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COLÔMBIA
Presidente brasileiro espera proposta da ONU para desbloquear as negociações no vizinho
Lula recebe Uribe de olho no processo de paz
ANDRÉ SOLIANI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
CLÓVIS ROSSI
COLUNISTA DA FOLHA
O presidente Luiz Inácio Lula
da Silva recebe hoje seu colega colombiano, Álvaro Uribe, na expectativa de que a ONU adote alguma iniciativa, o mais depressa
possível, capaz de desbloquear o
processo de paz no país vizinho.
Por sugestão do presidente
equatoriano, Lucio Gutiérrez, Lula mandou carta a Kofi Annan, o
secretário-geral da ONU, sugerindo que ele lançasse a proposta de
cessação dos atentados praticados por grupos guerrilheiros, em
troca de um esforço internacional
para criar condições para reabrir
as negociações.
No governo anterior, de Andrés
Pastrana, houve um esforço de
diálogo que chegou ao extremo
de liberar uma área equivalente à
da Suíça para os guerrilheiros.
Pastrana chegou a se encontrar
com o mais antigo guerrilheiro
em atividade na América Latina,
Manuel "Tirofijo" Marulanda.
Mas as negociações acabaram
dando em nada, para desalento
da sociedade colombiana que, nas
eleições de 2002, preferiu apostar
em Uribe, que, em campanha,
prometeu adotar mão dura contra os grupos armados ilegais.
O presidente colombiano não
dá sinais de ter mudado de idéia,
mas ele próprio disse, em dezembro, que estava disposto a negociar um acordo humanitário que
permitisse a libertação de prisioneiros, sob mediação da ONU.
As Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), principal grupo guerrilheiro e terrorista,
rejeitaram a idéia.
Mesmo assim, o governo Lula
está disposto a oferecer seus esforços exatamente nesse campo
de ações humanitárias.
Mas qualquer proposta depende, primeiro, da iniciativa da
ONU e, segundo, do que Uribe
disser hoje. "Estamos agindo em
sintonia com o governo colombiano", diz Marco Aurélio Garcia,
assessor diplomático de Lula.
Terror e semântica
Nem só de guerrilha se compõe
o cardápio do encontro Lula/Uribe. Na pauta há acordos de cooperação no combate ao narcotráfico
e na segurança de fronteira, de financiamentos no valor de US$ 31
milhões do BNDES para compra
de máquinas agrícolas brasileiras,
além de integração comercial.
Uribe chega ao Brasil depois de
uma constrangedora "questão semântica", conforme termo usado
pelo chanceler Celso Amorim.
O Itamaraty, no mês passado,
recebeu informações extra-oficiais de que a Colômbia pediria ao
governo Lula que classificasse as
Farc como grupo terrorista.
Uribe chegou a divulgar uma
carta, no dia 12 de fevereiro, no site da Presidência, conclamando
os países vizinhos (Brasil, Venezuela, Peru e Equador) a considerarem as Farc terroristas.
O Brasil deixou claro que não
poderia catalogar as Farc dessa
forma, pois não há no país uma
legislação que preveja esse tipo de
listas. Reiterou, no entanto, que
continuaria condenando os atos
terroristas perpetrados por grupos guerrilheiros colombianos.
Daí a "questão semântica": dizer que um grupo comete atos terroristas é o mesmo que dizer que
ele é terrorista? Para diplomatas,
não. Mas, para evitar maiores
constrangimentos, ficou acertado
que os dois países não discutiriam
mais sobre isso.
A carta que Uribe mandou oficialmente a Lula pediu apenas o
apoio do Brasil aos esforços diplomáticos que a Colômbia faria junto a organismos internacionais
para condenar a guerrilha.
"Estamos satisfeitos com a posição do Brasil", disse ontem o embaixador da Colômbia, Jorge
Enrique Garavito, referindo-se ao
fato de o Brasil ter aprovado um
comunicado da OEA (Organização dos Estados Americanos), no
qual as Farc são acusadas de cometer atos terroristas.
"Quem comete atos terroristas é
terrorista, mesmo que tenha outras ações", completou Garavito.
A declaração que Lula e Uribe
divulgarão hoje deverá fazer menção aos atos terroristas na Colômbia e à criminalidade nos dois países. O embaixador colombiano
lembrou a recente ação dos traficantes no Rio, para enfatizar que
o problema de drogas e do crime
organizado afeta também países
vizinhos.
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