São Paulo, segunda-feira, 06 de agosto de 2007

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Para Cristina, Argentina tem de se abrir

Candidata à Presidência diz que, após ter resolvido a questão da fome da população, país deve "voltar a estar no mundo"

Mulher do atual presidente argentino diz ainda que governo de Hugo Chávez, que chega hoje a Buenos Aires, é muito militarizado

RODRIGO RÖTZSCH
DE BUENOS AIRES

Um dia antes da visita de Hugo Chávez a Buenos Aires, o jornal "La Nación" publicou ontem entrevista da primeira-dama e candidata à Presidência, Cristina Fernández de Kirchner, em que deu sinais de que pretende conduzir a política externa de maneira distinta a de seu marido.
"A Argentina tem de voltar a estar no mundo. Quando precisávamos resolver a fome de muitos argentinos, a política externa foi para o segundo plano e tivemos que viver um pouco fechados. Isso já passou."
Em seu governo, Néstor Kirchner tem se concentrado sobretudo nas relações com a Venezuela e com a Espanha.
O discurso de Cristina condiz com sua estratégia de campanha. Desde o início do ano, ela atuou mais no cenário internacional do que internamente.
Sem Kirchner, fez viagens a Equador, Venezuela, México, França, EUA e Espanha.
Antes das eleições de outubro, deve visitar a Alemanha e o Brasil, em datas a definir.

Chávez e a democracia
Na entrevista ao diário portenho, Cristina também teceu elogios e críticas a Hugo Chávez. Ela explicou a defesa que havia feito do venezuelano em sua recente visita à Espanha. "Eu disse na Europa que eles convivem com Putin [presidente da Rússia], embora ele seja acusado de ter matado uma jornalista e um dissidente. Chávez não fez isso. E eu disse que Chávez era tão necessário para a matriz energética da América Latina como Putin o é para a da Europa", afirmou.
Mas criticou o estilo do venezuelano: "Foi eleito democraticamente, mas sua gestualidade não faz bem para a imagem internacional da democracia de seu país". Também disse que seu governo é muito militarizado. "Não é bom envolver militares em um sistema de partidos ou em correntes ideológicas."
As declarações da primeira-dama dão a linha do que analistas esperam que seja a atitude de seu governo em relação a Chávez: manter a relação estratégica dos pontos de vista energético e econômico, mas afastar-se no campo ideológico.
O primeiro sinal dessa nova política será visível na visita de hoje: a Presidência recomendou aos movimentos sociais que não façam grandes manifestações pró-Chávez para não assustar os investidores americanos que participarão amanhã de uma reunião do Conselho das Américas, na capital.
É uma atitude muito diferente da que teve Kirchner em março, quando pôs à disposição de Chávez um estádio, para comandar um ato contra George W. Bush, então no Uruguai.


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