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Mortos em Mianmar chegam a 22,5 mil
Onda gigante provocada por ciclone matou mais do que tempestade, diz governo; número de desaparecidos soma 41 mil
EUA e ONU reclamam das dificuldades impostas por governo ao envio de ajuda; sobreviventes sofrem com escassez de água e comida
Myanmar News Agency/ France Presse
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Vista aérea de uma cidade birmanesa devastada após a passagem do ciclone Nargis pela região do delta do Irrawaddy na sexta
DA REDAÇÃO
O número de mortos pelo ciclone Nargis, que atingiu Mianmar na última sexta-feira, chegou a 22.464, segundo divulgou
ontem a junta militar que governa o país asiático (antiga
Birmânia) desde 1962. A cifra
tende a aumentar, já que há
41.054 desaparecidos.
"A maioria das mortes foi
causada por uma onda gigante,
e não pela tempestade [formada pelo ciclone]", revelou o ministro de Assistência, Maung
Maung Swe. "A onda tinha três
metros e meio e inundou metade das casas próximas à costa.
As pessoas não tinham para onde fugir", completou.
O primeiro número divulgado era de quatro mortos; no domingo foram 351. Anteontem,
oficialmente eram 3.934. Na
manhã de ontem, o chanceler
Nyan Win foi à TV dizer que
eram 15 mil, mas a cifra logo
saltou para 22,5 mil.
Mesmo antes do ciclone, boa
parte do delta do rio Irrawaddy,
a área mais atingida, só era
acessível por helicóptero ou
barco. Agora, é ainda mais difícil, devido aos estragos na pobre infra-estrutura do país e à
relutância dos militares em
aceitarem ajuda estrangeira.
"A região está alagada, e muitas pontes foram destruídas.
Uma equipe verificou ontem a
situação ao sul de Yangun, uma
das cidades mais afetadas, e relatou que, em algumas áreas,
80% das casas foram destruídas. As construções leves estão
em ruínas", contou à Folha, da
Suíça, Frederic Baldini, assessor da Médicos Sem Fronteira.
O guia turístico Aung Bein
relatou ao jornal espanhol "El
País" o que ocorreu quando o
Nargis atingiu o prédio onde vive, em Yangun: "O vento estava
muito mais forte do que em outras ocasiões e arrancou telhados. O térreo alagou. O barulho
era ensurdecedor, parecia que
tudo viria abaixo".
Um outro morador disse à
BBC que Yangun está "morta".
"Muitas ruas estão bloqueadas
por grandes árvores. As pessoas estão limpando as ruas,
estão tentando elas próprias
resolverem seus problemas.
Em alguns lugares, a polícia e
empregados do governo estão
ajudando, mas as autoridades
demoram a enviar auxílio."
"Não há muita comida", uma
mulher constatou à Reuters
em Hlaing Tha Yar, a uma hora
de carro de Yangun. "O repolho
está quatro vezes mais caro."
Segundo a CNN, em Bogalay,
onde 10 mil morreram, o estoque de comida só é suficiente
para mais cinco dias.
Um das faltas mais sentidas é
de água potável. "A grande
preocupação são as doenças
provocadas pelas enchentes.
Por isso é crucial levar água",
disse Richard Horsey, porta-voz do escritório de ajuda humanitária da ONU em Bancoc
(Tailândia). Mosteiros assumiram o papel de distribuir água.
Em 2000, um ranking da
OMS (Organização Mundial da
Saúde) classificou o sistema de
saúde de Mianmar como o segundo pior do mundo, atrás
apenas de Serra Leoa.
Sem visto
A junta militar pediu ajuda
internacional, mas tem demorado a emitir os vistos de entrada. Rashid Khalikov, diretor do
escritório de assuntos humanitários da ONU, pediu agilidade
a Mianmar. A OMS também espera autorização para enviar
suas equipes médicas.
"Temo que não aceitem ajuda americana", disse a primeira-dama Laura Bush. "Nossa
mensagem é para os militares:
deixem os EUA irem ajudar",
completou o presidente George
W. Bush. O país já liberou US$
250 mil, mas promete elevar
para US$ 3 milhões se puder
entrar em Mianmar. No total,
países e organizações humanitárias anunciaram a doação de
US$ 10 milhões.
"A ONU está pedindo para o
governo birmanês abrir suas
portas. Mianmar responde:
"Dêem-nos o dinheiro, nós o
distribuímos". Não podemos
aceitar isso", criticou o chanceler francês, Bernard Kouchner.
O Programa Mundial de Alimentos, da ONU, disse ter distribuído 800 toneladas de comida em Yangun.
Com agências internacionais
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