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Opinião pública guiará extremistas, diz analista
OTÁVIO DIAS
DA REDAÇÃO
A opinião pública palestina deverá ser o fator que determinará
se o Hamas, principal grupo terrorista palestino, anunciará um
cessar-fogo nos próximos dias ou
seguirá enviando homens-bombas contra alvos israelenses,
ameaçando as novas iniciativas
de paz.
Segundo o israelense Amatzia
Baram, especialista em grupos
terroristas islâmicos, professor de
história do Oriente Médio da Universidade de Haifa (Israel) e pesquisador do Instituto Brookings,
em Washington (EUA), os palestinos estão cansados de violência
e querem o fim da Intifada.
"Eles deixaram isso claro ao Hamas há cerca de um mês e têm repetido isso, o que influenciará o grupo. Tudo depende das ruas",
disse Baram, 64. Leia entrevista
por telefone à Folha, de Israel.
Folha - Qual é o significado do
anúncio do Hamas de que não negociará mais com Abu Mazen?
Amatzia Baram - É difícil saber
exatamente. Talvez possamos
compreender como uma reação
às declarações de Mazen da quarta-feira, em Ácaba [Jordânia],
quando ele disse que poria fim ao
terrorismo contra israelenses. O
Hamas tomou isso como uma
ofensa pessoal, pois se considera
um movimento de libertação, não
um grupo terrorista. Também
quer deixar claro que não entregará suas armas até que toda a Palestina esteja liberada. Só que, para o grupo, a Palestina inclui Tel
Aviv, Haifa e outras cidades no
coração de Israel. Ou seja, o grupo
nunca abrirá mão de suas armas.
Também é possível que o Hamas
esteja fazendo uma demonstração de força, mas reinicie negociações em uma ou duas semanas.
Folha - Pode haver uma guerra civil entre palestinos?
Baram - Não. Vejo duas possibilidades. Um acordo entre o premiê e o Hamas que resulte num
cessar-fogo. Ou a renúncia de Mazen, no caso de o grupo continuar
a enviar homens-bombas para Israel. O premiê não tem o poder, as
armas e as pessoas para vencer o
Hamas pela força. Ele tem mais
controle sobre as forças de segurança na faixa de Gaza, mas, na
Cisjordânia [de onde saem a
maioria dos suicidas], o presidente da Autoridade Nacional Palestina, Iasser Arafat, é mais forte.
Mas há uma esperança.
Folha - Qual?
Baram - As pessoas, principalmente na faixa de Gaza, mas também na Cisjordânia, estão muito
cansadas e realmente querem o
fim das hostilidades. Deixaram isso claro aos líderes do Hamas há
um mês e têm repetido isso. Não
podemos ter certeza do que vai
acontecer, mas me parece que a
opinião pública palestina é contra
a continuação da Intifada. E isso
influenciará o Hamas.
Folha - E qual será a influência de
Arafat?
Baram - Arafat quer que Abu
Mazen fracasse, com a esperança
de que os americanos e os israelenses se voltem novamente para
ele como condutor das negociações de paz.
Folha - Mas o governo americano
e o israelense já deixaram claro
que não negociarão mais com Arafat.
Baram - É verdade. Isso nunca
acontecerá, mas Arafat acha que
eles conversarão com ele, se não
houver outra opção. Mas, não esqueça, o principal protagonista
no momento é o Hamas, e o mais
importante é a opinião das ruas.
Se os sentimentos forem no sentido de que a Intifada deva acabar,
o Hamas acabará aceitando isso.
Israel também tem parte da responsabilidade. Se Sharon mostrar
que está fazendo algo para melhorar a vida dos palestinos, se desativar postos de controle em fronteiras, permitir a entrada de mais
trabalhadores palestinos em Israel, as chances de sucesso das negociações de paz aumentam. Sharon precisará correr riscos. Se a
atual tentativa de paz fracassar,
creio que teremos mais dois ou
três anos de banho de sangue.
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