT se congratula com a decisão democrática do governo da Venezuela de implementar o referendo e manifesta ainda a convicção de que a vitória do governo representará a consolidação da democracia e a ampliação das conquistas sociais do povo venezuelano", diz a nota do Diretório Nacional do PT, divulgada ontem.
Na verdade, quem aprovou a realização do plebiscito de 15 de agosto foi o Conselho Nacional Eleitoral (CNE), órgão máximo do Poder Eleitoral -criado pela Constituição de 1999 e independente dos Poderes Executivo e Judiciário. Para a realização do plebiscito, a oposição conseguiu coletar assinaturas de mais de 20% do eleitorado, conforme determina a Constituição.
"Não estamos fazendo nenhuma crítica nem juízo de valor à oposição. Estamos manifestando a simpatia política pela vitória do governo, para ser muito franco", disse Genoino à Folha.
Na semana que vem, a nota do PT deve ser entregue pessoalmente a Chávez por uma delegação formada pelo deputado federal Maurício Rands (PE), Marlene Rocha, do Diretório Nacional, e por João Felício, que é secretário-geral da CUT, mas representará a Secretaria Sindical petista.
O anúncio do apoio petista a Chávez foi criticado pelo deputado Timoteo Zambrano, um dos principais líderes da Coordenação Democrática (CD, coalizão oposicionista), que, no entanto, elogiou Lula.
"É uma irresponsabilidade desse partido se meter nos assuntos internos de um país, onde existe um conflito claramente estabelecido entre dois atores que tem sido resolvido pelos próprios venezuelanos", disse à Folha.
"Recomendo ao PT que se dedique aos gravíssimos problemas que Lula enfrenta em vez de se envolver nos problemas internos da Venezuela", disse. "Que eles venham para nos ver defendendo o que defende Lula na Venezuela: a institucionalidade democrática".
O líder oposicionista diz que o PT apóia um governo que "viola maciçamente os direitos humanos, assassina gente inocente portadora de uma bandeira nas ruas de Caracas, militariza a vida nacional, manipula a Justiça e a usa como uma arma política contra seus opositores, tem presos políticos e viola a liberdade sindical".
O governo Chávez, que sofreu uma frustrada tentativa de golpe de Estado por parte da oposição em abril de 2002, tem negado todas essas acusações e vem denunciando novos planos golpistas.
Zambrano elogiou o Grupo de Amigos da Venezuela, criado no ano passado por iniciativa de Lula para ajudar a OEA (Organização dos Estados Americanos) a negociar uma saída para crise política venezuelana, que já provocou dezenas de mortos.
O grupo, por outro lado, tem recebido duras críticas de chavistas por incluir os EUA, país acusado de envolvimento no golpe de 2002. Os demais países são México, Chile, Espanha e Portugal.
Para o senador Virgílio, que participa da Comissão de Relações Exteriores do Senado, a iniciativa petista faz parte da "tentativa megalomaníaca de Lula de se tornar um líder terceiro-mundista e enfrentar os EUA".
"Não dá para separar PT do governo. Você não viu o escândalo do Porcão?", disse, em referência à compra de ingressos feita pelo Banco do Brasil para um show de arrecadação de fundos do PT.
Para Genoino, não se trata de ingerência interna: "O partido pode ter opinião sobre uma questão política sem intromissão", disse.
"Nós estamos saudando o governo por ter convocado o plebiscito e se submetido a um referendo", afirmou, repetindo o erro da nota petista. "Um governo que faz um referendo, se submete e ganha é porque tem legitimidade."


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