São Paulo, quinta, 7 de maio de 1998

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EXTREMA DIREITA
Relatório anual do governo revela tendência de acirramento da violência; oposição culpa desemprego
Ataques racistas crescem 27% na Alemanha

das agências internacionais

Os ataques racistas cometidos por ativistas de extrema direita na Alemanha cresceram 27% no ano passado e somaram 790 incidentes, segundo relatório anual divulgado ontem pelo governo alemão.
Entre os ataques, houve 13 tentativas de homicídio e 677 atos de violência. A propaganda de conteúdo racista e o uso de símbolos como a suástica -ambos proibidos pela Constituição da Alemanha- cresceram 34%.
O relatório foi divulgado menos de duas semanas após o partido de extrema direita União do Povo Alemão (DVU) ter recebido 13% dos votos na eleição regional do Estado de Saxony-Anhalt, na ex-Alemanha Oriental. Foi o melhor resultado já obtido pela extrema direita no país desde o fim da Segunda Guerra Mundial.
"É um desenvolvimento desencorajador", afirmou o ministro do Interior alemão, Manfred Kanther, ao comentar o estudo de 194 páginas realizado pela Agência para a Proteção da Constituição.
"Temos de nos manter alertas. Vamos combater os extremistas de extrema direita, assim como os de extrema esquerda, sem vacilações. E vamos vencer", disse.
O relatório do governo contabilizou 48.400 ativistas de extrema direita na Alemanha em 97. Desse total, 7.600 foram considerados capazes de cometer atos de violência, 19% a mais do que em 96.
Políticos de oposição culparam o fracasso do governo Helmut Kohl no combate ao desemprego, que já atinge 13% (cerca de 5 milhões de alemães), pelo crescimento da violência extremista.
"As razões são óbvias: grande parte de nossa sociedade foi deliberadamente empobrecida e muitos estão com medo de ficar marginalizados num mundo em constante mudança", disse Hertha Daeubler-Gmelin, responsável por assuntos legais do Partido Social Democrata, principal partido de oposição e líder nas pesquisas de opinião para as eleições legislativas de 27 de setembro próximo.
"O governo Kohl nos trouxe um desemprego recorde. Agora deveria admitir sua culpa pelo recorde do crime de extrema direita", afirmou Gunda Roestel, presidente do Partido Verde.
Wolfgang Schaueble, líder no Parlamento da União Democrata Cristã, partido do chanceler Helmut Kohl (no poder desde 82), disse que o governo trabalhará com firmeza para educar os eleitores sobre a extrema direita.
"Nós precisamos explicar que o extremismo é o caminho errado", disse. Os ataques racistas cresceram após a reunificação das duas Alemanhas, a comunista e a capitalista, em 90. Mais de 30 pessoas morreram no início dos anos 90. A partir de 93, o governo passou a reprimir esse tipo de violência e, desde então, os relatórios anuais mostravam tendência de queda.



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