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EUA
Michael Mathie, que já cumpriu 12 dos 30 anos de sua condenação por homicídio, ganhou mais de US$ 8 milhões desde 1998
Preso investe em Wall Street e fica rico
TINA KELLEY
DO "THE NEW YORK TIMES"
Em seus documentos de imposto, Michael Mathie escreve "investidor" no espaço em branco
reservado para a ocupação. Ele
ganhou mais de US$ 8 milhões
em ações desde 1998. Mas na penitenciária de Elmira, em Nova
York, uma prisão de segurança
máxima na qual os guardas o chamam de "nosso preso milionário", Mathie é formalmente conhecido como "interno 90T1282".
Ele já cumpriu quase 12 anos de
uma pena de 30 por homicídio.
Ele também é conhecido por
ajudar a pagar pelos custos legais
dos outros presos, além de dar
conselhos sobre as bolsas para
qualquer um que lhe peça. Dado o
seu sucesso em Wall Street, as
pessoas o escutam. "Faço isso para todo mundo, de advogados a
presos", disse ele.
Os presos não podem tocar seus
próprios negócios da prisão, mas,
como um funcionário diz, não
perdem o direito de emitir opiniões atrás das grades.
Os investimentos de Mathie não
são considerados um negócio,
porque ele não os conduz pessoalmente. Seu pai o faz, tornando essa uma das mais estranhas histórias do atual frenesi com o mercado de ações nos EUA.
Mathie, 33, não tem ligação com
a Internet, telefone celular nem telefone comum em sua cela. Ele faz
suas transações ligando para seu
pai a cobrar -até dez vezes por
dia, quando o mercado está mais
forte. Seu pai então fecha os negócios pela Internet.
Ele lembra ter investido em uma
empresa chinesa de comércio de
tecnologia, quando a proposta de
filiação da China à Organização
Mundial do Comércio era um assunto em alta. "A ação subiu de
US$ 1 para US$ 10, depois, no dia
seguinte, para US$ 18, então eu joguei US$ 50 mil, liguei de volta às
10h30 ou às 11h e ela já estava US$
70", diz. "Então eu mantive US$
150 mil e peguei meus US$ 50 mil
de volta em duas horas e meia."
Ele também teve seus tropeços,
quando o mercado de ações de alta tecnologia engasgou. Ele tem
calafrios quando lembra a queda
de agosto de 1998, quando suas
ações perderam US$ 750 mil em
valor em 20 minutos.
Mas ele permanece otimista e
prevê que o índice Nasdaq (que
reúne as empresas de alta tecnologia) vá chegar aos 6.500 pontos no
final de 2002, dos atuais 2.643.
"Definitivamente, não estamos
entrando numa recessão. Se ela
acontecer, será por causa da mídia", afirma.
Mathie, um homem frágil que
parece muito mais com um padre
do que com um assassino, já era
familiarizado com o risco -não o
do tipo financeiro- quando foi
preso, em 1989. Com 21 anos, ele
tinha abandonado os estudos e
era um ex-viciado em cocaína.
Ele e três outros colegas foram
presos pelo assassinato de Paul
Lamariana, 49, que foi golpeado
na cabeça com uma barra de ferro, levou choques com um fio elétrico, foi amarrado, sufocado com
sacos plásticos, enrolado num
carpete e jogado no acostamento
de uma estrada. Mathie admitiu
tê-lo golpeado com a barra de ferro e ter-lhe dado choques.
Mathie diz que sente remorsos
pelo crime, que afirma ter sido cometido porque ele acreditava que
Lamariana estava abusando da filha de um dos colegas envolvidos.
Ele fez consultas sobre como poderia ajudar a família da vítima.
"Gostaria que houvesse algo mais
que eu pudesse fazer", diz. "Eu
melhorei bastante, sempre tendo
Paul (Lamariana) em mente. Isso
é basicamente o que me move."
Violência sexual
Mathie confessou homicídio e
conspiração, mas disse que só fez
isso para sair da prisão do condado de Suffolk, onde ele diz que era
violentado e abusado sexualmente com frequência pelo chefe da
segurança interna.
Por causa disso, Mathie ganhou,
em 1996, US$ 750 mil numa ação
civil. O juiz que analisou o caso
disse que havia claras evidências
de abuso de poder e de autoridade. A indenização foi depois reduzida para US$ 500 mil, após uma
apelação. Com US$ 75 mil, Mathie começou a negociar ações.
Mathie segue com sua rotina
diária, ligando a televisão às 4h
para ver as notícias dos mercados
europeus nos canais abertos
-não há cabo para os condenados. Ele recebe também dezenas
de publicações que o ajudam a tomar suas decisões de investimentos, incluindo o "The Wall Street
Journal" e diversas revistas econômicas especializadas. Os funcionários da prisão que levam sua
correspondência reclamam que
ele recebe muita coisa.
"Eu os recompenso", diz Mathie. "Eles querem saber dicas sobre em quais ações investir, para
suas carteiras de aposentadoria e
coisas assim."
Ele sugere um enfoque diversificado. Quais seus investimentos
favoritos? Milho, que ele acredita
que vá dobrar de preço, Juniper
Networks, JDS Uniphase e
AT&T, que planeja se dividir em
quatro. "São bons investimentos
de longo prazo", afirma.
As ações de empresas de tecnologia têm sido generosas com ele,
e Mathie considera a recente queda como "uma fabulosa oportunidade para compra". Ele é particularmente entusiasta da Yahoo.
"A Yahoo pagou meu Viper",
diz ele, em referência ao seu novo
carro conversível de US$ 97 mil,
mantido na garagem da casa de
sua família, em Long Island.
Ele ajuda outros prisioneiros financeiramente, quando eles precisam. Mathie diz ter pago US$
2.000 em um teste de DNA que ele
acredita que pode livrar um colega da cadeia. Ele também deu US$
5.000 para pagar uma festa especial de Natal para os internos de
um centro de reabilitação juvenil.
Mathie pretende abrir uma organização de ajuda a jovens quando deixar a prisão. Ele teve a liberdade condicional negada em
2000. Sua próxima audiência para
a condicional é em junho.
Ele oferece um prognóstico para o mercado na primeira metade
do ano, que talvez também possa
ser aplicado à sua própria condição: "Os dois primeiros trimestres, até junho, serão bem duros."
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