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São Paulo, sexta-feira, 07 de março de 2003

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COLÔMBIA

Presidente brasileiro espera proposta da ONU para desbloquear as negociações no vizinho

Lula recebe Uribe de olho no processo de paz

ANDRÉ SOLIANI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
CLÓVIS ROSSI
COLUNISTA DA FOLHA

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva recebe hoje seu colega colombiano, Álvaro Uribe, na expectativa de que a ONU adote alguma iniciativa, o mais depressa possível, capaz de desbloquear o processo de paz no país vizinho.
Por sugestão do presidente equatoriano, Lucio Gutiérrez, Lula mandou carta a Kofi Annan, o secretário-geral da ONU, sugerindo que ele lançasse a proposta de cessação dos atentados praticados por grupos guerrilheiros, em troca de um esforço internacional para criar condições para reabrir as negociações.
No governo anterior, de Andrés Pastrana, houve um esforço de diálogo que chegou ao extremo de liberar uma área equivalente à da Suíça para os guerrilheiros.
Pastrana chegou a se encontrar com o mais antigo guerrilheiro em atividade na América Latina, Manuel "Tirofijo" Marulanda.
Mas as negociações acabaram dando em nada, para desalento da sociedade colombiana que, nas eleições de 2002, preferiu apostar em Uribe, que, em campanha, prometeu adotar mão dura contra os grupos armados ilegais.
O presidente colombiano não dá sinais de ter mudado de idéia, mas ele próprio disse, em dezembro, que estava disposto a negociar um acordo humanitário que permitisse a libertação de prisioneiros, sob mediação da ONU.
As Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), principal grupo guerrilheiro e terrorista, rejeitaram a idéia.
Mesmo assim, o governo Lula está disposto a oferecer seus esforços exatamente nesse campo de ações humanitárias.
Mas qualquer proposta depende, primeiro, da iniciativa da ONU e, segundo, do que Uribe disser hoje. "Estamos agindo em sintonia com o governo colombiano", diz Marco Aurélio Garcia, assessor diplomático de Lula.

Terror e semântica
Nem só de guerrilha se compõe o cardápio do encontro Lula/Uribe. Na pauta há acordos de cooperação no combate ao narcotráfico e na segurança de fronteira, de financiamentos no valor de US$ 31 milhões do BNDES para compra de máquinas agrícolas brasileiras, além de integração comercial.
Uribe chega ao Brasil depois de uma constrangedora "questão semântica", conforme termo usado pelo chanceler Celso Amorim.
O Itamaraty, no mês passado, recebeu informações extra-oficiais de que a Colômbia pediria ao governo Lula que classificasse as Farc como grupo terrorista.
Uribe chegou a divulgar uma carta, no dia 12 de fevereiro, no site da Presidência, conclamando os países vizinhos (Brasil, Venezuela, Peru e Equador) a considerarem as Farc terroristas.
O Brasil deixou claro que não poderia catalogar as Farc dessa forma, pois não há no país uma legislação que preveja esse tipo de listas. Reiterou, no entanto, que continuaria condenando os atos terroristas perpetrados por grupos guerrilheiros colombianos.
Daí a "questão semântica": dizer que um grupo comete atos terroristas é o mesmo que dizer que ele é terrorista? Para diplomatas, não. Mas, para evitar maiores constrangimentos, ficou acertado que os dois países não discutiriam mais sobre isso.
A carta que Uribe mandou oficialmente a Lula pediu apenas o apoio do Brasil aos esforços diplomáticos que a Colômbia faria junto a organismos internacionais para condenar a guerrilha.
"Estamos satisfeitos com a posição do Brasil", disse ontem o embaixador da Colômbia, Jorge Enrique Garavito, referindo-se ao fato de o Brasil ter aprovado um comunicado da OEA (Organização dos Estados Americanos), no qual as Farc são acusadas de cometer atos terroristas.
"Quem comete atos terroristas é terrorista, mesmo que tenha outras ações", completou Garavito.
A declaração que Lula e Uribe divulgarão hoje deverá fazer menção aos atos terroristas na Colômbia e à criminalidade nos dois países. O embaixador colombiano lembrou a recente ação dos traficantes no Rio, para enfatizar que o problema de drogas e do crime organizado afeta também países vizinhos.


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