São Paulo, segunda-feira, 06 de novembro de 2006

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Tribunal condena Saddam Hussein à morte

Defesa pode recorrer de sentença, que põe fim a quase 13 meses de julgamento tumultuado; execução, na forca, não foi marcada

Ditador que governou o Iraque entre 1979 e 2003 foi considerado culpado do massacre de 148 xiitas no povoado de Dujail em 1982

Faleh Kheiber-31.jan.200/Reuters
Saddam dispara para o ar em celebração; em 24 anos poder, ex-ditador reprimiu xiitas e curdos


DA REDAÇÃO

Um ano e 15 dias após o início de seu julgamento pela morte de 148 xiitas em 1982, o ex-ditador Saddam Hussein, 69, foi condenado ontem à forca pelo tribunal iraquiano que julga os crimes cometidos por seu regime nos 24 anos que esteve no poder. A sentença se refere à ordem do então ditador para matar homens e adolescentes no povoado xiita de Dujail, onde ele sofrera uma tentativa de assassinato. A defesa deve recorrer (leia texto abaixo).
"Vida longa ao povo! Vida longa à nação árabe! Morte a nossos inimigos", bradou Saddam ao ouvir a sentença lida pelo juiz-chefe, Raouf Rasheed Abdul Rahman, que tentou inutilmente acalmá-lo antes de mandar retirá-lo da corte, na Zona Verde, em Bagdá. "Abaixo os espiões", continuou, dedo em riste. "Deus é grande."
Durante o longo julgamento, dezenas de testemunhas depuseram sobre execuções sumárias e também sobre a prisão e tortura de famílias inteiras, além da expulsão dos xiitas de suas casas -crimes pelos quais o ex-ditador recebeu penas que somam 27 anos de prisão.
Com Saddam foram condenados à morte seu meio-irmão Barzam Ibrahim al Tikriti, chefe da polícia secreta do regime, e Awad al Bandar, que dirigia o tribunal revolucionário, incumbido de emitir as sentenças. Taha Yassin Ramadan, vice-presidente sob Saddam, recebeu prisão perpétua, e três dirigentes locais do partido Baath à época, 15 anos de prisão. Um quarto foi absolvido por falta de provas.
Paralelamente, Saddam é julgado desde agosto pela morte de dezenas de milhares de curdos nos anos 80, e a acusação reúne provas sobre outros sete crimes (veja quadro ao lado).

Julgamento conturbado
A sentença, anunciada pela junta de cinco juízes responsável pelo tribunal, põe fim a um julgamento que se arrastou por quase 13 meses e foi marcado pelo assassinato de três advogados de defesa, a troca do juiz-chefe, sucessivos adiamentos e interrupções e, sobretudo, uma intensa cobertura da mídia -que repetiu à exaustão desde as imagens do ex-ditador abatido e sujo após ser encontrado num buraco por soldados dos EUA em dezembro de 2003 até as do Saddam desafiador discutindo com juízes no tribunal.
Mas não está claro, ainda, se a execução do homem acusado de massacrar centenas de milhares -se levada a cabo- será pública ou poderá ser filmada.
Como era de se esperar eclodiram manifestações de júbilo em áreas predominantemente xiitas em Bagdá e no sul do país, e protestos em regiões dominadas pelos sunitas, no centro e norte do Iraque. Em Dujail, 50 km ao norte de Bagdá, a população foi às ruas celebrar e queimar imagens do ex-ditador.
Facção minoritária no islamismo mas majoritária no Iraque, onde perfazem cerca de 60% da população, os xiitas foram duramente reprimidos por Saddam, um sunita. Os iraquianos de etnia curda, 15% do país, também foram alvo da mão de ferro do ex-ditador -embora tenham gozado de relativa autonomia nos últimos anos.
"Este é um veredicto contra toda uma era de sombras sem igual na história do Iraque", declarou o premiê iraquiano, Nuri al Maliki. Com o país mergulhado na violência sectária, Maliki, um xiita, ainda afirmou que espera que a sentença "desestimule a insurgência sunita".
Já o chefe da defesa, Khalil al Dulaimi, disse que Saddam pede aos iraquianos que abandonem a violência sectária e não se vinguem dos americanos: "Sua mensagem é de perdão".


Com agências internacionais e "Independent"


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