São Paulo, quinta, 7 de maio de 1998

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Máquina do Estado atua para colorados

do enviado especial

Funcionárias e equipamentos de empresas estatais foram flagrados ajudando nos preparativos para o comício de encerramento do Partido Colorado, anteontem.
Os jornalistas questionaram o senador colorado Amado Yambay, que explicou, com toda a naturalidade: "Trata-se de bens do povo e, como foi o povo que se manifestou, era lógico utilizá-los".
O flagrante e a frase são um retrato acabado dos métodos utilizados pelo Partido Colorado para permanecer mais de meio século no poder.
Agora, na primeira eleição em que o longo reinado parece de fato ameaçado, os colorados intensificaram a promiscuidade entre o aparelho de Estado e o partido.
A ponto de o senador Juan Carlos Galaverna ter pedido ao presidente Wasmosy que, "do gabinete presidencial para baixo", todas as dependências do Estado se convertam em comitês de campanha.
Wasmosy, marginalizado pelo partido, dificilmente atenderá o apelo, até porque sairá derrotado na hipótese de ganhar seu inimigo, o general Oviedo, pela interposta pessoa de Raúl Cubas Grau.
Talvez por isso os colorados apostem também no que a oposição batiza de "campanha do medo", dirigida em especial aos 180 mil funcionários públicos, 90% deles filiados ao partido.
Dizem que serão "demitidos a pontapés", na frase do senador Emílio Cubas Grau (irmão de Raúl) e do vice-presidente colorado, Bader Rachid Lichi.
É um contingente ponderável: representa quase 9% do eleitorado total (2,049 milhões). Somado ao de suas famílias, o voto do funcionalismo pode dar a vitória ao candidato pelo qual se inclinar.
A Aliança Democrática acusou o golpe. Sua bancada parlamentar fez publicar ontem matéria paga de página inteira nos jornais para prometer: "A Aliança não tem a intenção de despedir nenhum funcionário público".
A "campanha do medo" incluiu polêmica entre membros do TSJE (Tribunal Superior de Justiça Eleitoral). O representante colorado, Expedito Rojas, denuncia a existência de 20 mil atas eleitorais falsificadas, prontas para serem utilizadas, em caso de necessidade, "contra o Partido Colorado".
"Ele está alucinando", reagiu o presidente do TSJE, Carlos Mojoli.
Tudo somado, parece claro que o resultado final da eleição estará nas mãos dos 260 mil eleitores que se disseram indecisos nas pesquisas publicadas até há duas semanas, fim do prazo legal. Explica-se, assim, a caça impiedosa voto a voto neste final de campanha. (CR)


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