São Paulo, sexta-feira, 07 de junho de 2002

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GUERRA SEM LIMITES

Governo anuncia departamento de segurança interna em meio às pressões por falhas no 11 de setembro

Criticado, Bush cria "ministério antiterror"

Associated Press
Bush (centro) discute com seus principais assessores a criação de departamento contra o terror


DAVID STOUT
DO "THE NEW YORK TIMES"

O presidente dos EUA, George W. Bush, vai criar um órgão de segurança interna que terá status de departamento (ministério). Segundo o presidente, trata-se da maior reorganização do governo desde os anos 1940.
Bush apresentou sua proposta em pronunciamento ao país ontem à noite. "Peço ao Congresso que se junte a mim na criação de um único e permanente departamento com a urgente missão de proteger o povo americano."
O discurso do presidente pareceu, pelo menos em parte, ter como objetivo desviar a atenção pública das audiências realizadas pelo Congresso sobre as falhas das agências de segurança em relação aos atentados de 11 de setembro.
Bush discursou pouco mais de uma hora depois de os noticiários noturnos divulgarem notícias sobre o trabalho dos parlamentares, alguns deles bastante críticos em relação à atuação de seu governo.
A notícia do pronunciamento de Bush se espalhou quando o Comitê Judiciário do Senado ouvia o diretor do FBI (a polícia federal dos EUA), Robert Mueller, e se preparava para ouvir Coleen Rowley, a agente federal que denunciou a incapacidade do FBI de antecipar a possibilidade dos atentados, apesar das pistas.
Mesmo assim, o presidente reconheceu os erros de análise cometidos antes dos ataques de setembro: "Estamos tomando conhecimento agora de que, antes de 11 de setembro, as suspeitas levantadas por alguns de nossos agentes de campo não tiveram a necessária atenção".
Apesar do mea culpa, o presidente não deixou de elevar o tom otimista. "Os EUA estão liderando o mundo civilizado na titânica luta contra o terror. A liberdade está em guerra contra o medo. E a liberdade está ganhando."
Ainda usando da estratégia motivacional, ele pediu aos americanos que colaborassem no esforço contra novos ataques e que ficassem sempre "alertas".

Nova estrutura
Um mês depois dos atentados, Bush criou a Secretaria da Segurança Interna, órgão que centralizou as ações contra o terrorismo dentro dos EUA, e a entregou a Tom Ridge, ex-governador da Pensilvânia. Na época, parlamentares disseram que Ridge seria um "tigre de papel", porque seu poder sobre o FBI e a CIA (agência de inteligência) seria pequeno.
O novo Departamento da Segurança Interna vai usar quase 170 mil funcionários -basicamente vindos de deslocamentos dentro da administração federal- e terá um orçamento de cerca de US$ 37 bilhões -incluindo os orçamentos que virão com o Serviço Secreto e a Guarda Costeira, órgãos que serão absorvidos.
"O governador Ridge é aquele que estará lutando pela criação do novo departamento. Ele será a voz e o rosto da mensagem em favor da criação desse departamento", disse o porta-voz da Casa Branca, Ari Fleischer. Bush elogiou o papel de Ridge até agora e disse que ele continuará chefiando o novo departamento.

Reestruturação
Fleischer afirmou que a proposta é a maior reestruturação governamental desde 1947, quando, durante a Presidência do democrata Harry Truman, foi criada a CIA e reestruturada a cadeia de comando militar.
Essa dimensão, porém, pode ser exagerada -no pós-guerra, já foram criados diversos departamentos, como Habitação e Desenvolvimento Urbano, Educação, Transportes e Energia.
O novo departamento será responsável pela segurança das fronteiras, a inteligência e outras funções hoje supervisionadas por várias agências.
A proposta tem de ser aprovada pelo Congresso, pois altera a organização do Executivo. A previsão é que Bush peça ao Congresso que discuta e vote sobre o assunto ainda neste ano.
O Congresso vem pressionando Bush a elevar o cargo de Ridge para nível de departamento, para que o titular da pasta seja obrigado a depor ao Congresso, coisa que hoje, na qualidade de assessor presidencial, ele não tem de fazer.
Fleischer disse que o plano do presidente não custará mais dinheiro, vai deslocar operações já realizadas dentro da esfera do governo, sem ampliar a burocracia. Mas, se um novo departamento for criado sem originar novos gastos, isso iria contra toda a história de Washington.
Bush sinalizou que o novo departamento terá todo o apoio militar necessário, apesar de não ligado ao Departamento da Defesa.
Entre os principais objetivos do Departamento da Segurança Interna estarão a proteção de infra-estrutura -como usinas nucleares, aeroportos, portos e estradas- e a reação rápida a desastres e/ou ataques químicos, biológicos e nucleares. A principal função, porém, será de centralizar a análise de informações.

Com agências internacionais


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