São Paulo, sábado, 07 de abril de 2007

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Marinheiros afirmam ter falado sob ameaça

Os 15 britânicos libertados na quarta em Teerã dizem ter ficado isolados e que foram ameaçados de cumprir 7 anos de prisão

Capitão diz que botes do grupo estavam a 3,2 km das águas iranianas quando captura ocorreu e denuncia "pressão psicológica" do Irã

Ben Stansall/France Presse
Seis do 15 membros da Marinha que estiveram presos no Irã, na entrevista ontem na base naval de Devon, a sudoeste de Londres

DA REDAÇÃO

Os 15 marinheiros britânicos que passaram 13 dias presos no Irã afirmaram ter sofrido "pressões psicológicas" para dizer, à televisão iraniana, que eram "culpados" por invadir as águas territoriais daquele país.
O grupo, que voltou anteontem ao Reino Unido, foi capturado durante missão de patrulhamento no golfo Pérsico. Depois de passarem um dia reclusos numa base naval em Devon, a sudoeste de Londres, ontem eles deram entrevista coletiva organizada pelo Ministério da Defesa.
Um dos integrantes do grupo, o capital Chris Air, afirmou que no momento da prisão os dois botes britânicos e seus tripulantes estavam em águas territoriais do Iraque e a 3,2 km do limite das águas do Irã.
Na entrevista, os militares disseram que eram interrogados de madrugada e mantidos isolados, cada um ocupando pequenas celas de uma prisão de Teerã, na qual dormiam sem colchões, sobre pilhas de cobertores. Disseram que deixavam as celas para os interrogatórios com os olhos vendados e mãos amarradas nas costas.
O tenente Felix Carman disse que os interrogadores deixaram claro que, para o grupo, havia só duas opções: ou confessava ter penetrado em águas iranianas e pedia publicamente desculpas, ou então estaria sujeito a sete anos de prisão.

"Encenação"
O governo iraniano qualificou a declaração dos militares de "propaganda" e "encenação". "O que eles não podem negar é que violaram as fronteiras marítimas da República islâmica", disse Mohamad Hosseini, porta-voz diplomático.
Na quarta-feira, para anunciar a libertação dos marinheiros, o presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, montou uma cerimônia depois da qual cumprimentou os militares britânicos e exortou o governo de Londres a não "puni-los" em razão da confissão que haviam feito.
Ontem, os ex-prisioneiros disseram que naquele dia foram levados a um edifício público para assistir pela TV à entrevista do presidente e que depois, de olhos vendados, foram transportados ao local em que o encontrariam.
Depois dos cumprimentos, todos foram novamente vendados e transportados a um hotel, onde pela primeira vez puderam conversar com diplomatas britânicos, entre eles o embaixador em Teerã.
A entrevista dos ex-prisioneiros procurou desfazer a impressão de que o grupo foi presa fácil para o comando iraniano e contestar as críticas, dentro do Reino Unido, de que eles serviram à propaganda do regime islâmico.
"Tentar resistir à prisão não era uma opção. Se tivéssemos optado por essa alternativa muitos de nós não estariam [sãos e salvos] hoje por aqui", disse o capitão Air.
O comandante da Marinha Real, almirante Jonathon Band, afirmou que o grupo "reagiu [em todo o episódio] com uma dignidade considerável e muita coragem".

Pressão sobre marinheira
Ele também disse que seriam revistos os procedimentos para a fiscalização em águas territoriais iraquianas, mas reiterou que não aconselharia aos militares resistir a tiros a qualquer abordagem iraniana.
O regulamento britânico estipula que o militar capturado deve fazer tudo para preservar sua própria integridade, mesmo que, para tanto, e sob pressões, precise mentir.
Um dos ex-prisioneiros disse que a única mulher do grupo, Faye Turney, foi "informada" pelos carcereiros de que os 14 homens já haviam sido libertados. Assim, por quatro dias, ela acreditou ser a única a permanecer no cativeiro.
O grupo disse ter sido inicialmente transportado para um quartel nas imediações do local da captura, seguindo-se interrogatórios que atravessaram a madrugada. Só no dia seguinte foram levados de avião a Teerã.


Com agências internacionais


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