São Paulo, quarta-feira, 07 de maio de 2008

Próximo Texto | Índice

Mortos em Mianmar chegam a 22,5 mil

Onda gigante provocada por ciclone matou mais do que tempestade, diz governo; número de desaparecidos soma 41 mil

EUA e ONU reclamam das dificuldades impostas por governo ao envio de ajuda; sobreviventes sofrem com escassez de água e comida


Myanmar News Agency/ France Presse
Vista aérea de uma cidade birmanesa devastada após a passagem do ciclone Nargis pela região do delta do Irrawaddy na sexta

DA REDAÇÃO

O número de mortos pelo ciclone Nargis, que atingiu Mianmar na última sexta-feira, chegou a 22.464, segundo divulgou ontem a junta militar que governa o país asiático (antiga Birmânia) desde 1962. A cifra tende a aumentar, já que há 41.054 desaparecidos.
"A maioria das mortes foi causada por uma onda gigante, e não pela tempestade [formada pelo ciclone]", revelou o ministro de Assistência, Maung Maung Swe. "A onda tinha três metros e meio e inundou metade das casas próximas à costa. As pessoas não tinham para onde fugir", completou.
O primeiro número divulgado era de quatro mortos; no domingo foram 351. Anteontem, oficialmente eram 3.934. Na manhã de ontem, o chanceler Nyan Win foi à TV dizer que eram 15 mil, mas a cifra logo saltou para 22,5 mil.
Mesmo antes do ciclone, boa parte do delta do rio Irrawaddy, a área mais atingida, só era acessível por helicóptero ou barco. Agora, é ainda mais difícil, devido aos estragos na pobre infra-estrutura do país e à relutância dos militares em aceitarem ajuda estrangeira.
"A região está alagada, e muitas pontes foram destruídas. Uma equipe verificou ontem a situação ao sul de Yangun, uma das cidades mais afetadas, e relatou que, em algumas áreas, 80% das casas foram destruídas. As construções leves estão em ruínas", contou à Folha, da Suíça, Frederic Baldini, assessor da Médicos Sem Fronteira.
O guia turístico Aung Bein relatou ao jornal espanhol "El País" o que ocorreu quando o Nargis atingiu o prédio onde vive, em Yangun: "O vento estava muito mais forte do que em outras ocasiões e arrancou telhados. O térreo alagou. O barulho era ensurdecedor, parecia que tudo viria abaixo".
Um outro morador disse à BBC que Yangun está "morta". "Muitas ruas estão bloqueadas por grandes árvores. As pessoas estão limpando as ruas, estão tentando elas próprias resolverem seus problemas. Em alguns lugares, a polícia e empregados do governo estão ajudando, mas as autoridades demoram a enviar auxílio."
"Não há muita comida", uma mulher constatou à Reuters em Hlaing Tha Yar, a uma hora de carro de Yangun. "O repolho está quatro vezes mais caro." Segundo a CNN, em Bogalay, onde 10 mil morreram, o estoque de comida só é suficiente para mais cinco dias.
Um das faltas mais sentidas é de água potável. "A grande preocupação são as doenças provocadas pelas enchentes. Por isso é crucial levar água", disse Richard Horsey, porta-voz do escritório de ajuda humanitária da ONU em Bancoc (Tailândia). Mosteiros assumiram o papel de distribuir água.
Em 2000, um ranking da OMS (Organização Mundial da Saúde) classificou o sistema de saúde de Mianmar como o segundo pior do mundo, atrás apenas de Serra Leoa.

Sem visto
A junta militar pediu ajuda internacional, mas tem demorado a emitir os vistos de entrada. Rashid Khalikov, diretor do escritório de assuntos humanitários da ONU, pediu agilidade a Mianmar. A OMS também espera autorização para enviar suas equipes médicas.
"Temo que não aceitem ajuda americana", disse a primeira-dama Laura Bush. "Nossa mensagem é para os militares: deixem os EUA irem ajudar", completou o presidente George W. Bush. O país já liberou US$ 250 mil, mas promete elevar para US$ 3 milhões se puder entrar em Mianmar. No total, países e organizações humanitárias anunciaram a doação de US$ 10 milhões.
"A ONU está pedindo para o governo birmanês abrir suas portas. Mianmar responde: "Dêem-nos o dinheiro, nós o distribuímos". Não podemos aceitar isso", criticou o chanceler francês, Bernard Kouchner.
O Programa Mundial de Alimentos, da ONU, disse ter distribuído 800 toneladas de comida em Yangun.


Com agências internacionais


Próximo Texto: Regime tenta evitar conseqüências políticas
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.