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Milosevic pode buscar refúgio na Rússia ou na China
JOSÉLIA AGUIAR
DE LONDRES
"É o fim de Milosevic", afirmou
à Folha Christopher Cviic, especialista em Bálcãs do Royal Institute of International Affairs, em
Londres. "É o fim do último regime comunista da Europa."
Para o professor Cviic, que é de
origem iugoslava e autor do livro
"Remaking the Balkans" (Refazendo os Bálcãs), não havia mais
como o líder sérvio lutar para
continuar no poder.
"As Forças Armadas se recusaram a entrar no conflito, não reagiram à pressão da oposição. O
Ocidente se mostrou favorável a
sua renúncia e à vitória de Vojislav Kostunica. Não havia mais o
que fazer."
Na noite de ontem, em Belgrado, capital iugoslava, houve rumores de que Slobodan Milosevic
e sua família teriam deixado o
país. Três aviões militares deixaram um aeroporto perto de Belgrado, mas não estava claro quem
fazia parte da tripulação.
Surpresa
A professora Mary Kaldor, da
London School of Economics and
Political Science, disse que a reação da oposição ontem -que
ocupou o Parlamento depois do
anúncio de que as eleições do último dia 24 de setembro seriam
canceladas- foi uma surpresa
para o líder sérvio.
"Foi tudo muito rápido. Ele
simplesmente não pôde acreditar
no que acontecia", afirmou Kaldor, que é também especialista na
região.
Durante o dia, Kaldor disse à
Folha que a renúncia de Milosevic
era uma "questão de tempo, mas
não muito tempo".
"Nos últimos dias, Milosevic
tentava desesperadamente ficar
no poder, mas ele não tinha mais
opções", acrescentou.
Fuga
O que vai acontecer a Milosevic
ainda é incerto.
Para Christopher Cviic, do Royal Institute of International Affairs, o líder sérvio teria como opções agora fugir para a Rússia, a
China ou o Iraque. "Mas será difícil, pois a Otan (Organização do
Tratado do Atlântico Norte, aliança militar ocidental) observa atentamente o que ocorre na Iugoslávia."
Milosevic poderia ainda, segundo o professor, escapar por terra
atravessando a Romênia, o que
também seria difícil.
Cviic afirmou que, se ficar no
país, Milosevic corre o risco de ter
o mesmo destino do líder romeno
Nicolae Ceausescu, que foi morto
com sua mulher, Elena, no Natal
de 1989, depois de 25 anos no poder.
Mary Kaldor, da LSE, também
acredita que, se não fugir, Milosevic corre risco de vida.
Além de Rússia e China, Kaldor
disse que um dos cenários possíveis é o líder sérvio escapar para a
Grécia.
Mais cauteloso, Jan Skaloud,
chefe do departamento de ciência
política da Universidade de Praga,
na República Tcheca, afirmou ontem que uma intervenção militar
não estava descartada, o que poderia afetar a estabilidade de toda
a região.
Novo governo
Vojislav Kostunica, que anunciou ontem que era o novo presidente da Iugoslávia, também é
um nacionalista, como Slobodan
Milosevic. Não esconde que deseja manter a Iugoslávia (formada
por Sérvia e Montenegro) unida.
Mas, segundo Mary Kaldor, seu
governo estará mais comprometido com a paz e a democracia.
"Não se trata de uma derrota do
nacionalismo. É uma derrota de
Milosevic, que perdeu as guerras
da Iugoslávia na última década",
avaliou Kaldor. De acordo com
ela, Kostunica também foi escolhido por causa de sua reputação e
por não estar envolvido em casos
de corrupção.
O professor Cviic disse que Kostunica deve agora "anunciar sua
proposta de paz com os vizinhos e
com as minorias (os albaneses de
Kosovo, por exemplo) e assumir a
liderança para reconstruir o país".
Cviic diz que, para isso, Kostunica conta neste momento com
apoio popular e a simpatia do
Ocidente e tem uma imagem mais
suave que a de Milosevic.
"Mas ele deve agir cuidadosamente, não poderá fazer mudanças muito radicais agora", acrescentou.
A depender da composição do
novo governo, Jan Skaloud, da
Universidade de Praga, afirma
que uma nova crise pode acontecer no país.
"Vamos ver quem formará o
novo governo. A depender de sua
composição, isso pode criar tensão novamente", disse à Folha, de
Praga.
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