São Paulo, terça-feira, 07 de janeiro de 2003

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ORIENTE MÉDIO

País proíbe ida de delegação a Londres e quer fechar três universidades na Cisjordânia

Após atentado, Israel impõe mais restrições

David Guttenfelder/Associated Press
Familiares do israelense Avi Kotzer, 43, morto no atentado, choram durante o enterro em Tel Aviv


DA REDAÇÃO

Israel ampliou ontem suas medidas retaliatórias contra os palestinos, após um duplo atentado suicida ter matado anteontem 22 pessoas e ferido mais de cem no centro de Tel Aviv.
O país proibiu a viagem de uma delegação oficial palestina a Londres, onde participaria, a partir do dia 13, de conferência sobre paz e reformas no Oriente Médio.
Impôs também restrições à liberdade de movimento nos territórios ocupados de altos funcionários da Autoridade Nacional Palestina (ANP). Vetou a realização de um encontro do Conselho Central Palestino, marcado para a quinta-feira, em Ramallah. Além disso, disse que vai fechar três universidades da Cisjordânia.
A primeira medida irritou o governo do Reino Unido, patrocinador do diálogo em Londres entre autoridades palestinas, diplomatas árabes e integrantes do quarteto (grupo que tenta mediar o conflito israelo-palestino, que conta com a participação de EUA, União Européia, ONU e Rússia).
O premiê israelense, Ariel Sharon, negou a possibilidade de haver negociações de paz enquanto continuar o terrorismo. "Estamos testemunhando novamente uma onda terrível de terrorismo", disse. Ele visitou pessoas feridas no ataque, cuja autoria foi atribuída pelo Exército a uma célula baseada em Nablus do Tanzim (milícia ligada ao grupo Fatah, do presidente da ANP, Iasser Arafat). "Quando acabarmos com o terror, sentaremos para falar sobre a paz. Mas a primeira coisa a ser feita é acabar com o terror."
O chanceler de Israel, Binyamin Netanyahu, teve uma tensa conversa telefônica com o seu colega britânico, Jack Straw. Ele teria dito a Straw que esperava que Londres adotasse uma linha semelhante à traçada pelos EUA do presidente George W. Bush, segundo a qual não se pode negociar com líderes envolvidos com o terrorismo -referência a Arafat.
Desde as explosões na velha estação de ônibus de Tel Aviv-o primeiro atentado do gênero em seis semanas-, as forças israelenses prenderam cinco palestinos. Helicópteros bombardearam uma suposta fábrica de armas em Gaza. O Exército fez duas incursões com tanques nos campos de refugiados de Maghazi, no qual um palestino foi morto -segundo testemunhas-, e Khan Yunis, na faixa de Gaza. As ordens ontem foram para que seja ampliado o foco das "operações seletivas".
Sharon está sob pressão de Washington para conter as ações de seu Exército contra os palestinos. Os EUA desejam ver todas as atenções voltadas para a questão do desarmamento do Iraque e para uma eventual campanha para derrubar o ditador Saddam Hussein. Este voltou a elogiar os homens-bomba palestinos, "que enfrentam a agressão sionista com suas próprias vidas". Saddam envia dinheiro a famílias de terroristas suicidas.
Raanan Gissin, porta-voz de Sharon, anunciou ontem a decisão oficial de fechar três universidades palestinas -ele nomeou duas delas, Bir Zeit e An Najah, as duas principais instituições de ensino superior da Cisjordânia.
Até ontem, 20 das vítimas fatais do ataque de Tel Aviv haviam sido identificadas -entre elas havia 13 israelenses e cinco estrangeiros. Alguns trabalhadores ilegais feridos, temendo ser deportados, não buscaram atendimento nos hospitais. Para tranquilizá-los, o governo de Israel anunciou que não vai prendê-los. Ainda há mais de 40 pessoas hospitalizadas, duas delas em estado crítico.
A exemplo do ocorrido em pleitos passados, novos atentados e a retomada da violência com as retaliações devem favorecer a direita israelense -encabeçada pelo premiê Sharon- nas eleições parlamentares de 28 de janeiro.

Com agências internacionais


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