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São Paulo, segunda-feira, 07 de abril de 2003

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ERRO

Comboio de curdos e forças especiais dos EUA é bombardeado por americanos, perto de Arbil

"Fogo amigo" mata 18 e fere 45 no norte

DA REDAÇÃO

Dois aviões americanos bombardearam um comboio de combatentes curdos e forças especiais dos EUA no norte do Iraque ontem, matando 18 pessoas e ferindo pelo menos outras 45.
Os mortos no incidente, perto das linhas de batalha a sudeste de Arbil, a principal cidade na zona do norte iraquiano controlada pelos curdos, eram 17 curdos e um tradutor da rede britânica BBC, afirmou o líder curdo Hoshyar Zebari. Entre os feridos, estão altos oficiais militares do Partido Democrata do Curdistão (KDP), um dos dois principais grupos políticos curdos, disse ele.
O comandante das forças especiais curdas Wajy Barzani, irmão mais novo do líder do partido, Massoud Barzani, ficou gravemente ferido. Ele foi transferido de avião por forças americanas a um hospital na Alemanha.
Os comandantes militares curdos Said Abdullah, Abdul Rahman, Mamasta Hehman e Mansur Barzani, filho de Massoud Barzani, também ficaram feridos no incidente de "fogo amigo".
O Comando Central dos EUA em Doha (Qatar) afirmou que, segundo seus "primeiros relatórios de baixas" sobre o mesmo incidente, apenas um civil morreu e seis pessoas ficaram feridas, incluindo um soldado americano, mas que a investigação sobre o incidente não havia terminado.
Zebari disse que o erro pode ter sido causado por um cenário de batalha confuso e instável na região entre Pir Dawad e Dibagah, 40 km a sudoeste de Arbil.
A declaração dos EUA diferia sobre o local do incidente, dizendo que havia ocorrido a cerca de 50 km a sudeste de Mossul, perto de Kalak. Kalak fica 60 km a noroeste de Dibagah.
Forças curdas e americanas pediram "apoio aéreo" depois que uma coluna de tanques iraquianos tentou bloquear soldados da coalizão anglo-americana que avançavam. O comboio estava perto de tanques iraquianos não operantes quando foi atacado, disse Zebari. "É uma situação de guerra, e essas coisas acontecem."
Expulsar soldados iraquianos de Dibagah bloquearia a principal estrada conectando as principais cidades do norte iraquiano nas mãos de Bagdá: Mossul e Kirkuk.
O editor de internacional da BBC, John Simpson, que ficou ferido no incidente, disse que o comboio tinha entre oito e dez carros, dois dos quais levavam soldados americanos. O tradutor da BBC Kamaran Abdurazaq Muhamed morreu de hemorragia após perder as pernas.
Simpson descreveu a situação como "um cenário do inferno", com fogo e cadáveres por todo lado. "Vi pessoas queimando até a morte ao meu redor", disse ele, que sofreu pequenos ferimentos.
Zebari afirmou que o incidente não prejudicaria o apoio político e militar curdo ao esforço da coalizão anglo-americana para derrubar Saddam. "Isso não afetará a nossa determinação de trabalhar juntos", disse Zebari.

Coalizão
No norte do Iraque, pequenos grupos de forças especiais da coalizão anglo-americana operam junto com grupos de guerrilheiros curdos, conhecidos como peshmergas ("aqueles que enfrentam a morte", em curdo), com a missão principal de localizar as tropas iraquianas e chamar aviões para bombardeá-las. Em seguida, determinam até onde os peshmergas devem avançar.
Após a Guerra do Golfo (1991), os EUA e o Reino estabeleceram uma zona de exclusão aérea no norte do Iraque. Na região, majoritariamente habitada por curdos, foi estabelecida uma administração quase autônoma. Organizados -e apoiados pelo poderio aéreo anglo-americano-, os peshmergas têm condições de agir contra os iraquianos, evitando um enfrentamento direto entre os últimos e as forças da coalizão.
É uma estratégia semelhante à adotada pelos EUA no Afeganistão, onde o Taleban foi derrubado por uma ação coordenada entre as forças americanas e grupos armados da oposição afegã.
Os EUA pretendiam invadir o norte a partir da Turquia, mas o Parlamento turco não autorizou.


Com agências internacionais


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