São Paulo, sexta-feira, 07 de janeiro de 2011

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Quênia teme leva de refugiados do Sudão

País vizinho traça plano para receber até 20 mil pessoas se houver violência no referendo sudanês de domingo

Governo queniano está instalando sessões de votação em campos de refugiados onde estão abrigados sudaneses

CAROLINA MONTENEGRO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA,
EM NAIRÓBI (QUÊNIA)


O governo do Quênia anunciou ontem planos de contingência para lidar com um possível fluxo de refugiados do vizinho Sudão, devido ao referendo marcado para o próximo domingo.
Mais de 20 mil refugiados podem cruzar a fronteira se a consulta acabar em violência, segundo o Alto Comissariado para Refugiados da ONU (Acnur).
No referendo, a população de maioria cristã do sul decidirá se quer a separação do norte muçulmano e árabe.
A consulta é resultado de um acordo que pôs fim em 2005 a uma guerra que matou 2 milhões de pessoas.
A expectativa é que mais de 90% dos moradores do sul do Sudão escolham tornar-se independentes. Teme-se uma nova guerra, caso o norte não aceite a independência do sul, rico em petróleo.
O chanceler queniano, George Saitoti, afirmou que "há indicações" de que o pleito será pacífico.
"No entanto, se surgirem dificuldades no Sudão e pessoas vierem buscar abrigo no Quênia, já estamos nos preparando. Haverá apoio humanitário e logístico, se for necessário", disse.
A recepção aos refugiados será feita por meio de uma parceria entre o governo do Quênia e o Acnur. O plano conjunto prevê um sistema de registro e entrega de documentos para os refugiados.
O Quênia já abriga hoje cerca de 360 mil refugiados, a maioria deles de origem somali, sudanesa e etíope, segundo dados do Acnur.
Nos últimos meses, com a aproximação do referendo, muitos sul-sudaneses voltaram ao país para votar. A expectativa do Acnur é que muitos deles retornem ao Quênia após o referendo.
Estima-se que pelo menos 4 milhões de sul-sudaneses vivam fora do país, sendo 60 mil só no Quênia.
Para minimizar esse fluxo na fronteira, o governo do Quênia instalou seções eleitorais para que os 15.057 sul-sudaneses no país participem da consulta.
Duas delas ficarão na capital, Nairóbi, e o restante em campos de refugiados espalhados pelo país.

90% POBRES
"Será instalada uma seção eleitoral no campo de refugiados de Dadaab, outras em Eldoret, Kitale, Nakuru e Kakuma. Mas a maioria dos sul-sudaneses preferiu voltar para casa para o referendo", afirmou Michael Majok chefe da missão.
A contagem dos votos será feita no Quênia, e os resultados, enviados para autoridades em Juba (capital do sul) e Cartum (do norte).
"Vou votar aqui em Nairóbi. O custo da passagem de ida e de volta para passar tão pouco tempo em Juba não compensa", disse Joseph Akol, 20. Ele deixou a família em Juba e imigrou para o Quênia para jogar basquete.
"Acho que o Sudão vai se dividir, mas eu só voltaria pra Juba se a vida lá melhorasse, não há emprego, é muito difícil", afirmou.
Independente, o sul do Sudão deve se tornar um dos países mais carentes do globo, com 90% dos habitantes abaixo da linha da pobreza.


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