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Série de escândalos ameaça atingir o premiê da Itália
Onda de corrupção no país envolve desde empresários a funcionários públicos e políticos e possui ingredientes sexuais e religiosos
GINA MARQUES
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE ROMA
Os italianos assistem atônitos ao alastrar de um mal que
parece não ter fim, a corrupção.
Nas últimas três semanas,
surgiram escândalos de corrupção envolvendo a Defesa Civil e um político da maioria do
governo que podem afetar o
premiê Silvio Berlusconi. São
escândalos picantes, temperados com os serviços sexuais de
um corista do Vaticano, dinheiro escondido atrás do quadro
de um padre e a máfia.
Para controlar a ira da opinião pública e não perder votos,
em vista das próximas eleições
regionais, no fim de março, o
governo direitista apresentou
um projeto de lei que proíbe os
políticos condenados por corrupção de se candidatarem por
cinco anos. O projeto deverá
ser aprovado pelo Parlamento.
Segundo o Tribunal de Contas,
de 2008 a 2009, casos de corrupção subiram 229% na Itália.
Quase cem pessoas -entre
empresários, altos funcionários públicos e políticos- foram presas na Itália suspeitas
de corrupção, e outras 50 estão
sendo investigadas.
As detenções começaram em
10 de fevereiro, com Angelo
Balducci, presidente do Conselho Superior de Obras Públicas,
o funcionário público Fabio De
Santis, o construtor Diego Anemone e Mauro della Giovampaola, responsável pelas obras
para acolher a reunião de cúpula do G8+5 que deveria ter sido
realizada na ilha de Madalena
(Sardenha), em julho, mas acabou transferida para Áquila,
após o tremor de 6 de abril.
As obras, a administração e
os trabalhos de emergência para recuperação foram encomendados à Defesa Civil, sem a
necessidade de licitações.
Grampos telefônicos revelaram também que Balducci recorria a um jovem nigeriano,
corista do Vaticano, para contratar prostitutos. Balducci fazia parte da elite laica da Santa
Sé, pois fora nomeado "cavaleiro de Sua Santidade" pelo papa
João Paulo 2º. Depois do escândalo, foi afastado do cargo.
O construtor Diego Anemone também contava com favores de um padre, dom Evaldo
Biasini, que guardava dinheiro
da corrupção na sede da Congregação dos Missionários do
Preciosíssimo Sangue de Jesus,
em Roma. A polícia encontrou €
1 milhão (R$ 2,4 milhões) em
um cofre atrás de um quadro.
A Defesa Civil, encarregada
da gestão de emergências e catástrofes naturais, alargou sua
competência e passou a organizar grandes eventos como o GP
de F-1 e o Mundial de Natação
em Roma. O dinheiro acabava
sendo destinado às mesmas
pessoas, amigos e cúmplices de
responsáveis da Defesa Civil.
Os investigadores documentaram as suspeitas em 20 mil
páginas. Grampos mostraram
que dois empresários comentavam rindo, na noite do sismo:
"Temos de aproveitar. Não tem
terremoto todos os dias".
Guido Bertolaso, chefe da
Defesa Civil e braço direito do
premiê, é investigado por suspeita de desviar verbas em falsas licitações favorecendo empresários amigos por dinheiro e
massagem de brasileiras.
Na terça passada, o senador
Nicola Di Girolamo, do governista PDL (Povo da Liberdade)
renunciou ao cargo e foi preso.
Segundo os investigadores, ele
foi eleito em 2008 na lista dos
candidatos no exterior com
apoio da Ndrangheta, a máfia
da Calábria. Ele está envolvido
ainda com o escândalo da Fastweb e Telecom, uma suspeita
de evasão fiscal e de lavagem de
dinheiro estimada em cerca de €
2 bilhões (R$ 4,8 bilhões).
O premiê também não está
imune. Berlusconi é acusado de
ter subornado o advogado britânico David Mills, cujo processo foi arquivado por prescrição.
As instâncias anteriores haviam condenado Mills a quatro
anos e meio de prisão por receber do premiê cerca de € 450
mil (mais de R$ 1 milhão) de
propina em 1999 e por falso
testemunho a favor de Berlusconi, presidente da Fininvest.
Berlusconi chamou os juízes
de "talebans" e tenta driblar a
Justiça. O julgamento dele está
marcado para o dia 26.
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