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SUCESSÃO NOS EUA/DECISÃO REPUBLICANA
McCain investe em conservadores
Acusado por rivais de estar "à esquerda", republicano faz festa e discursa para provar lealdade a ideais do partido
Apesar de o senador ter conquistado mais vitórias, Superterça mostrou que ele ainda carece de força em Estados mais ortodoxos
FÁBIO VICTOR
ENVIADO ESPECIAL A PHOENIX (ARIZONA)
Duas horas antes de John
McCain entrar no salão preparado para a festa no Arizona
Biltmore, um resort de luxo em
Phoenix, um grupo de crianças
vestidas com roupas camufladas já está a postos no lobby para saudá-lo. São os Young Marines (jovens fuzileiros navais)
da cidade de Mesa, codinome
Mesa Desert Devil Dogs (Cães
Endiabrados do Deserto).
Têm entre 8 e 15 anos. O
adulto que os lidera os coloca
em posição de sentido e ordena: "Go, go, go". O grupo atravessa o salão e se posiciona bem
em frente ao palquinho montado anteontem à noite para o
candidato, o líder das primárias
republicanas, que ganhou em
nove Estados na Superterça.
Os Young Marines são escoteiros educados para a guerra.
Desde cedo aprendem a história dos conflitos e como fazer
para um dia integrar a elite das
Forças Armadas americanas.
A Superterça não foi o êxito
que permitiria a McCain liquidar já a disputa republicana, como previam alguns de seus
simpatizantes. Mas, pelo discurso e pelo evento anteontem
em Phoenix, parece cada vez
mais claro que a aura de "maverick" (indomável) do candidato
é uma névoa do passado que a
conveniência eleitoral tem se
encarregado de dissipar.
Um oportunismo cujo efeito
é incerto: tanto pode roubar votos dos rivais no partido, Mitt
Romney e Mike Huckabbe, que
acusam McCain de ser excessivamente "liberal" -ter inclinações esquerdistas-, quanto
afastá-lo de eleitores independentes e de centro.
A moral e a guerra deram o
tom da noite, uma exaltação às
virtudes e princípios da sociedade americana -uma típica
festa conservadora no conservador Arizona de McCain.
"A primeiro razão é a guerra
ao terror", responde a consultora política Sharron Gill, questionada por que vota em
McCain. "A segunda é porque
sua vida parlamentar mostra
uma preocupação com o excesso de gastos do governo."
Ali perto, um senhor com boné dos marines, uma enorme
pedra de turquesa pendurada
na altura do peito e que circula
carregando uma bandeira dos
EUA dobrada é abordado por
outro homem. "Ah, marine? De
que ano?" "De 59." "Ah, eu sou
de 73." E engrenam um bate-papo sobre memórias.
Meia hora antes da chegada
de McCain, a banda que executava clássicos de pop-rock pára.
Inicia-se uma seqüência de
marchas das Forças Armadas
americanas. São canções como
"Stars and Stripes Forever"
[Estrelas e Listras Para Sempre, uma ode à bandeira dos
EUA] e "Glory of the Yankee
Navy [Glória da Marinha Ianque]", seguidas pelo público
com palmas.
São, a reportagem é informada, quase todas de John Philip
Sousa, compositor do início do
século passado, conhecido como "Rei das Marchas" -que tinha ascendência portuguesa.
Princípios
Às 21h35, McCain sobe ao
palco. O público grita "Mac is
back" (Mac voltou). O discurso
parece de improviso, mas depois se percebe que é lido num
teleprompter. Os resultados da
Superterça àquela hora não estão fechados, mas ele admite
que, de azarão, passou a se
acostumar com a idéia de que é
o líder da disputa republicana.
Então desfia uma fala recheada de termos como "princípios" (citado cinco vezes) e
seguro/segurança (quatro), este associado a livre/liberdade
(seis). E assegura aos partidários que sim, conservará o seu
conservadorismo.
"Prometo que, seu eu tiver a
felicidade de ser o indicado, trabalharei duro para garantir que
a filosofia conservadora e os
princípios de nosso grande partido ganhem de novo os votos
da maioria dos americanos."
"Tenho vivido minha vida
com um propósito acima de todos: manter a América segura
de todos os inimigos estrangeiros ou domésticos. E eu nunca
me cansarei dessa honra", afirmou. E mais garantias: "Sou republicano porque, como vocês,
creio que o governo deve defender a segurança de nossa nação
de forma efetiva, pois o custo de
nossa Defesa é medido em perdas difíceis de suportar e no sofrimento de muitas famílias."
Uma ironia: a obsessão com
segurança se resumiu ao discurso de McCain. Havia mais
de mil pessoas no salão do hotel
-e nenhum controle no acesso.
O repórter da Folha entrou e
saiu do local sem ser parado.
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