São Paulo, sábado, 06 de setembro de 2008

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Oposição radicaliza ação contra Morales

Grupos contrários a presidente boliviano ocupam estação de compressão de gás em Tarija e atacam avião militar em Pando

Abastecimento na região é afetado, e Brasil já conversa com líderes "cívicos'; tensão piorou após referendo que ratificou governo e oposição


Gaston Brito/Reuters
O presidente da Bolívia, Evo Morales, dá entrevista em La Paz

FLÁVIA MARREIRO
DA REDAÇÃO

Dispostos a radicalizar suas ações contra o presidente Evo Morales, grupos oposicionistas na Bolívia multiplicaram invasões de prédios públicos pelo país, atacaram um avião militar em Pando (norte) e ocuparam uma estação de compressão de gás em Tarija (sul). Ante o cenário, o governo brasileiro já iniciou conversas com líderes opositores para conter as ameaças de cortes no envio do combustível ao Brasil.
Próximo à cidade de San Lorenzo, nos arredores da capital, Tarija, integrantes do comitê cívico local -que reúne empresários e comerciantes aliados dos governadores de oposição- ocuparam uma estação de compressão de gás.
Segundo rádios locais, os manifestantes não haviam alterado o fluxo de combustível à população tarijenha e à do departamento vizinho, Chuquisaca.
Foi a primeira invasão de uma instalação de gás desde que os líderes oposicionistas ameaçaram interromper sua distribuição, inclusive ao Brasil e à Argentina. Ontem, o chanceler brasileiro, Celso Amorim, disse que a Embaixada do Brasil em La Paz estava em contato com líderes da oposição e descartou que os manifestantes cumprissem suas ameaças. Seria "um tiro no pé", definiu.
O Brasil é o principal importador do gás do país -mais de 70% do que é comprado é destinado ao mercado paulista.
Oficialmente, a Petrobras não comenta a situação. Mas fontes diplomáticas afirmam que a empresa alugou helicópteros para, se preciso, transportar funcionários.
A avaliação geral, inclusive de consultorias internacionais do setor como o Eurasia Group, é a de que o risco concreto de uma interrupção em maior escala é remoto. Mas a Folha apurou que funcionários da estatal na Bolívia viram com apreensão a ocupação de ontem em San Lorenzo.
A petroleira também já sente um dos efeitos dos bloqueios de estradas -há pelo menos 20 pontos na região gasífera no sul (ver mapa) onde está bloqueado o transporte de diesel e comida, sobretudo para Tarija e Santa Cruz. Em pelo menos um dos dois megacampos que extraem gás, os funcionários da Petrobras têm usado um desvio para chegar ao trabalho.

Radicalização e avião
A ação em San Lorenzo contribuiu para intensificar a guerra de nervos e a sensação de que o governo nacional não controla inteiramente os departamentos governados pela oposição (Pando, Beni, Tarija e Chuquisaca e Santa Cruz).
Os governadores de oposição voltaram a intensificar seus protestos após o referendo de 10 de agosto, quando tanto Morales quanto eles foram ratificados em seus cargos.
O presidente obteve 67,4% dos votos, com grande aprovação até nas regiões opositoras, e resolveu convocar para dezembro os referendos necessários para promulgar a nova Constituição -um deles limitará o tamanho de latifúndios, tema sensível nas férteis terras do leste. A oposição rejeita a Carta, aprovada por constituintes governistas no ano passado.
Por envolver militares, o ataque em Cobija também ganhou destaque nas rádios locais. Na cidade, capital de Pando, um grupo atacou um avião do Exército e fez três tripulantes, um deles um general, reféns por uma hora. Segundo a rádio local Erbol, Morales convocou uma reunião com o gabinete e a cúpula das Forças Armadas. O governo não confirmou, mas anunciou o fechamento do aeroporto da cidade.

Com agências internacionais e a Sucursal de Brasília



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