São Paulo, quinta, 7 de maio de 1998

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RETA FINAL
Partido Colorado, no governo, centra sua campanha na imagem de Lino Oviedo, preso por tentativa de golpe
País faz plebiscito sobre general golpista

CLÓVIS ROSSI
enviado especial a Assunção

A eleição presidencial paraguaia transformou-se em um plebiscito sobre o general Lino César Oviedo, preso há 146 dias, condenado a dez anos de cadeia por tentativa de golpe e, por isso mesmo, afastado da disputa eleitoral.
Nem por isso o general deixou de ocupar o centro da cena, como demonstrou, acima de tudo, o comício final da campanha da ANR (Aliança Nacional Republicana, mais conhecida como Partido Colorado, há 53 anos no poder).
O substituto de Oviedo como candidato presidencial, Raúl Cubas Grau, foi claro em seu discurso: "O seu voto vale o dobro, porque fará ganhar a Lista 1 (a chapa colorada) e fará justiça com Lino Oviedo".
A multidão (entre 100 mil e 150 mil pessoas, segundo os jornais locais, anti-Oviedo) explodiu no grito de "liberdade para Oviedo".
Cubas Grau passou toda a campanha dizendo que, se eleito, vai indultar o general golpista, o que explica o "voto em dobro" de seu discurso.
Comenta o colunista político do vespertino "Última Hora", José Maria Costa, na edição de ontem: "Cubas Grau assumiu plenamente sua condição de candidato-marionete".
Não é apenas Cubas Grau quem funciona como fachada para Oviedo: todo o Partido Colorado, exceto o presidente da República, Juan Carlos Wasmosy, assumiu o fato de que o voto na lista 1 é um voto para Oviedo.
"Libere a Oviedo - Vote a Cubas", proclama, por exemplo, o adesivo colado no Fiat 147 vermelho, chapa K-445483, que circula por Assunção.
Na avenida Aviadores del Chaco, que leva do aeroporto às imediações do centro, não há um único poste em que bandeirinhas coloradas, já desbotando, não tragam, ainda, a antiga chapa do partido: "Oviedo-Cubas".
Mas, na avenida España, continuação do caminho ao centro, os colorados puseram novas bandeirolas, bem mais rubras, em que Cubas nem sequer aparece. Dizem apenas: "Lino vive".

Empate e carisma
Só a suposta sobrevivência política do general preso explica por que todas as pesquisas, as já divulgadas e as mantidas em reserva, por ter passado o prazo legal para publicá-las, indicam um empate estatístico entre colorados e a Aliança Democrática.
A Aliança é uma coligação entre o tradicional PLRA (Partido Liberal Radical Autêntico, de leve inclinação centro-esquerdista) e o Encontro Nacional, mais jovem e assumidamente liberal. O candidato da coalizão é Domingo Laíno (PLRA), derrotado nas duas tentativas anteriores de chegar à Presidência (89 e 93).
A lógica mais elementar mandaria dizer que a vitória de Laíno é certa. Primeiro, porque, concorrendo separadamente, o PLRA e o Encontro Nacional tiveram 56% dos votos em 93 (34% para Laíno e 22% para Guillermo Caballero Vargas, líder "encontrista").
Juntos (Caballero Vargas já foi designado responsável pela área econômica, em um eventual governo da Aliança), teriam, portanto, maioria dos votos.
Enquanto a oposição se uniu, a divisão entre os colorados chegou a seu ponto mais selvagem. Tanto que Wasmosy, o presidente que o partido elegeu em 93, não pôde participar do comício de encerramento, acusado de traição.
Por fim, a situação econômica é complicada: para ficar só no seu ângulo mais agudo, a inflação de janeiro a abril atingiu 7,8%, quando a meta do Banco Central era a de fechar o ano todo com menos de 10%.
Tudo, portanto, conspira contra os colorados. Menos o carisma do general Lino César Oviedo, um populista clássico, que, de sua prisão na 1ª Divisão de Infantaria, acabou sendo o sujeito oculto (apenas fisicamente) da eleição.



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