São Paulo, sexta-feira, 07 de junho de 2002

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AMÉRICA LATINA

Em meio a rumores de golpe, pressão diplomática desestimula militares a se pronunciarem sobre o caos político

Brasil e EUA atuam na crise paraguaia

CLÁUDIA DIANNI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Preocupados com a crise no Paraguai, Brasil e EUA estão atuando, por meio das suas embaixadas, para encontrar uma saída para o país.
Com a deterioração do clima político e econômico, aumentaram os rumores de um golpe. A Folha apurou que os militares paraguaios ainda não se manifestaram devido à pressão diplomática brasileira e americana.
O estopim da atual crise, que se estende por duas semanas, é o processo de privatização no país. O presidente Luiz González Macchi, ameaçado de afastamento pelo Congresso, enfrenta a pressão de agricultores -milhares chegaram a se mobilizar em marcha a Assunção contra a venda de estatais- e sindicatos, que chegaram a anunciar greve geral com início previsto para ontem.
Anteontem, o Senado paraguaio aprovou a suspensão da lei que permitia as privatizações, aplacando os ânimos -a greve foi suspensa e os agricultores interromperam sua marcha.
Os parlamentares oficialistas admitem que votaram a favor para salvar o governo -a oposição não conseguiu votar a abertura de um processo de afastamento de Macchi-, mas o mercado reagiu mal, e o dólar disparou.
O governo considera o processo de privatização crucial para o país, que atravessa grave crise econômica. Macchi apostava na venda da empresa de telefonia Copaco e de outras estatais para fazer caixa.
O Paraguai, que quer um empréstimo do FMI (Fundo Monetário Internacional), teme o efeito de uma expulsão do Mercosul, já que o bloco possui uma cláusula democrática como condição para a participação.
Na avaliação de diplomatas brasileiros, a situação deve se agravar. O governo brasileiro não pretende intervir, mas não vai hesitar em acionar a cláusula democrática do Mercosul em caso de golpe.
Com a crise econômica na Argentina e no Uruguai, o Brasil é o único mercado com condições de absorver os produtos do Paraguai. O principal item de exportação do país é energia elétrica, e o Brasil importa 90% da que o vizinho produz.

Oviedo
O presidente Macchi já chegou a admitir que poderá ter de deixar o governo antes do fim do mandato, em 2003. O problema é que seu partido, o Colorado, não quer que o vice, Julio César Franco, do Partido Liberal Radical Autêntico, assuma a Presidência.
Diante disso, o Partido Colorado cogita convocar eleições apenas para substituir Macchi pelo principal líder colorado, Nicanor Duarte. Os liberais são contra.
O impasse elevou a popularidade do ex-general Lino Oviedo, que está no Brasil desde 2000. Ele é acusado de ter sido o mentor do assassinato do vice-presidente Luis Maria Argaña, em 1999.
Na semana passada, Oviedo disse que voltará ao Paraguai pela Ponte da Amizade. O ex-general criou uma dissidência do Partido Colorado e tem convocado reuniões semanais em Foz de Iguaçu.

Sobrevida presidencial
Macchi obteve ontem uma sobrevida no cargo. Deputados de oposição não conseguiram o número necessário de votos para votar o início de um processo de afastamento.
Anteontem, na marcha dos agricultores um manifestante morreu na repressão da polícia. Na esteira do episódio, opositores de Macchi -oviedistas, liberais e colorados dissidentes- tentaram votar a abertura do processo.
A reação do Partido Colorado foi imediata. Nicanor Duarte disse que, se Macchi fosse destituído, o vice Franco não ficaria 48 horas no poder.

Eleição sem data
O Partido Colorado enfrenta problemas internos entre argañistas (partidários do vice assassinado), oviedistas e colorados tradicionais. O Partido Liberal Radical Autêntico sofre a dissidência dos que não querem Franco como candidato do partido à Presidência em 2003, e o Partido do Encontro Nacional (PEN), criado por empresários na década de 80, está esfacelado.
A crise institucional no Paraguai é tão profunda que até ontem não havia consenso sobre a data das eleições -provavelmente, abril ou maio.


Colaborou José Maschio, da Agência Folha, em Londrina

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