|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ÁSIA
China decide que dará a palavra final sobre questões políticas da ilha; ativistas denunciam quebra de acordo, o que o governo nega
Pequim interfere na eleição de Hong Kong
CLÁUDIA TREVISAN
DE PEQUIM
A China anunciou ontem que
Hong Kong não tem poder para
decidir sobre mudanças em seu
sistema político e que qualquer
proposta de alteração no modelo
eleitoral da ex-colônia britânica
terá de ser aprovada pelo Congresso Nacional do Povo (Parlamento), sediado em Pequim.
Isso significa que o governo
central chinês terá um poder muito mais amplo na definição de temas internos de Hong Kong do
que esperavam vários setores da
ex-colônia, que foi reincorporada
à China em 1997, mas ainda desfruta de relativa autonomia.
Esses setores apostavam que seria possível modificar as regras
sobre a escolha de dirigentes em
Hong Kong com a aprovação de
três quintos do Poder Legislativo
local, o que foi descartado depois
da decisão anunciada ontem.
Qiao Xiaouang, porta-voz do
comitê do Congresso Nacional do
Povo responsável pela interpretação da lei, disse que o poder central chinês dará a palavra final em
questões políticas e eleitorais de
Hong Kong. Pela decisão, o Poder
Legislativo da ex-colônia não poderá adotar nenhuma decisão sobre esses temas sem a aprovação
dos dirigentes chineses.
Apesar de Hong Kong ter voltado ao controle da China, há um
acordo segundo o qual as instituições da região permanecerão
inalteradas por 50 anos. Qiao afirma que essa disposição não foi
violada. Segundo ele, o Congresso
Nacional do Povo não alterou nenhuma determinação existente,
mas apenas esclareceu dúvidas
sobre a aplicação de legislações
contraditórias. "A legislação de
Hong Kong não diz que a região
deve perseguir o socialismo e ela
permanecerá sob o regime capitalista por 50 anos", exemplificou.
Mas os ativistas pró-democracia de Hong Kong sustentam que
não houve uma simples interpretação de textos legais, mas uma alteração indevida da Lei Básica de
Hong Kong, que deveria permanecer inalterada por 50 anos.
"A aprovação prévia de Pequim
[em mudanças políticas e eleitorais], prevista na interpretação,
claramente não é exigida pela Lei
Básica de Hong Kong", disse ao
jornal "South China Morning
Post" o cientista político Ma
Ngok, professor da Universidade
de Ciência e Tecnologia de Hong
Kong. Segundo ele, a decisão retira todo o poder da administração
da ex-colônia.
O professor avalia ainda que a
interpretação tornará mais difícil
qualquer iniciativa de reforma
política na região autônoma.
Apesar de não falar sobre o sistema político a ser adotado no futuro, a interpretação reduz a possibilidade de eleições diretas para
escolha do dirigente político de
Hong Kong depois de 2007, quando termina o mandato do atual
ocupante do cargo, Tung Chee-hwa, indicado por Pequim e tremendamente impopular.
A interpretação adotada pelo
comitê do Congresso Nacional do
Povo afirma que qualquer modificação no sistema eleitoral de
Hong Kong deverá ser regida pelos princípios do gradualismo e
do progresso com ordem.
Segundo Qiao, a realização de
eleições diretas na ex-colônia é o
objetivo final do governo chinês.
Para ele, a interpretação adotada
assegura uma transição tranqüila
nessa direção.
O controle de Pequim sobre
Hong Kong esteve em xeque em
julho de 2003, quando cerca de
500 mil pessoas tomaram as ruas
da ilha para protestar contra alterações legislativas propostas por
Tung, consideradas contrárias às
liberdades democráticas.
Texto Anterior: Só 10% dos xiitas apóiam ações anti-EUA Próximo Texto: Terror: Agentes evitam ataque químico a britânicos, diz BBC Índice
|