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Candidato de Uribe pede apoio contra Farc
Sem citar Brasil, Juan Manuel Santos diz à Folha que falta compreensão de vizinhos em luta da Colômbia contra narcoguerrilha
Em segundo lugar nas pesquisas, ex-ministro da Defesa muda equipe de campanha para tentar frear a "maré verde" de Mockus
FLÁVIA MARREIRO
DE CARACAS
Há menos de um mês das
eleições presidenciais da Colômbia, o candidato governista
Juan Manuel Santos, 58, resolveu mudar vários integrantes
de sua equipe de campanha,
reação à escalada nas pesquisas
de seu oponente Antanas Mockus (Partido Verde).
Mas o ex-ministro da Defesa
apoiado pelo popular Álvaro
Uribe -ainda que não por toda
a base do uribismo- não conseguiu o efeito esperado. A contratação do marqueteiro venezuelano J.J. Rondón, considerado "especialista em guerra
suja" eleitoral, caiu mal até entre seus partidários.
Santos, porém, exibe sólida
intenção de voto e, ao que tudo
indica, passará com Mockus ao
segundo turno nas eleições de
30 de maio. Seu trunfo é justamente representar a exitosa
política de segurança governista que acossou como nunca as
Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia).
Na entrevista abaixo, concedida por e-mail, o influente
Santos, filho de uma das principais famílias da Colômbia -ex-acionista majoritária do jornal
"El Tiempo"-, ensaia um discurso conciliador com a Venezuela de Hugo Chávez.
Mas não descarta com todas
as letras repetir um ataque como o feito à guerrilha no Equador, em 2008, que provocou a
maior crise diplomática recente da região.
Santos cobra maior "compreensão" com o caráter transnacional do conflito colombiano -crítica corrente da diplomacia do país ao Brasil.
FOLHA - Por que o sr. será melhor
presidente para a Colômbia do que
seu oponente Antanas Mockus?
JUAN MANUEL SANTOS - Por três
razões. Primeiro: o país não pode mudar de rumo, e eu garanto
a continuidade do presidente
Uribe e da "segurança democrática". Para mim, retroceder
não é uma opção.
Segundo: a garantia de que
sou um homem de resultados.
Como ministro do Comércio
Exterior, abri o comércio com a
Venezuela. Na Fazenda, implementei reformas que aumentaram recursos para a educação e
a saúde.
Como ministro da Defesa,
resgatamos Ingrid Betancourt.
Acabamos com Raúl Reyes, secretário das Farc, com a operação Fênix.
Terceiro: elaboramos uma
proposta sólida que chamamos
"Triângulo da Prosperidade":
trabalho, segurança e educação. É o salto da segurança à
prosperidade democrática.
FOLHA - Várias analistas dizem que
a solução do conflito armado colombiano não será puramente militar.
Apesar dos êxitos, fala-se da emergência de novos grupos paramilitares, houve o escândalo dos civis
mortos pelos militares e apresentados como guerrilheiros. Que esperar
de sua política do setor?
SANTOS - O governo Uribe deu
passos decisivos para recuperar o controle do território.
Agora, devemos reforçar a presença das instituições em todo
o país. Para isso, fortaleceremos a capacidade das Forças
Armadas nas zonas onde há
ainda presença de grupos armados ilegais.
Estenderemos a Justiça a todos os rincões e melhoraremos
a condição de vida das comunidades rurais. Essa é a forma de
assegurar o progresso em um
novo marco de legalidade e segurança.
FOLHA - Segundo a imprensa colombiana, o sr. disse não se arrepender do ataque às Farc no Equador.
Ordenaria um ataque a outro país se
tivesse informação precisa?
SANTOS - Disse que me sinto
muito orgulhoso de ter defendido a segurança de meu povo.
Não falei de nenhuma atuação
pontual. Repito as palavras que
disse: não queremos guerra
com nenhum desses países
nem com ninguém. Com a Venezuela, a única coisa que quero são boas relações.
FOLHA - Qual sua opinião sobre a
Unasul [União de Nações Sul-Americanas]? Numa reunião recente, a entidade propôs um grupo que revise
o conflito Colômbia-Venezuela na
fronteira. Parece adequado?
SANTOS - Valorizamos as iniciativas de apoio, no marco do
respeito dos Estados e dos
princípios da cooperação. É
bem-vinda qualquer ajuda.
FOLHA - Uribe já disse que a Venezuela faz "embargo" à Colômbia por
conta da queda vertiginosa do comércio, e a imprensa colombiana
acusa o Brasil de falta de solidariedade e se aproveitar da situação
vendendo mais a Caracas. Faltou solidariedade com a Colômbia?
SANTOS - Mais que solidariedade, faltou compreensão com a
Colômbia em sua luta contra o
narcotráfico e grupos insurgentes. Os países da região
veem o problema interno da
Colômbia como um caso isolado, à exceção de Venezuela,
Equador e Panamá que sentem
os problemas de segurança e o
número de refugiados maciço.
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