São Paulo, quinta-feira, 06 de novembro de 2008

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Eleito anuncia comando da transição

Chefe-de-gabinete, cargo importante na burocracia da Casa Branca, será anunciado até amanhã, e secretário do Tesouro, até o fim do mês

Promessas de campanha e crise roubam tempo de Obama, que vem sofrendo pressão para montar logo sua equipe econômica


DO ENVIADO A CHICAGO

Barack Obama começou seu primeiro dia como presidente eleito seguindo sua rotina, com uma hora de ginástica pela manhã. Foi o único momento igual a todas as outras manhãs dos últimos 21 meses. No resto do tempo, passou em reuniões fechadas no quartel-general ao lado do Hyatt Regency Hotel, em Chicago, para começar a compor seu gabinete e detalhar o programa de governo.
Menção constante em seus discursos, Obama sente a "dura urgência do agora" de que falava Martin Luther King (1929-1968). Eleito com uma plataforma de esperança e mudança que conquistou a maioria dos eleitores domésticos e grande parte da opinião pública internacional, o político não terá o hiato com que contou Franklin Delano Roosevelt (1882-1945), por exemplo, um antecessor com quem tem sido freqüentemente comparado.
Em 1932, depois de eleito, o democrata armou um programa econômico que anunciaria apenas depois da posse e implantaria nos primeiros cem dias do cargo. É improvável que Obama tenha um período de transição calmo, no qual possa desaparecer dos olhos do público e elaborar a plataforma.
A crise econômica atual e a expectativa exagerada, inflada por sua retórica, fizeram de Obama um presidente de fato já nas primeiras horas de ontem. O problema é que ele terá de exercer seu poder ao redor do presidente de direito, George W. Bush, um homem em busca de um legado. O primeiro choque direto entre os dois pode vir na reunião do G20, que o segundo convocou para os dias 14 e 15, em Washington.
A reunião se pretende uma nova Bretton Woods, cúpula pós-Segunda Guerra que redefiniu o sistema monetário e financeiro internacional. Líderes que participarão do novo encontro esperam uma participação mais efetiva do homem que, afinal, mandará no país pelos próximos quatro anos.
Antes de Obama ser eleito, a informação da campanha é que ele não participaria nem mandaria representantes, embora pretendesse enviar idéias. A perspectiva de essa colaboração se limitar a apenas isso agora parece distante. Oficialmente, Obama mantém a resposta que deu antes de ser eleito, quando indagado se participaria do evento: "Os EUA só têm um presidente por vez".

Gabinete paralelo
Outra área de tensão é o Tesouro. Mal o nome do democrata era anunciado pelas emissoras, representantes do mercado financeiro já faziam pressão pela revelação de quem ocupará o cargo. Assessores do democrata dão conta de que esse e o secretário de Estado devem ser anunciados em algum momento até o feriado de Ação de Graças, no dia 27 de novembro.
O novo secretário montaria um gabinete paralelo, que atuaria junto ao de Henry Paulson, o atual titular do cargo. A idéia é que decisões em relação ao uso da verba recorde de US$ 700 bilhões aprovadas pelo Congresso sejam tomadas com o conhecimento do gabinete paralelo, já que as medidas terão efeito direto na próxima gestão.
A bolsa de apostas para o primeiro cargo continuava encabeçada pelo presidente do Fed de Nova York, Timothy Geithner, e pelo ex-secretário de Tesouro de Bill Clinton Larry Summers. Para o segundo, ia do senador John Kerry e o governador Bill Richardson, do Novo México, ao senador republicano Dick Lugar e o diplomata Richard Holbrooke.
Antes disso, nas próximas horas, deve sair o nome do chefe-de-gabinete, cargo mais importante na burocracia da Casa Branca. Assessores de Obama dão conta de que foi convidado o congressista democrata Rahm Emanuel, cuja base política é Illinois, como o presidente eleito, de quem ele é amigo. Até a conclusão desta edição, o político não havia aceitado.
Ontem ainda a equipe do presidente eleito anunciou que estava criando oficialmente um grupo de transição, que será comandado por três diretores: John Podesta, diretor do Center For American Progress e ex-chefe-de-gabinete de Bill Clinton; Valerie Jarrett, herdeira da cadeia de hotéis Hyatt e conselheira econômica de Obama; e Pete Rouse, chefe-de-gabinete do senador de Illinois.
O time contará com um conselho, formado por, entre outros, a governadora Janet Napolitano (Arizona) e uma equipe de 14 pessoas, além de um site oficial, www.change.gov, que entrou no ar ontem. Além disso, os órgãos mais importantes do governo Bush, como a secretaria de Estado, já contam com enviados de Obama.
Nas próximas horas e dias, sob comando de Obama, o time define as prioridades. Em entrevista na manhã da eleição, o democrata adiantou quais seriam no campo doméstico. Prometeu que, apesar do inevitável aperto financeiro no Orçamento, fará "progressos em todas as frentes ao final do primeiro mandato".
No campo externo, por conta das duas guerras em andamento, é provável que indique logo o titular das secretarias de Estado e da Defesa. Por questões de segurança, é improvável que faça qualquer anúncio de ordem prática, como quando e de que forma pretende fechar a prisão militar de Guantánamo ou qual a escala de retirada de tropas do Iraque, duas de suas promessas de campanha.
A partir de amanhã, no entanto, Barack Obama já começará a receber o relatório diário de segurança nacional que também está na mesa do presidente dos EUA toda manhã.
(SÉRGIO DÁVILA)


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