|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Para Cristina, Argentina tem de se abrir
Candidata à Presidência diz que, após ter resolvido a questão da fome da população, país deve "voltar a estar no mundo"
Mulher do atual presidente argentino diz ainda que governo de Hugo Chávez, que chega hoje a Buenos Aires, é muito militarizado
RODRIGO RÖTZSCH
DE BUENOS AIRES
Um dia antes da visita de Hugo Chávez a Buenos Aires, o
jornal "La Nación" publicou
ontem entrevista da primeira-dama e candidata à Presidência, Cristina Fernández de
Kirchner, em que deu sinais de
que pretende conduzir a política externa de maneira distinta
a de seu marido.
"A Argentina tem de voltar a
estar no mundo. Quando precisávamos resolver a fome de
muitos argentinos, a política
externa foi para o segundo plano e tivemos que viver um pouco fechados. Isso já passou."
Em seu governo, Néstor
Kirchner tem se concentrado
sobretudo nas relações com a
Venezuela e com a Espanha.
O discurso de Cristina condiz
com sua estratégia de campanha. Desde o início do ano, ela
atuou mais no cenário internacional do que internamente.
Sem Kirchner, fez viagens a
Equador, Venezuela, México,
França, EUA e Espanha.
Antes das eleições de outubro, deve visitar a Alemanha e o
Brasil, em datas a definir.
Chávez e a democracia
Na entrevista ao diário portenho, Cristina também teceu
elogios e críticas a Hugo Chávez. Ela explicou a defesa que
havia feito do venezuelano em
sua recente visita à Espanha.
"Eu disse na Europa que eles
convivem com Putin [presidente da Rússia], embora ele
seja acusado de ter matado
uma jornalista e um dissidente.
Chávez não fez isso. E eu disse
que Chávez era tão necessário
para a matriz energética da
América Latina como Putin o é
para a da Europa", afirmou.
Mas criticou o estilo do venezuelano: "Foi eleito democraticamente, mas sua gestualidade
não faz bem para a imagem internacional da democracia de
seu país". Também disse que
seu governo é muito militarizado. "Não é bom envolver militares em um sistema de partidos
ou em correntes ideológicas."
As declarações da primeira-dama dão a linha do que analistas esperam que seja a atitude
de seu governo em relação a
Chávez: manter a relação estratégica dos pontos de vista energético e econômico, mas afastar-se no campo ideológico.
O primeiro sinal dessa nova
política será visível na visita de
hoje: a Presidência recomendou aos movimentos sociais
que não façam grandes manifestações pró-Chávez para não
assustar os investidores americanos que participarão amanhã
de uma reunião do Conselho
das Américas, na capital.
É uma atitude muito diferente da que teve Kirchner em
março, quando pôs à disposição
de Chávez um estádio, para comandar um ato contra George
W. Bush, então no Uruguai.
Texto Anterior: Chávez agora diz que "pode esperar" por Mercosul Próximo Texto: Blindagem de carros cresce no governo Kirchner Índice
|