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GUERRA NA IUGOSLÁVIA
Anistia divulga relatório em que acusa a aliança ocidental de bombardear civis deliberadamente
"Otan cometeu crime de guerra em Kosovo"
ROBERT FISK
DO "THE INDEPENDENT"
Apenas cinco dias após a Otan
ter sido isentada de culpa pelo
Tribunal Internacional para Crimes de Guerra pela morte de civis
no conflito de Kosovo (1999), a
Anistia Internacional publicou
ontem um relatório acusando a
aliança militar ocidental de ter cometido graves violações das regras de guerra, assassinatos e, no
caso do ataque à sede da TV sérvia
em Belgrado, um crime de guerra.
O relatório, de 65 páginas, detalha um grande número de mortos
civis em decorrência dos ataques
aéreos da Otan e afirma que "as
baixas entre os civis poderiam ter
sido significativamente reduzidas
se a aliança tivesse respeitado todas as regras de guerra".
A Anistia, organização não-governamental com sede em Londres, salienta que sempre condenou as atrocidades cometidas por
forças iugoslavas contra kosovares de origem albanesa, mas não
deixa de apontar a inconsistência
das informações da Otan.
Apesar de um dos porta-vozes
da Otan ter dito à Anistia que os
pilotos da aliança operaram segundo "regras estritas" durante
os bombardeios ocorridos no ano
passado, a aliança se recusou a
fornecer detalhes das "regras" ou
dos princípios que guiaram os
ataques. O documento diz: "Eles
(Otan) não responderam a questões feitas pela Anistia Internacional sobre incidentes específicos".
A Anistia lembra que aviões da
Otan realizaram 10.484 missões
de ataque sobre o território iugoslavo e que as estatísticas do país
sobre o número de civis mortos
em decorrência desses ataques
variam entre 400 e 1.500.
O relatório condena particularmente um ataque a uma ponte na
cidade de Varvarin, no qual 11 civis foram mortos, em 30 de maio.
"As forças da Otan não suspenderam seus bombardeios, mesmo
depois de estar claro que tinham
atingido alvos civis", concluiu a
Anistia.
Quando a aliança ocidental
atingiu comboios de refugiados
de origem albanesa perto de Djakovica, em 14 de abril, e em Korisa, em 13 maio, "ela deixou de tomar as precauções necessárias para diminuir o número de baixas
em meio à população civil".
O documento afirma que a Otan
privilegiou a segurança de seus pilotos em detrimento da vida de civis iugoslavos. Sobre o ataque a
um hospital na cidade de Surdulica, em 31 de maio, o documento
diz: "Se a Otan bombardeou o
hospital porque acreditava que
ele abrigava soldados sérvios, ela
violou leis de guerra".
Segundo o Artigo 50 do 1º Protocolo da Convenção de Genebra,
"a presença em meio à população
civil de pessoas que não podem
ser definidas como civis não retira
o caráter civil dessa população".
Algumas das críticas mais graves da Anistia envolvem o bombardeio da sede da TV sérvia, em
23 de abril.
"A Otan atacou deliberadamente um alvo civil durante três horas, matando 16 civis, com o simples propósito de atrapalhar as
transmissões da TV sérvia no
meio da madrugada", afirma o relatório da Anistia.
A organização de defesa dos direitos humanos chega a implicar
o premiê britânico na questão.
"Tony Blair pareceu indicar, num
documentário da rede BBC, que
uma das razões pelas quais a TV
sérvia foi atacada foi que imagens
de erros da Otan estavam sendo
passadas por ela a redes ocidentais, mostrando civis mortos e
prejudicando o apoio à guerra
dentro da aliança ocidental."
O ditador iugoslavo, Slobodan
Milosevic, era acusado de "limpeza étnica" -expulsar e matar a
população de origem albanesa de
Kosovo, Província no sul da Sérvia (as Repúblicas da Sérvia e de
Montenegro formam a Iugoslávia). Para tentar forçá-lo a um
acordo, a Otan bombardeou a Iugoslávia por 78 dias.
Ele aceitou as condições da
aliança ocidental, que incluíam
retirada das forças iugoslavas de
Kosovo e o envio de uma força internacional de paz à região.
Tradução de Márcio Senne de Moraes
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