São Paulo, terça-feira, 07 de maio de 2002

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CRIME

Pim Fortuyn foi assassinado a tiros ao deixar uma rádio; suspeito foi detido, mas sua identidade não foi divulgada

Líder da extrema direita é morto na Holanda

France Presse
O corpo do líder de extrema direita Fortuyn (no destaque em foto de novembro) em frente à rádio em que ele havia dado entrevista


DA REDAÇÃO

Pim Fortuyn, 54, o líder da extrema direita holandesa que queria tornar-se o primeiro premiê homossexual do país, foi assassinado ontem em Hilversum (a 20 km de Amsterdã) -nove dias antes da eleição legislativa que definirá o novo premiê holandês.
O ex-professor de sociologia, que causou um turbilhão na normalmente pacata cena política holandesa, foi atingido por seis tiros (segundo a mídia) ao deixar uma rádio local após conceder uma entrevista.
"Pim Fortuyn [pronuncia-se Fortein" está morto. Isso é profundamente trágico. Estou estarrecido", declarou o primeiro-ministro holandês, Wim Kok, poucas horas depois do assassinato.
A polícia local afirmou ter detido um suspeito do crime -de nacionalidade holandesa-, mas não divulgou sua identidade nem os motivos que ele teria para matar o líder de extrema direita.
"O que aconteceu hoje [ontem" é indescritível. Estou arrasado", afirmou Kok, cujo partido (de centro-esquerda) é o mais forte dentro da coalizão governamental atual -que conta com outras duas formações políticas. Segundo pesquisas recentes, seu partido não deve vencer o pleito legislativo de 15 de maio.
Há algumas semanas, a lista nacional da extrema direita para a eleição legislativa, chamada Pim Fortuyn (cujo partido original se chama Roterdã Habitável), vinha subindo nas pesquisas com seu discurso contra imigrantes e a criminalidade. Algumas delas diziam que a lista da extrema direita poderia conquistar até 20% dos votos.
Fortuyn, que, a exemplo de outros líderes da extrema direita européia, pregava o fechamento das fronteiras de seu país -e chegou a afirmar que o islã era uma civilização atrasada-, provocou uma onda de choque político em março, quando seu partido passou a liderar a coalizão que governa Roterdã, segunda cidade do país.
Sua morte ocorreu apenas um dia após a derrota do líder da extrema direita francesa, Jean-Marie Le Pen, no segundo turno da eleição presidencial.

Reações
Políticos de todos os partidos holandeses expressaram indignação com o assassinato, que foi classificado de duro golpe contra a democracia holandesa.
O governo dos EUA condenou veementemente o que chamou de "ato de violência desprovido de sentido", segundo Brenda Greenberg, porta-voz do Departamento de Estado.
O primeiro-ministro do Reino Unido, Tony Blair, também condenou o crime e cancelou uma viagem que faria hoje à Holanda. Ele iria participar de um comício do partido de Kok. "Compartilhamos a dor que aflige os holandeses", declarou.
Representantes de formações de extrema direita européias também manifestaram indignação com o crime. Porém, diferentemente de outras correntes políticas, eles veicularam a hipótese de que se tratasse de um crime com motivos políticos.

Tensão em Haia
Kok exortou a população a manter-se calma. "Pelo amor de Deus, vamos manter a calma. Às vezes, quando as pessoas querem explodir de irritação, a melhor saída é manter a calma", declarou o premiê.
Mas o clima nos arredores do Parlamento holandês era bastante tenso na noite de ontem. Cerca de 200 pessoas, principalmente jovens de cabeça raspada, fizeram um protesto violento contra Kok e contra um sistema político que, para eles, é responsável pela morte de Fortuyn.
"Kok é um assassino", gritou um jovem que não quis identificar-se. "Creio que Fortuyn tenha sido morto por causa de suas crenças políticas", disse Tom Kursten. Apesar da tradicional tolerância política holandesa, o discurso contrário à imigração de Fortuyn era muito bem acolhido por jovens das classes mais baixas, mais afetados pelo desemprego.

Com agências internacionais


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