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EUROPA
Chanceler Schröder, cuja política externa voltou a ser aprovada, vê desempregados chegarem a 4,7 mi
Alta do desemprego fragiliza governo alemão
MÁRCIO SENNE DE MORAES
DA REDAÇÃO
Ironicamente, no momento em
que a opinião pública alemã volta
a demonstrar forte aprovação à
política externa da administração
do chanceler (premiê) Gerhard
Schröder, que é contrária à intenção dos EUA de lançar uma ofensiva militar contra o Iraque, o desemprego -o calcanhar-de-aquiles do governo- aproxima-se do recorde histórico do país.
De acordo com estatísticas divulgadas ontem, o número de desempregados cresceu em 83,1 mil de janeiro para fevereiro, atingindo a aterradora casa de 4,7 milhões. Trata-se de 11,3% da mão-de-obra ativa do país, cuja população é de cerca de 82 milhões de habitantes. Em comparação com
o mês de fevereiro de 2002, há 410
mil desempregados a mais agora.
"Para o SPD [Partido Social-Democrata, de Schröder", a situação
é muito difícil. Depois de perder
as eleições regionais de fevereiro,
resultado que o deixou em péssimas condições no Bundesrat [Câmara Alta do Parlamento, na qual a oposição conta com quase dois
terços das cadeiras], Schröder
continua a enfrentar o agravamento do desemprego, o que fragiliza bastante seu governo", afirmou à Folha Elmar Altvater, reputado politólogo de Berlim.
"Em fevereiro, Schröder foi punido eleitoralmente por não ter
apresentado soluções para a estagnação econômica alemã e porque, após sua reeleição [setembro
de 2002], não se mostrou firme
em sua determinação de não
apoiar um eventual ataque dos
EUA ao Iraque. Sua situação melhorou no que se refere à política
externa, pois ele tem sido mais
ativo internacionalmente, mas o
desemprego ainda o assombra."
Na verdade, Schröder está diante de um impasse, segundo alguns
analistas econômicos. "Se não
aplicar certas medidas consideradas conservadoras, como a flexibilização do mercado de trabalho
e a redução da carga tributária
que pesa sobre as empresas, o governo não conseguirá reduzir o
desemprego", apontou Carsten-Patrick Meier, do Instituto para a
Economia Mundial de Kiel.
"Contudo, se fizer isso, o SPD
atrairá a ira dos sindicatos, que
são seus aliados tradicionais. Assim, Schröder deverá decidir logo
se quer colocar a economia do
país nos eixos ou se só tem em
mente sua reeleição, em 2006. Se a
primeira hipótese for a verdadeira, ele será obrigado a distanciar-se um pouco da esquerda tradicional, embora isso possa custar-lhe a reeleição", analisou Meier.
Mas os sindicatos não concordam com ele. "O desemprego não
cresce por falta de reformas estruturais. Precisamos de uma situação econômica mais apropriada
para o crescimento. Isso depende
das políticas monetária e fiscal.
Devemos pôr fim ao Pacto de Estabilidade europeu [que limita a
3% o déficit dos países da zona do
euro]", avaliou Wolfgang Scheremet, economista-chefe da Federação dos Sindicatos da Alemanha.
Ante as divisões atuais da população alemã e o recrudescimento
do desemprego, uma coisa é certa:
Schröder tem de agir rápido para
não correr o risco de perder as rédeas da administração do país.
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