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Bloqueios deixam Argentina entre escassez e desperdício
Protestos de caminhoneiros impedem o abastecimento das grandes cidades
Sem conseguir distribuir o produto, fabricantes de leite jogam líquido fora; situação pode se agravar se locaute continuar nos próximos dias
ADRIANA KÜCHLER
DE BUENOS AIRES
Após 88 dias de conflito entre
o setor agropecuário e o governo de Cristina Kirchner, os argentinos sofrem mais uma vez
o risco de desabastecimento de
alimentos. Desta vez, são os
bloqueios de vários trechos de
estradas por donos de caminhões que transportam grãos
que começam a afetar o abastecimento nas cidades.
Os manifestantes impedem a
passagem de caminhões com
alimentos como forma de protesto contra o locaute agropecuário. Reclamam que não têm
trabalho desde o início do confronto, quando os produtores
rurais decidiram interromper a
venda de grãos ao exterior.
O locaute ruralista foi provocado pelo aumento de impostos
sobre as exportações de grãos,
em março. O governo justificou
que a medida visava abastecer o
mercado interno e redistribuir
os lucros do setor agropecuário. Naquele mês, foram os produtores rurais que bloquearam
as estradas do país, em protesto, gerando desabastecimento.
Com caminhões de alimentos bloqueados nas quatro
principais Províncias em produção agrícola, Buenos Aires,
Córdoba, Entre Ríos e Santa Fé,
ontem começavam a faltar alimentos nos populares mercados chineses da capital.
"Já faltam laticínios e, se os
bloqueios continuarem, nas
próximas 48 horas, começarão
a faltar carne e verduras", afirmou a presidente da Câmara
Empresarial de Desenvolvimento Argentino e de Países do
Sul Asiático, Yolanda Durán.
No Mercado Central de Buenos Aires, onde se abastecem
pequenos e grandes mercados,
o presidente Miguel Saredi
afirmou que "que a situação
ainda não é de desabastecimento", mas que "o cenário ficará grave se as medidas de força continuarem na segunda".
Os supermercados dizem ter
estoque para uma semana.
Leite derramado
Nos dois últimos dias, produtores de leite tiveram que jogar
fora ou distribuir mais de 300
mil litros porque o produto estraga se fica muito tempo dentro de caminhões.
Segundo o gerente de relações institucionais da empresa
de laticínios Sancor, Sergio
Montiel, entre ontem e hoje seria cortado o abastecimento de
leite. "Não é possível tirar produtos de nenhuma fábrica. Nos
currais onde já sabem que não
vão poder passar [com o produto], ordenham e já jogam o leite
fora no campo mesmo."
Ontem à noite, os líderes das
principais entidades agropecuárias, que comandam o locaute do setor, se reuniam para
discutir se suspenderiam o locaute, previsto para terminar
na segunda-feira. Os produtores buscam evitar o desabastecimento a todo custo para não
perder o apoio nas cidades.
O presidente da Federação
Agrária Argentina, Eduardo
Buzzi, afirmou que os bloqueios são "funcionais ao governo" e que "desprestigiam o
protesto que os produtores
vêm fazendo".
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