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São Paulo, sábado, 06 de dezembro de 2003

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RÚSSIA

Ataque suicida contra trem de passageiros ocorre a dois dias de eleições parlamentares; governo acusa separatistas

Atentado perto da Tchetchênia mata 42

DA REDAÇÃO

Uma poderosa explosão atingiu ontem de manhã um trem de passageiros perto da divisa russa com a Tchetchênia, matando ao menos 42 pessoas e deixando outras dezenas feridas. O presidente Vladimir Putin disse que o ataque terrorista é "uma tentativa de desestabilizar o país às vésperas das eleições parlamentares", marcadas para amanhã.
Segundo o governo russo, um corpo mutilado estava com granadas amarradas às pernas, numa indicação de que se tratou de um ataque suicida.
O chefe do Serviço de Segurança, Nikolai Patrushev, disse que três mulheres estavam envolvidas no ataque -duas pularam do trem pouco antes da explosão, e a outra está gravemente ferida.
A força da explosão -o segundo ataque desse tipo na mesma linha neste semestre- arremessou vários passageiros para fora do trem e deixou outros presos em meio ao metal retorcido.
O ataque ocorreu por volta das 8h locais, quando o trem ficava normalmente cheio de estudantes. O trem se aproximava da estação de Yessentuki, a cerca de 1.200 km ao sul de Moscou.
Especialistas em explosivos localizaram e detonaram outros três artefatos nos destroços, informou uma TV russa.
O Ministério da Saúde informou que houve 42 mortes, das quais 34 ocorreram no local da explosão. Outras 148 pessoas foram internadas em hospitais da região; 29 passageiros tiveram apenas ferimentos leves.
"Nós encontraremos os autores", disse o ministro do Interior, Boris Gryzlov, que também lidera o maior partido governista. "A terra queimará sob seus pés."
O ministro da Justiça, Yuri Chaika, disse que o ataque de ontem tem a marca de "terroristas tchetchenos".
Representantes de Aslan Maskhadov, líder rebelde e ex-presidente da Tchetchênia, negaram envolvimento no caso, em nota distribuída à imprensa.
"Repetimos que o governo tchetcheno é guiado pelos princípios da lei humanitária internacional", diz a nota. "Portanto, condenamos quaisquer atos de violência que atinjam direta ou indiretamente a população civil em qualquer parte do mundo."

Eleições
Pesquisas apontam que os aliados de Putin devem receber a maioria dos votos nas eleições parlamentares de amanhã. Alguns analistas acreditam que as acusações contra rebeldes tchetchenos possam aumentar o apoio a Putin. No entanto, para o analista Mark Urnov, do instituto Ekspertiza, o ataque de ontem terá impacto mínimo.
"Não creio que o atentado produza algum efeito. Os russos simplesmente preferem não pensar na Tchetchênia: foi apenas mais uma tragédia."
O presidente russo tem adotado uma linha dura contra os separatistas tchetchenos. Em 1999, quando era primeiro-ministro, ele enviou tropas de volta à região com o objetivo de ocupá-la. Desde então, a violência tem recrudescido.
O presidente russo já chegou a dizer que os guerrilheiros tchetchenos têm ligação com a rede terrorista Al Qaeda, de Osama bin Laden, mas essa afirmação nunca foi comprovada.
Putin, que tentará a reeleição em março, tem insistido na restauração de um firme poder central desde que assumiu a Presidência, em 2000.
Também faz parte de sua estratégia eleitoral uma cruzada contra os "oligarcas", empresários russos que enriqueceram nos anos 90, após o fim da União Soviética.

Sequência
Nos últimos 12 meses, ataques terroristas na região da Tchetchênia e em Moscou deixaram mais de 250 mortos.
Em setembro, seis pessoas foram mortas quando duas bombas explodiram num trem que fazia a mesma linha onde ocorreu o ataque de ontem.
Em dezembro do ano passado, um carro-bomba destruiu o quartel-general do governo tchetcheno, apoiado por Moscou. Morreram 72 pessoas nessa ação.
Em maio, mais dois violentos ataques mataram ao menos 78 pessoas na região. Em Moscou um atentado durante um concerto de rock matou 15 pessoas em julho.


Com agências internacionais


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