São Paulo, sábado, 07 de fevereiro de 2009

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Sob críticas, Obama defende decisão de fechar Guantánamo

Presidente se encontra com sobreviventes e parentes de vítimas de atentados que querem suspeitos fora das ruas

Destino dos 245 detentos é o maior dilema, pois maioria não foi julgada e exceções criadas por Bush dificultam levar casos à Justiça comum

Kevin Lamarque/Reuters
Obama e Michele nos 50 anos do Teatro de Dança Alvin Ailey

ANDREA MURTA
DE NOVA YORK

O presidente Barack Obama se reuniu ontem com sobreviventes e famílias das vítimas dos atentados do 11 de Setembro de 2001 e contra o navio USS Cole, em 2000, para se defender de críticas a sua decisão de fechar a prisão de Guantánamo -que mantém presos da "guerra ao terror" na base americana em Cuba.
O encontro, fechado para a imprensa, foi organizado porque Obama "queria falar a essas famílias sobre como resolver questões envolvendo o fechamento de Guantánamo e ao mesmo tempo manter a segurança do povo americano como prioridade", segundo nota da Casa Branca.
O presidente tem sido criticado por aqueles que creem que a decisão de fechar a prisão em um ano fará com que terroristas voltem às ruas. Alguns dos críticos são parentes de vítimas do 11 de Setembro.
"Vão derrubar as acusações? Vão julgá-los em outros tribunais?", indagou Jim Riches, bombeiro aposentado que perdeu um filho no atentado contra o World Trade Center. "Esses homens são perigosos."
Dos atuais 245 prisioneiros de Guantánamo, apenas 21 enfrentavam acusações criminais no mês passado, incluindo cinco supostos envolvidos com o 11 de Setembro.
Robert Gibbs, porta-voz da Casa Branca, disse que "a principal preocupação do presidente é com o fracasso das comissões militares [criadas no governo Bush para julgar suspeitos de terrorismo] em levar os prisioneiros a uma Justiça rápida". Obama "quer (...) oferecer aos detidos a mesma Justiça rápida que [os familiares de vítimas] desejam em nome dos que foram mortos", completou.
A reunião de ontem ganhou importância depois que a juíza Susan Crawford, responsável por enviar casos de Guantánamo a julgamento, retirou acusações contra um suspeito de participar do ataque ao USS Cole, que matou 17 marinheiros na costa do Iêmen.
A decisão foi tomada depois que o juiz do caso se recusou a adiar o julgamento por 120 dias para avaliações, como determinado por Obama logo após sua posse. Crawford foi a primeira funcionária de alto escalão do Pentágono a admitir que havia tortura na base militar.
As acusações contra o suspeito poderão ser reapresentadas, mas o ato decepcionou o comandante da reserva da Marinha Kirk Lippold, que liderava o USS Cole no momento do ataque e foi ao encontro ontem. "Já esperamos oito anos; o trabalho das comissões militares deve continuar", disse.
Além dos familiares de vítimas, congressistas republicanos e comentaristas conservadores vêm expressando ceticismo quanto aos planos de Obama contra o terrorismo. O ex-vice-presidente Dick Cheney chegou a dizer que Obama está "tornando mais fácil para terroristas matar americanos".

Destino dos prisioneiros
O destino dos prisioneiros é uma questão central. Além do temor de que terroristas se reintegrem a suas redes, é politicamente complicado aceitar os suspeitos em prisões no território americano.
A crítica chegou à Europa, onde o debate é alimentado pela recomendação do Parlamento Europeu de que o bloco receba ex-detentos. Mas a UE está dividida. Enquanto Portugal se prontificou a recebê-los, a Holanda e a Áustria se recusam a abrigá-los.
Apesar dos tropeços, Matthew Waxman, analista sênior de política externa e direito do Council on Foreign Relations, afirmou que o debate maior passou de "se" a base deve ser fechada para "como", o que é positivo. Mas ele alerta que o problema vai além dos 245 detidos, e Obama deve criar um ambiente legal para lidar com os próximos suspeitos de terrorismo que forem capturados.
"Por um lado, as ordens executivas para fechar Guantánamo marcam uma virada em relação a Bush. Mas o mesmo quadro legal continua lá, e os prisioneiros ainda são "combatentes inimigos" e não "criminosos'", disse em teleconferência.
Ele alerta que transferir julgamentos a tribunais federais dos EUA, apesar de um caminho correto, trará diversos problemas sobre como lidar com testemunhas, provas e confissões, já que as regras criadas por Bush para a guerra ao terror, que permitem coerção, por exemplo, são de exceção.


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