São Paulo, sexta-feira, 07 de maio de 2010

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Candidato de Uribe pede apoio contra Farc

Sem citar Brasil, Juan Manuel Santos diz à Folha que falta compreensão de vizinhos em luta da Colômbia contra narcoguerrilha

Em segundo lugar nas pesquisas, ex-ministro da Defesa muda equipe de campanha para tentar frear a "maré verde" de Mockus


FLÁVIA MARREIRO
DE CARACAS

Há menos de um mês das eleições presidenciais da Colômbia, o candidato governista Juan Manuel Santos, 58, resolveu mudar vários integrantes de sua equipe de campanha, reação à escalada nas pesquisas de seu oponente Antanas Mockus (Partido Verde).
Mas o ex-ministro da Defesa apoiado pelo popular Álvaro Uribe -ainda que não por toda a base do uribismo- não conseguiu o efeito esperado. A contratação do marqueteiro venezuelano J.J. Rondón, considerado "especialista em guerra suja" eleitoral, caiu mal até entre seus partidários.
Santos, porém, exibe sólida intenção de voto e, ao que tudo indica, passará com Mockus ao segundo turno nas eleições de 30 de maio. Seu trunfo é justamente representar a exitosa política de segurança governista que acossou como nunca as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia). Na entrevista abaixo, concedida por e-mail, o influente Santos, filho de uma das principais famílias da Colômbia -ex-acionista majoritária do jornal "El Tiempo"-, ensaia um discurso conciliador com a Venezuela de Hugo Chávez. Mas não descarta com todas as letras repetir um ataque como o feito à guerrilha no Equador, em 2008, que provocou a maior crise diplomática recente da região. Santos cobra maior "compreensão" com o caráter transnacional do conflito colombiano -crítica corrente da diplomacia do país ao Brasil.

FOLHA - Por que o sr. será melhor presidente para a Colômbia do que seu oponente Antanas Mockus?
JUAN MANUEL SANTOS
- Por três razões. Primeiro: o país não pode mudar de rumo, e eu garanto a continuidade do presidente Uribe e da "segurança democrática". Para mim, retroceder não é uma opção. Segundo: a garantia de que sou um homem de resultados. Como ministro do Comércio Exterior, abri o comércio com a Venezuela. Na Fazenda, implementei reformas que aumentaram recursos para a educação e a saúde.
Como ministro da Defesa, resgatamos Ingrid Betancourt. Acabamos com Raúl Reyes, secretário das Farc, com a operação Fênix. Terceiro: elaboramos uma proposta sólida que chamamos "Triângulo da Prosperidade": trabalho, segurança e educação. É o salto da segurança à prosperidade democrática.

FOLHA - Várias analistas dizem que a solução do conflito armado colombiano não será puramente militar. Apesar dos êxitos, fala-se da emergência de novos grupos paramilitares, houve o escândalo dos civis mortos pelos militares e apresentados como guerrilheiros. Que esperar de sua política do setor?
SANTOS
- O governo Uribe deu passos decisivos para recuperar o controle do território. Agora, devemos reforçar a presença das instituições em todo o país. Para isso, fortaleceremos a capacidade das Forças Armadas nas zonas onde há ainda presença de grupos armados ilegais. Estenderemos a Justiça a todos os rincões e melhoraremos a condição de vida das comunidades rurais. Essa é a forma de assegurar o progresso em um novo marco de legalidade e segurança.

FOLHA - Segundo a imprensa colombiana, o sr. disse não se arrepender do ataque às Farc no Equador. Ordenaria um ataque a outro país se tivesse informação precisa?
SANTOS
- Disse que me sinto muito orgulhoso de ter defendido a segurança de meu povo. Não falei de nenhuma atuação pontual. Repito as palavras que disse: não queremos guerra com nenhum desses países nem com ninguém. Com a Venezuela, a única coisa que quero são boas relações.

FOLHA - Qual sua opinião sobre a Unasul [União de Nações Sul-Americanas]? Numa reunião recente, a entidade propôs um grupo que revise o conflito Colômbia-Venezuela na fronteira. Parece adequado?
SANTOS
- Valorizamos as iniciativas de apoio, no marco do respeito dos Estados e dos princípios da cooperação. É bem-vinda qualquer ajuda.

FOLHA - Uribe já disse que a Venezuela faz "embargo" à Colômbia por conta da queda vertiginosa do comércio, e a imprensa colombiana acusa o Brasil de falta de solidariedade e se aproveitar da situação vendendo mais a Caracas. Faltou solidariedade com a Colômbia?
SANTOS
- Mais que solidariedade, faltou compreensão com a Colômbia em sua luta contra o narcotráfico e grupos insurgentes. Os países da região veem o problema interno da Colômbia como um caso isolado, à exceção de Venezuela, Equador e Panamá que sentem os problemas de segurança e o número de refugiados maciço.


Texto Anterior: Boca de urna aponta derrota de Brown
Próximo Texto: Argentina X Reino Unido: Companhia britânica anuncia descoberta de óleo nas Malvinas
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.