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HISTÓRIA
Londres confirma o que os argentinos suspeitavam desde o fim da guerra, em 82, mas nega ter usado a munição
Reino Unido levou arma nuclear às Malvinas
CAROLINA VILA-NOVA
DE BUENOS AIRES
Em uma revelação histórica,
após 20 anos de negativas, o Reino Unido admitiu ter trazido armas nucleares em alguns dos navios que participaram da Guerra
das Malvinas, em 1982.
"A força-tarefa constituída para
ir ao Atlântico Sul durante o conflito de 1982 incluiu navios que
-rotineiramente- estavam
equipados com armamento nuclear", diz o informe oficial do governo do primeiro-ministro Tony
Blair enviado aos argentinos.
Intitulado "Pontos sobre incidente com armamento nuclear
em 1982", o informe sustenta que
as armas não chegaram a entrar
em águas territoriais argentinas
ou das Malvinas nem a ser usadas.
A revelação, no entanto, confirma antigas suspeitas argentinas
acerca do transporte de armas nucleares por seu oponente durante
o conflito, que durou cerca de
dois meses.
"Pela primeira vez", disse o ministro da Defesa argentino, José
Pampurro, o Reino Unido "reconhece uma questão que, apesar
das suspeitas, nunca havia sido
reconhecida oficialmente".
Segundo ele, o governo recebeu
a revelação com "muita preocupação" e vai pedir informações
adicionais a Londres. O presidente Néstor Kirchner reuniu-se durante várias horas com alguns de
seus ministros para avaliar a situação, disse o jornal "La Nación".
Parte da preocupação do governo é com a possibilidade de que
navios que tenham sido afundados durante o conflito carregassem armas nucleares.
Segundo o ministro Pampurro,
"há dois ou três navios que permaneceram no fundo do oceano"
depois da guerra e é preciso "ver
se há algum rastro" de material
nuclear neles. O ministério da Defesa britânico nega essa hipótese.
"Forte impacto"
"É a primeira vez que dizemos
que houve armamento nuclear
com a força-tarefa britânica. Reconhecemos que pode ser uma
notícia de forte impacto não apenas no Reino Unido, como também na Argentina", diz o informe. As armas trazidas eram "cargas nucleares de profundidade
WE-177 e variantes inertes e de vigilância".
A justificativa dada é a de que,
"em vista da urgência com que a
força-tarefa teve de ser empregada, decidiu-se por não retirar as
armas nucleares antes de sua partida para Atlântico Sul, para proceder sua retirada assim que fosse
possível fazê-lo".
O informe destaca que, "em nenhum momento, se considerou
que as armas pudessem ser usadas no conflito".
"Elas foram retiradas da zona de
conflito tão logo foi operacionalmente possível. Podemos confirmar que nenhum navio equipado
com armas nucleares ingressou
em águas territoriais da Argentina ou das ilhas Falkland."
Ontem, um porta-voz do ministério da Defesa britânico confirmou o teor do informe e reafirmou que "a decisão era de transferir [as armas nucleares] para
outros navios que estivessem retornando para casa", segundo a
agência de notícias Reuters.
De acordo com o porta-voz,
carregar armas nucleares era uma
"prática de rotina" para a força
naval britânica durante a década
de 80. O informe relata, no entanto, alguns incidentes na transferência das armas nucleares da força-tarefa para outros navios.
"Durante esses traslados, alguns
dos contêineres das armas nucleares sofreram danos exteriores.
As precauções de segurança asseguraram que o dano permanecesse limitado aos contêineres. Nenhuma das armas foi danificada."
"Devido ao desenho das armas,
nem sequer um impacto direto
sobre um dos navios que as transportavam teria significado uma
explosão nuclear. Além disso, os
procedimentos de segurança asseguraram que não ocorressem
emissões radioativas", afirma o
informe.
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