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Eleito anuncia comando da transição
Chefe-de-gabinete, cargo importante na burocracia da Casa Branca, será anunciado até amanhã, e secretário do Tesouro, até o fim do mês
Promessas de campanha
e crise roubam tempo de Obama, que vem sofrendo pressão para montar logo sua equipe econômica
DO ENVIADO A CHICAGO
Barack Obama começou seu
primeiro dia como presidente
eleito seguindo sua rotina, com
uma hora de ginástica pela manhã. Foi o único momento igual
a todas as outras manhãs dos
últimos 21 meses. No resto do
tempo, passou em reuniões fechadas no quartel-general ao
lado do Hyatt Regency Hotel,
em Chicago, para começar a
compor seu gabinete e detalhar
o programa de governo.
Menção constante em seus
discursos, Obama sente a "dura
urgência do agora" de que falava Martin Luther King (1929-1968). Eleito com uma plataforma de esperança e mudança
que conquistou a maioria dos
eleitores domésticos e grande
parte da opinião pública internacional, o político não terá o
hiato com que contou Franklin
Delano Roosevelt (1882-1945),
por exemplo, um antecessor
com quem tem sido freqüentemente comparado.
Em 1932, depois de eleito, o
democrata armou um programa econômico que anunciaria
apenas depois da posse e implantaria nos primeiros cem
dias do cargo. É improvável que
Obama tenha um período de
transição calmo, no qual possa
desaparecer dos olhos do público e elaborar a plataforma.
A crise econômica atual e a
expectativa exagerada, inflada
por sua retórica, fizeram de
Obama um presidente de fato
já nas primeiras horas de ontem. O problema é que ele terá
de exercer seu poder ao redor
do presidente de direito, George W. Bush, um homem em
busca de um legado. O primeiro
choque direto entre os dois pode vir na reunião do G20, que o
segundo convocou para os dias
14 e 15, em Washington.
A reunião se pretende uma
nova Bretton Woods, cúpula
pós-Segunda Guerra que redefiniu o sistema monetário e financeiro internacional. Líderes que participarão do novo
encontro esperam uma participação mais efetiva do homem
que, afinal, mandará no país pelos próximos quatro anos.
Antes de Obama ser eleito, a
informação da campanha é que
ele não participaria nem mandaria representantes, embora
pretendesse enviar idéias. A
perspectiva de essa colaboração se limitar a apenas isso agora parece distante. Oficialmente, Obama mantém a resposta
que deu antes de ser eleito,
quando indagado se participaria do evento: "Os EUA só têm
um presidente por vez".
Gabinete paralelo
Outra área de tensão é o Tesouro. Mal o nome do democrata era anunciado pelas emissoras, representantes do mercado
financeiro já faziam pressão
pela revelação de quem ocupará o cargo. Assessores do democrata dão conta de que esse e o
secretário de Estado devem ser
anunciados em algum momento até o feriado de Ação de Graças, no dia 27 de novembro.
O novo secretário montaria
um gabinete paralelo, que atuaria junto ao de Henry Paulson,
o atual titular do cargo. A idéia é
que decisões em relação ao uso
da verba recorde de US$ 700 bilhões aprovadas pelo Congresso sejam tomadas com o conhecimento do gabinete paralelo,
já que as medidas terão efeito
direto na próxima gestão.
A bolsa de apostas para o primeiro cargo continuava encabeçada pelo presidente do Fed
de Nova York, Timothy Geithner, e pelo ex-secretário de Tesouro de Bill Clinton Larry
Summers. Para o segundo, ia do
senador John Kerry e o governador Bill Richardson, do Novo
México, ao senador republicano Dick Lugar e o diplomata Richard Holbrooke.
Antes disso, nas próximas
horas, deve sair o nome do chefe-de-gabinete, cargo mais importante na burocracia da Casa
Branca. Assessores de Obama
dão conta de que foi convidado
o congressista democrata
Rahm Emanuel, cuja base política é Illinois, como o presidente eleito, de quem ele é amigo.
Até a conclusão desta edição, o
político não havia aceitado.
Ontem ainda a equipe do presidente eleito anunciou que estava criando oficialmente um
grupo de transição, que será comandado por três diretores:
John Podesta, diretor do Center For American Progress e
ex-chefe-de-gabinete de Bill
Clinton; Valerie Jarrett, herdeira da cadeia de hotéis Hyatt
e conselheira econômica de
Obama; e Pete Rouse, chefe-de-gabinete do senador de Illinois.
O time contará com um conselho, formado por, entre outros, a governadora Janet Napolitano (Arizona) e uma equipe de 14 pessoas, além de um site oficial, www.change.gov,
que entrou no ar ontem. Além
disso, os órgãos mais importantes do governo Bush, como
a secretaria de Estado, já contam com enviados de Obama.
Nas próximas horas e dias,
sob comando de Obama, o time
define as prioridades. Em entrevista na manhã da eleição, o
democrata adiantou quais seriam no campo doméstico.
Prometeu que, apesar do inevitável aperto financeiro no Orçamento, fará "progressos em
todas as frentes ao final do primeiro mandato".
No campo externo, por conta
das duas guerras em andamento, é provável que indique logo
o titular das secretarias de Estado e da Defesa. Por questões
de segurança, é improvável que
faça qualquer anúncio de ordem prática, como quando e de
que forma pretende fechar a
prisão militar de Guantánamo
ou qual a escala de retirada de
tropas do Iraque, duas de suas
promessas de campanha.
A partir de amanhã, no entanto, Barack Obama já começará a receber o relatório diário
de segurança nacional que
também está na mesa do presidente dos EUA toda manhã.
(SÉRGIO DÁVILA)
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