São Paulo, quarta-feira, 07 de abril de 2004

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ÁFRICA

Mundo "não deu a mínima", diz ex-comandante das forças de paz no país

Ruanda recorda 10 anos do genocídio

DA ASSOCIATED PRESS

Dez anos atrás, a dona-de-casa Verena Mukarugambwa tentava escapar da morte enquanto extremistas hutus desencadeavam uma onda de matança que durou cem dias e deixou Ruanda, pequeno país africano, em pedaços.
No momento em que fugia pelo interior de Ruanda, seu marido e suas duas irmãs mais novas se juntavam às mais de 500 mil pessoas golpeadas, fuziladas ou espancadas até a morte durante o genocídio.
Hoje, ao lado de líderes africanos e de representantes norte-americanos e europeus, ela participará do evento que relembra o 10º aniversário do início da matança, em 7 de abril de 1994.
"Foi o dia em que alguns de nós deixamos nossas casas e começamos uma vida de fugitivos. É um dia que nunca esquecerei", disse Mukarugambwa.
A matança começou horas depois da misteriosa derrubada do avião do presidente Juvenal Habyarimana, membro da maioria hutu, em 6 de abril de 1994.
Os tutsis, que agora controlam o governo e o Exército, afirmam que o genocídio começou em 7 de abril, em parte porque não querem que coincida com a derrubada do avião de Habyarimana -uma data com significado político para os radicais hutus.
A matança foi orquestrada pelo governo extremista hutu à época no poder. Estimulados pelas mensagens de ódio, soldados do governo, milícias hutus e moradores comuns passavam de uma vila a outra exterminando homens, mulheres e crianças. Quase todas as vítimas eram da minoria tutsi ou hutus moderados.

ONU ausente
Quando o genocídio começou, havia 2.500 soldados da ONU em Kigali (capital), mas eles nunca foram autorizados a intervir.
No dia 21 de abril, enquanto a matança ganhava força, o Conselho de Segurança da ONU aprovou uma resolução para reduzir a força para apenas 270 homens.
Romeo Dallaire, o general canadense que comandava a força de paz, disse ontem, em entrevista coletiva em Kigali, que a comunidade internacional foi a responsável pelo massacre.
"O genocídio ruandês ocorreu porque a comunidade internacional não deu a mínima para os ruandeses", disse Dallaire.
A matança só teve fim em julho de 1994, quando rebeldes tutsis, liderados pelo atual presidente, Paul Kagame, tomou Kigali.


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