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Iraquianos vão às urnas em eleição crucial
Pleito de hoje, ameaçado por perspectiva de ataques como um que matou 4 pessoas ontem, ditará rumos da reconciliação nacional
Em jogo na eleição também estão os planos de retirada americana até o fim do ano que vem e a disputa por influência entre Irã e sauditas
Khalid Mohammed - 5.mar.10/Associated Press
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Prédio alvejado por ação da Al Qaeda em 2006 ostenta propaganda eleitoral, em Ramadi; insurgentes tentam minar eleições de hoje
SAMY ADGHIRNI
ENVIADO ESPECIAL A BAGDÁ
Os iraquianos vão às urnas
hoje para uma eleição parlamentar cujo resultado ditará os
rumos da reconciliação nacional em andamento e definirá o
papel do país em um Oriente
Médio cada vez mais tenso.
O governo montou uma operação de guerra para dar segurança aos eleitores, abertamente ameaçados de morte pela
facção iraquiana da rede terrorista sunita Al Qaeda. Uma onda de ataques nos últimos dias
deixou cerca de 50 mortos. Ontem, quatro peregrinos morreram num atentado no santuário xiita de Najaf.
Uma carnificina durante o
pleito selaria o fracasso das autoridades em prover segurança
e pavimentaria o caminho para
o adiamento da retirada americana, prevista para ser encerrada em 2011, mas com a saída da
maior parte dos soldados prometida para agosto deste ano.
Nem o Iraque nem os EUA querem postergar a saída das tropas, que ambos os lados fizeram questão de deixar de fora
do esquema de segurança para
a eleição legislativa.
Já uma eleição sem sustos
confirmaria uma tendência de
redução de violência iniciada
em 2007. Embora ainda haja
ataques, bons resultados foram
obtidos graças ao aumento das
tropas americanas (manobra já
revertida) e à cooptação de milicianos sunitas que combatiam
os EUA.
Também teve papel crucial
na queda da violência a reconfiguração das forças de segurança iraquianas. Depois de expulsar quem havia ocupado cargos
importantes na era Saddam
(1979-2003), polícia, Exército e
serviços secretos recrutaram,
treinaram e armaram contingentes hoje responsáveis pelo
que acontece nas ruas do país.
Foram agentes secretos iraquianos que prenderam ontem
um dos principais ideólogos da
insurgência pró-Al Qaeda na
Província de Diyalia.
Maliki
O mentor da estratégia de segurança é o premiê e candidato
à reeleição Nuri al Maliki, o que
confere ao pleito de hoje um
tom plebiscitário -resultados
são esperados em dias, mas
conversas para formar uma
coalizão podem levar meses.
Maliki chegou ao poder, em
meio a um amplo ceticismo,
por ser o único nome de compromisso na galáxia de siglas e
facções que disputaram a eleição de 2005. Um modesto parlamentar do partido xiita Dawa, ele não vem de família tradicional, nunca havia ocupado
grandes cargos e é tido como
apático e sem carisma.
Embora seja um religioso devoto, o premiê sempre evitou
ostentar suas credenciais xiitas. Maliki inclusive reprimiu
com o mesmo vigor as insurgências xiita e sunita.
Houve críticas contra seu silêncio em relação a uma decisão da Justiça eleitoral que baniu cerca de 500 candidatos
vinculados ao regime de Saddam. Maliki reagiu anunciando
a reintegração de 200 mil agentes que haviam sido expulsos
das forças de segurança por supostos vínculos com Saddam.
Até os críticos admitem que a
retórica de Maliki pela unidade
nacional ecoou de forma favorável para muitos iraquianos,
fazendo dele o virtual favorito
-os resultados das pesquisas
encomendadas pelo governo
são mantidos em sigilo.
Prova disso é a vitória obtida
por aliados de Maliki nas eleições provinciais do ano passado, que transcorreram sem
grandes incidentes. Em outro
sinal de que o premiê captou
anseios da população, também
se nota uma mudança na configuração da política nacional,
onde são cada vez mais comuns
alianças de siglas e listas multifacções. O maior adversário de
Maliki nas eleições de hoje é
Iyad Allawi, ex-premiê xiita
que tem o apoio de influentes
sunitas.
Influência externa
Nas conversas de rua em
Bagdá, é frequente ouvir gente
se dizendo farta das divisões
sectárias alimentadas tanto por
Saddam como por políticos iraquianos nos primeiros anos da
ocupação americana.
Embora não haja nenhuma
voz abertamente contrária à reconciliação nacional, há sinais
de interferência externa em favor de dois rivais geopolíticos
suspeitos de alimentar tensões
sectárias: o xiita Irã e a sunita
Arábia Saudita.
O candidato xiita Ahmed
Chalabi, que chegou a ser o favorito dos EUA para comandar
Bagdá após a ocupação, hoje é
íntimo de Teerã. Já Allawi esteve recentemente em Riad. Ambos são acusados de ser títeres
dos poderosos vizinhos. Segundo analistas, iranianos e sauditas usam dinheiro e influência
para garantir que Bagdá seja
governada por um líder aliado.
A perspectiva de um Iraque
pró-Teerã assusta sauditas e
americanos e dificulta até planos de um bombardeio às centrais nucleares iranianas -um
ataque seria quase impossível
sem o uso do espaço aéreo iraquiano. E Teerã teme uma Bagdá aliada das inimigas monarquias petroleiras do Golfo.
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