São Paulo, quinta-feira, 06 de novembro de 2008

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Obama avançou sobre eleitorado conservador

Descontentamento com os rumos do país sob a administração Bush foi decisivo na opção pelo candidato vitorioso

Desempenho de democrata entre mulheres, negros e jovens é melhor que o de seu partido nas últimas oito eleições presidenciais


FERNANDO CANZIAN
ENVIADO ESPECIAL A WASHINGTON

Mulheres, negros, hispânicos e jovens das grandes cidades foram os principais responsáveis pela vitória acachapante de Barack Obama. Já os eleitores brancos, religiosos, mais velhos e residentes no campo ou em cidades menores constituíram a principal trincheira do candidato derrotado, John McCain.
A divisão do eleitorado norte-americano na terça guarda as mesmas características do pleito de 2004, quando George W. Bush derrotou o democrata John Kerry com uma diferença de 3,5 milhões de votos.
Desta vez, porém, Obama conseguiu atrair para o seu campo grandes parcelas de eleitores das frentes normalmente mais conservadoras, além de ter ampliado seu alcance no geral. Ele se saiu melhor do que outros democratas nas oito últimas eleições entre mulheres, negros, jovens, independentes e moderados.
Para isso, foi absolutamente decisivo o descontentamento extravasado pelos eleitores com os rumos dos EUA sob o comando de Bush nos últimos oito anos. Cerca de 75% deles votaram na terça acreditando que o país caminha na direção errada. Desse total, 62% afirmaram ter votado em Obama.
O descontentamento com os rumos do país também foi apontado por muitos eleitores novos ou que normalmente não votam (o voto é facultativo nos EUA) como o principal fator que os motivou a ir às urnas. No total, 153,1 milhões de eleitores votaram, ou 66% do total, um recorde.
As motivações e divisões do eleitorado aparecem como resultado de pesquisa de boca-de-urna realizada em nível nacional na terça entre 17.834 eleitores a partir de um pool de empresas de comunicação -e conduzida pelo instituto de pesquisas Edison-Mitofsky.
Entre todos os grupos pesquisados, foram os negros os que mais votaram em massa em Obama. Ele recebeu 95% dos votos deles, que representam cerca de 13% de todo o eleitorado do país. Nas eleições de 2004, John Kerry atraiu 88% dos votos dos negros, tradicionalmente simpatizantes do Partido Democrata.
No lado de McCain, o grupo que mais apoiou o senador foram os protestantes/evangélicos brancos, que representam 23% do eleitorado: 73% deles votaram no republicano.
Outro segmento que votou em peso em Obama foi o dos eleitores mais jovens, principalmente os com idade entre 18 e 29 anos. Obama teve o apoio de 66% entre eles (12 pontos percentuais a mais do que Kerry em 2004), contra 31% para McCain. Nesta divisão por faixa etária, o republicano só levou vantagem entre o eleitorado acima de 65 anos, onde conquistou o apoio de 53% (contra 45% para Obama).
A vitória de Obama por larga margem ocorreu principalmente porque houve um significativo aumento do apoio de grupos de eleitores que já tendem normalmente a votar com os democratas.
Caso dos hispânicos: 66% deles votaram desta vez com Obama. Em 2004, o democrata Kerry também teve a maioria desse grupo, mas ela atingiu apenas 53%. Uma das preocupações da campanha do presidente eleito era ele não conseguir atrair os votos hispânicos que apoiaram em massa, durante as primárias, a senadora Hillary Clinton.
No pleito de 2004, o presidente Bush também saiu orgulhoso da votação por ter amealhado 44% dos votos hispânicos. Mas suas políticas de imigração ao longo do mandato minaram consideravelmente essa base de apoio.
Já entre os eleitores brancos, Obama teve o apoio de 43% do total. O percentual não difere muito do que os democratas Kerry, Al Gore e Bill Clinton tiveram, respectivamente, em 2004, 2000 e 1996.
Entre os brancos mais educados, no entanto, Obama praticamente empatou com John McCain, sendo que essa parcela deu uma vantagem de 11 pontos para Bush em 2004.


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