São Paulo, segunda-feira, 06 de outubro de 2008

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Enquanto negocia, Morales planeja reeleição em 2009

Presidente boliviano retoma rodada de negociação com governadores de oposição

Governo pressiona por acordo final sobre Carta, pendente de referendo, que prevê eleições gerais e reeleição de presidente

DA REDAÇÃO

Diante de uma assembléia de apoiadores, o presidente da Bolívia, Evo Morales, anunciou seus planos: aprovar nos próximos dias no Congresso a convocação dos referendos que faltam para promulgar a nova Constituição e, como o texto prevê, convocar eleições gerais em junho de 2009, nas quais seria reeleito ao lado de um Legislativo também governista.
As declarações -que desenham um cenário de pesadelo para a oposição, que tenta ao menos adiá-lo- foram feitas anteontem em Oruro (oeste), horas antes de o presidente boliviano voltar a se reunir com os governadores de oposição.
Tanto os planos como o anúncio de Morales de que a nova Carta, aprovada por constituintes governistas em 2007, vigorará "por bem ou por mal" compõem o clima de pressão do Executivo para que a reunião com a oposição, que promoveu três semanas de violentos protestos contra o governo, fosse "definitiva".
Até o fechamento desta edição, autonomistas e o presidente seguiam reunidos na cidade de Cochambamba (centro), diante de facilitadores, entre eles os da Unasul (União de Nações Sul-Americanas). O porta-voz da Presidência, Ivan Canelas, definiu o andamento do encontro como "alentador".
No discurso do governo, a reunião era o prazo final para que os opositores aceitassem o acordo oferecido por Morales, que consiste no apoio dos oposicionistas à nova Constituição em troca da inclusão das autonomias pleiteadas pelos departamentos rebeldes, liderados pela rico bastião agrogasífero de Santa Cruz. Em negociação específica, o governo aceitou repor às regiões ao menos parte de um imposto sobre gás redirecionado para pagar pensões.
Já os autonomistas tentavam ganhar tempo e mostrar o encontro como apenas a retomada do diálogo, que começou em 18 de setembro e foi congelado pela própria oposição nesta semana, em repúdio à prisão de um opositor acusado pelo atentado contra o duto que transporta gás até o Brasil.
Durante a última semana, os oposicionistas, debilitados, avaliavam que seria difícil arrancar do governo mais mudanças na Carta, em temas como regime fundiário, apesar da forte pressão de suas bases nos departamentos.
Um dos referendos sobre o novo texto constitucional decidirá se a área-limite das fazendas será de 5.000 ha ou 8.000 ha. A Carta prevê ainda reeleição do presidente (uma só vez) e autonomia indígena, em igual hierarquia com as autonomias departamentais.
Os oposicionistas também avaliavam que, com ou sem acordo, o governo porá em marcha o plano de Morales de reeleição e domínio do Legislativo, animado pelos 67,4% de votos obtidos no referendo que o confirmou no cargo em agosto. Para tal, terá de aprovar no Senado, controlado pelo Podemos (direita), a convocação dos referendos da Carta.
O governo espera contar com o apoio de dissidentes, independentes e, se preciso, com a pressão dos movimentos sociais governistas, que já anunciaram que cercarão o prédio se as consultas não forem aprovadas em uma semana.


Com agências internacionais


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