São Paulo, quinta-feira, 06 de novembro de 2008

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Brasil espera guinada na política externa e cobra apoio à região

Lula pediu o fim do bloqueio econômico a Cuba; em mensagem enviada a Obama, presidente mencionou Martin Luther King

Petista diz que eleição de presidente negro é "feito extraordinário" e afirma que preferia Obama "porque talvez ele seja corintiano"


ELIANE CANTANHÊDE
COLUNISTA DA FOLHA

SIMONE IGLESIAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A expectativa do Brasil é que, depois de uma vitória espetacular, Barack Obama não apenas estanque a crise econômica como promova uma guinada na política externa norte-americana, para fortalecer a ONU, reabrir o diálogo com Cuba, aumentar a ajuda humanitária na África, concluir as negociações comerciais da Rodada Doha e retomar a pauta sobre mudança climática.
Além dessa mudança radical em relação ao governo de George W. Bush, Planalto e Itamaraty cobraram maior atenção dos EUA para a América Latina, como declarou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Ele irá a Washington no próximo dia 15 para a reunião do G-20 ampliada -dos 7 países ricos, mais Rússia e emergentes, como o Brasil. "Espero que haja um aperfeiçoamento das relações entre Brasil e EUA e acho que também [deve haver] uma política mais voltada para o desenvolvimento na América Latina", disse Lula ontem.
Ele acrescentou: "É preciso que os EUA continuem uma política mais ativa em relação à América Latina, uma vez que durante toda a década de 60 e 70 você tinha a Guerra Fria, quando os EUA mantinham uma visão de luta contra guerrilhas na região. Agora mudou, a democracia consolidou-se".
Lula também pediu o fim do bloqueio a Cuba, porque "não há nenhuma explicação política" para mantê-lo, e defendeu que os EUA de Obama usem o seu "peso muito importante" para encontrar "uma saída" para o conflito do Oriente Médio.
Mais do que focar em temas específicos, porém, o Brasil reagiu ao resultado da eleição com um tom otimista, recheado de adjetivos, e com a defesa de uma mudança de rumo.
Para Lula, foi "um feito extraordinário" que os EUA tenham eleito um negro. Bem-humorado, brincou que preferia Obama desde sempre, "porque talvez ele seja corintiano".
"Quem duvidava de que um negro poderia ser eleito presidente dos EUA agora sabe que pode. Isso acontece num regime democrático, que é onde a sociedade se manifesta".
Tanto Lula quanto o chanceler Celso Amorim, que ontem voltava do Irã, enviaram mensagens parabenizando Obama, como é de praxe.
Na mensagem de Lula, ele repete um slogan que integrou as duas campanhas, a dele próprio no Brasil e agora a de Obama nos EUA, contrapondo medo e esperança: "V. Excia. soube transmitir visão de futuro, capacidade de liderança e certeza de que a esperança é mais forte do que o medo".
Ao citar os "desafios complexos para a ordem internacional intensificados pela gravidade da crise financeira", Lula afirmou: "Estou certo de que os EUA responderão a esses desafios inspirados pela "intensa urgência do agora" demandada por Martin Luther King".
No seu texto, Amorim diz que "o povo norte-americano revelou mais uma vez ao mundo a força renovadora da pluralidade e da diversidade" e acrescenta: "A sua eleição provou, ademais, que não há barreiras nem preconceitos que não possam ser vencidos".
Até o tradicional discurso de que os democratas são mais protecionistas do que os republicanos e podem afetar os interesses comerciais brasileiros foi desativado.
"A vitória do Obama é importantíssima para uma nova ordem mundial. O protecionismo democrata? Não existe mais. Foi soterrado pela crise econômica", disse à Folha o embaixador Everton Vieira Vargas, subsecretário de Assuntos Políticos e principal responsável no Itamaraty pelo acompanhamento das eleições nos EUA.
O governo agora começa a focar a atenção na equipe de governo de Obama, principalmente para a área externa. Até ontem, só havia uma especulação: a de que o atual embaixador norte-americano em Brasília, Clifford Sobel, pode ser substituído por Thomas Shannon. Shannon é secretário assistente de Estado para o Hemisfério na era Bush, fala português e espanhol e tem tido um contato freqüente e fácil com o governo brasileiro.


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