São Paulo, domingo, 07 de março de 2010

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Série de escândalos ameaça atingir o premiê da Itália

Onda de corrupção no país envolve desde empresários a funcionários públicos e políticos e possui ingredientes sexuais e religiosos

GINA MARQUES
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE ROMA

Os italianos assistem atônitos ao alastrar de um mal que parece não ter fim, a corrupção.
Nas últimas três semanas, surgiram escândalos de corrupção envolvendo a Defesa Civil e um político da maioria do governo que podem afetar o premiê Silvio Berlusconi. São escândalos picantes, temperados com os serviços sexuais de um corista do Vaticano, dinheiro escondido atrás do quadro de um padre e a máfia.
Para controlar a ira da opinião pública e não perder votos, em vista das próximas eleições regionais, no fim de março, o governo direitista apresentou um projeto de lei que proíbe os políticos condenados por corrupção de se candidatarem por cinco anos. O projeto deverá ser aprovado pelo Parlamento. Segundo o Tribunal de Contas, de 2008 a 2009, casos de corrupção subiram 229% na Itália.
Quase cem pessoas -entre empresários, altos funcionários públicos e políticos- foram presas na Itália suspeitas de corrupção, e outras 50 estão sendo investigadas.
As detenções começaram em 10 de fevereiro, com Angelo Balducci, presidente do Conselho Superior de Obras Públicas, o funcionário público Fabio De Santis, o construtor Diego Anemone e Mauro della Giovampaola, responsável pelas obras para acolher a reunião de cúpula do G8+5 que deveria ter sido realizada na ilha de Madalena (Sardenha), em julho, mas acabou transferida para Áquila, após o tremor de 6 de abril.
As obras, a administração e os trabalhos de emergência para recuperação foram encomendados à Defesa Civil, sem a necessidade de licitações.
Grampos telefônicos revelaram também que Balducci recorria a um jovem nigeriano, corista do Vaticano, para contratar prostitutos. Balducci fazia parte da elite laica da Santa Sé, pois fora nomeado "cavaleiro de Sua Santidade" pelo papa João Paulo 2º. Depois do escândalo, foi afastado do cargo.
O construtor Diego Anemone também contava com favores de um padre, dom Evaldo Biasini, que guardava dinheiro da corrupção na sede da Congregação dos Missionários do Preciosíssimo Sangue de Jesus, em Roma. A polícia encontrou € 1 milhão (R$ 2,4 milhões) em um cofre atrás de um quadro.
A Defesa Civil, encarregada da gestão de emergências e catástrofes naturais, alargou sua competência e passou a organizar grandes eventos como o GP de F-1 e o Mundial de Natação em Roma. O dinheiro acabava sendo destinado às mesmas pessoas, amigos e cúmplices de responsáveis da Defesa Civil.
Os investigadores documentaram as suspeitas em 20 mil páginas. Grampos mostraram que dois empresários comentavam rindo, na noite do sismo: "Temos de aproveitar. Não tem terremoto todos os dias".
Guido Bertolaso, chefe da Defesa Civil e braço direito do premiê, é investigado por suspeita de desviar verbas em falsas licitações favorecendo empresários amigos por dinheiro e massagem de brasileiras.
Na terça passada, o senador Nicola Di Girolamo, do governista PDL (Povo da Liberdade) renunciou ao cargo e foi preso. Segundo os investigadores, ele foi eleito em 2008 na lista dos candidatos no exterior com apoio da Ndrangheta, a máfia da Calábria. Ele está envolvido ainda com o escândalo da Fastweb e Telecom, uma suspeita de evasão fiscal e de lavagem de dinheiro estimada em cerca de € 2 bilhões (R$ 4,8 bilhões).
O premiê também não está imune. Berlusconi é acusado de ter subornado o advogado britânico David Mills, cujo processo foi arquivado por prescrição. As instâncias anteriores haviam condenado Mills a quatro anos e meio de prisão por receber do premiê cerca de € 450 mil (mais de R$ 1 milhão) de propina em 1999 e por falso testemunho a favor de Berlusconi, presidente da Fininvest.
Berlusconi chamou os juízes de "talebans" e tenta driblar a Justiça. O julgamento dele está marcado para o dia 26.


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