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Currículo polêmico é marca de eleito
DO ENVIADO ESPECIAL
Ariel "Arik" Sharon nasceu
com o nome russo Ariel Scheinerman, em 1928, em Kfar Mahal,
uma aldeia ao norte de Tel Aviv,
quando a Palestina ainda era domínio britânico. Seu avô já era um
sionista fervoroso na Rússia, tendo imigrado à Palestina no começo do século.
Quando tinha 1 ano, a aldeia de
Sharon sofreu um ataque de vizinhos árabes, e ele diz que aprendeu cedo que defender a terra e ter
amor por ela é fundamental no
Oriente Médio.
Setenta e um anos depois, é dono de uma das maiores fazendas
de Israel e de um dos currículos
mais polêmicos, tanto na área política quanto na militar.
Ao lado do ex-premiê trabalhista Shimon Peres, 77, Sharon é o
último remanescente de uma liderança política que surgiu junto
com o nascimento do Estado judeu, em 1948.
Ele entrou em 1945 na Haganah,
a organização clandestina que
precedeu o Exército israelense.
Na Guerra da Independência
(1948-49) já era comandante de
pelotão.
Em 1953 tornou-se líder da Unidade 101, criada para retaliar ataques árabes contra Israel. Após o
assassinato de uma israelense e
seu filho no leste de Tel Aviv, Sharon comandou uma operação
contra a aldeia de Kibya, na Cisjordânia, então sob domínio jordaniano, explodindo 45 casas e
matando 69 moradores. Sharon
diz que seus homens entraram
nas casas e viram que elas estavam vazias, explicando que as vítimas deveriam estar escondidas e
não foram vistas.
Na Guerra do Sinai, em 1956,
Sharon comandou uma das batalhas mais difíceis do Exército israelense, causando várias baixas
dos dois lados e enfurecendo seus
superiores, que consideraram a
ação desnecessária. Segundo seus
biógrafos, surpreender os superiores e aumentar as proporções
de suas missões tornaram-se padrões de Sharon.
Nas guerras árabes-israelenses
de 1967 e 1973, ele ganhou bastante respeito de seus comandados e
do país ao liderar missões arriscadas e vitoriosas. Suas tropas foram as primeiras a cruzar o canal
de Suez na guerra de 1973, ação
vista como o ponto de virada do
Exército israelense, que nos primeiros dias do conflito perdeu
terreno para a ação combinada e
surpresa das forças sírias (norte) e
egípcias (sul).
No início dos anos 70, como comandante militar do sul, Sharon
combateu o terrorismo na faixa
de Gaza com deportações em
massa de terroristas e suas famílias. Para facilitar a ação do Exército num campo de refugiados
palestinos, destruiu centenas de
casas para abrir uma avenida larga no meio do campo.
Ele entrou na carreira política
em 1973, pouco antes da guerra, e
foi um dos principais articuladores da união das forças de direita
no partido Likud.
A direita ganhou sua primeira
eleição em Israel em 1977, e Sharon tornou-se ministro da Agricultura. Foi quando organizou o
primeiro grande movimento de
colonização judaica dos territórios palestinos ocupados. Ele
sempre viu nas colônias a melhor
forma de impedir a formação de
um Estado palestino contíguo e
proteger pontos estratégicos.
Mas mostrou pragmatismo ao
retirar sua oposição inicial ao
acordo de paz que Begin costurou
com o presidente egípcio, Anwar
Sadat, entre 1977 e 1979. Ele acabou comandando a retirada, à
força, de colonos judeus do Sinai
ocupado.
Após nova vitória nas eleições
de 1981, Begin nomeou Sharon
ministro da Defesa. Sua primeira
ação foi ordenar ao Exército a elaboração de um plano para impedir que milícias palestinas seguissem bombardeando o norte de Israel de suas bases no sul do Líbano.
Lançada em 6 de junho de 1982,
a chamada "Operação Paz na Galiléia" foi vendida ao gabinete como uma ação rápida para tomar
40 km do sul do Líbano, criando
ali uma "zona de segurança" contra os ataques palestinos. Sharon
omitiu que planejava chegar a
Beirute, empossar um governo
cristão pró-Israel e expulsar a liderança palestina do país.
Iasser Arafat e sua OLP acabaram saindo após fortes bombardeios contra Beirute, criticados
até pelos aliados EUA, e as tropas
israelenses chegaram à capital libanesa. Em 23 de agosto, o Parlamento libanês elegeu um presidente cristão pró-Israel, Bashir
Gemayel, que tomaria posse em
setembro. Pouco antes, foi morto
em atentado orquestrado pela Síria.
Milícias cristãs libanesas, em retaliação ao assassinato de seu líder, invadiram os campos de refugiados palestinos de Sabra e
Chatila, em região de Beirute controlada por Israel, e massacraram
centenas de civis (as estimativas
vão de 800 a 2.000), sem que os israelenses os impedissem. Sharon
afirma que não podia prever a
ação das milícias, que pediram
para entrar nos campos para buscar terroristas.
Israel foi responsabilizado pelo
massacre pela comunidade internacional, e os israelenses, chocados com a atrocidade, saíram em
massa às ruas pedindo o fim da
guerra, a queda do governo e uma
investigação. Um inquérito oficial
concluiu, em fevereiro de 1983,
que Sharon tinha responsabilidade indireta e sugeriu que ele deixasse o posto de ministro da Defesa. Sharon recusou. Só deixou o
governo depois que um extremista lançou uma granada contra
uma das grandes manifestações
pedindo sua queda, matando um
dos manifestantes.
Na época considerou-se que as
ambições políticas de Sharon estavam enterradas. Mas seu conselheiro Uri Dan disse na época,
profeticamente: "Aqueles que não
querem aceitá-lo como ministro
da Defesa terão de aceitá-lo como
primeiro-ministro".
Desde então Sharon ocupou outros cargos no governo, o último
como chanceler do ex-premiê
Binyamin Netanyahu, antecessor
de Ehud Barak. Em 1998, negociou com Arafat a retirada parcial
israelense de Hebron em Wye
(EUA), mas recusou-se a apertar a
mão do líder palestino. Em entrevista recente, chamou Arafat de
"mentiroso" e "terrorista". Se
quiser mesmo seguir com o processo de paz, terá de sentar-se
com ele novamente. Mais um teste para seu pragmatismo.
(SM)
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