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São Paulo, sábado, 06 de dezembro de 2003

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HISTÓRIA

Londres confirma o que os argentinos suspeitavam desde o fim da guerra, em 82, mas nega ter usado a munição

Reino Unido levou arma nuclear às Malvinas

CAROLINA VILA-NOVA
DE BUENOS AIRES

Em uma revelação histórica, após 20 anos de negativas, o Reino Unido admitiu ter trazido armas nucleares em alguns dos navios que participaram da Guerra das Malvinas, em 1982.
"A força-tarefa constituída para ir ao Atlântico Sul durante o conflito de 1982 incluiu navios que -rotineiramente- estavam equipados com armamento nuclear", diz o informe oficial do governo do primeiro-ministro Tony Blair enviado aos argentinos.
Intitulado "Pontos sobre incidente com armamento nuclear em 1982", o informe sustenta que as armas não chegaram a entrar em águas territoriais argentinas ou das Malvinas nem a ser usadas.
A revelação, no entanto, confirma antigas suspeitas argentinas acerca do transporte de armas nucleares por seu oponente durante o conflito, que durou cerca de dois meses.
"Pela primeira vez", disse o ministro da Defesa argentino, José Pampurro, o Reino Unido "reconhece uma questão que, apesar das suspeitas, nunca havia sido reconhecida oficialmente".
Segundo ele, o governo recebeu a revelação com "muita preocupação" e vai pedir informações adicionais a Londres. O presidente Néstor Kirchner reuniu-se durante várias horas com alguns de seus ministros para avaliar a situação, disse o jornal "La Nación".
Parte da preocupação do governo é com a possibilidade de que navios que tenham sido afundados durante o conflito carregassem armas nucleares.
Segundo o ministro Pampurro, "há dois ou três navios que permaneceram no fundo do oceano" depois da guerra e é preciso "ver se há algum rastro" de material nuclear neles. O ministério da Defesa britânico nega essa hipótese.

"Forte impacto"
"É a primeira vez que dizemos que houve armamento nuclear com a força-tarefa britânica. Reconhecemos que pode ser uma notícia de forte impacto não apenas no Reino Unido, como também na Argentina", diz o informe. As armas trazidas eram "cargas nucleares de profundidade WE-177 e variantes inertes e de vigilância".
A justificativa dada é a de que, "em vista da urgência com que a força-tarefa teve de ser empregada, decidiu-se por não retirar as armas nucleares antes de sua partida para Atlântico Sul, para proceder sua retirada assim que fosse possível fazê-lo".
O informe destaca que, "em nenhum momento, se considerou que as armas pudessem ser usadas no conflito".
"Elas foram retiradas da zona de conflito tão logo foi operacionalmente possível. Podemos confirmar que nenhum navio equipado com armas nucleares ingressou em águas territoriais da Argentina ou das ilhas Falkland."
Ontem, um porta-voz do ministério da Defesa britânico confirmou o teor do informe e reafirmou que "a decisão era de transferir [as armas nucleares] para outros navios que estivessem retornando para casa", segundo a agência de notícias Reuters.
De acordo com o porta-voz, carregar armas nucleares era uma "prática de rotina" para a força naval britânica durante a década de 80. O informe relata, no entanto, alguns incidentes na transferência das armas nucleares da força-tarefa para outros navios.
"Durante esses traslados, alguns dos contêineres das armas nucleares sofreram danos exteriores. As precauções de segurança asseguraram que o dano permanecesse limitado aos contêineres. Nenhuma das armas foi danificada."
"Devido ao desenho das armas, nem sequer um impacto direto sobre um dos navios que as transportavam teria significado uma explosão nuclear. Além disso, os procedimentos de segurança asseguraram que não ocorressem emissões radioativas", afirma o informe.


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