São Paulo, sábado, 07 de junho de 2008

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Bloqueios deixam Argentina entre escassez e desperdício

Protestos de caminhoneiros impedem o abastecimento das grandes cidades

Sem conseguir distribuir o produto, fabricantes de leite jogam líquido fora; situação pode se agravar se locaute continuar nos próximos dias

ADRIANA KÜCHLER
DE BUENOS AIRES

Após 88 dias de conflito entre o setor agropecuário e o governo de Cristina Kirchner, os argentinos sofrem mais uma vez o risco de desabastecimento de alimentos. Desta vez, são os bloqueios de vários trechos de estradas por donos de caminhões que transportam grãos que começam a afetar o abastecimento nas cidades.
Os manifestantes impedem a passagem de caminhões com alimentos como forma de protesto contra o locaute agropecuário. Reclamam que não têm trabalho desde o início do confronto, quando os produtores rurais decidiram interromper a venda de grãos ao exterior.
O locaute ruralista foi provocado pelo aumento de impostos sobre as exportações de grãos, em março. O governo justificou que a medida visava abastecer o mercado interno e redistribuir os lucros do setor agropecuário. Naquele mês, foram os produtores rurais que bloquearam as estradas do país, em protesto, gerando desabastecimento.
Com caminhões de alimentos bloqueados nas quatro principais Províncias em produção agrícola, Buenos Aires, Córdoba, Entre Ríos e Santa Fé, ontem começavam a faltar alimentos nos populares mercados chineses da capital.
"Já faltam laticínios e, se os bloqueios continuarem, nas próximas 48 horas, começarão a faltar carne e verduras", afirmou a presidente da Câmara Empresarial de Desenvolvimento Argentino e de Países do Sul Asiático, Yolanda Durán.
No Mercado Central de Buenos Aires, onde se abastecem pequenos e grandes mercados, o presidente Miguel Saredi afirmou que "que a situação ainda não é de desabastecimento", mas que "o cenário ficará grave se as medidas de força continuarem na segunda". Os supermercados dizem ter estoque para uma semana.

Leite derramado
Nos dois últimos dias, produtores de leite tiveram que jogar fora ou distribuir mais de 300 mil litros porque o produto estraga se fica muito tempo dentro de caminhões.
Segundo o gerente de relações institucionais da empresa de laticínios Sancor, Sergio Montiel, entre ontem e hoje seria cortado o abastecimento de leite. "Não é possível tirar produtos de nenhuma fábrica. Nos currais onde já sabem que não vão poder passar [com o produto], ordenham e já jogam o leite fora no campo mesmo."
Ontem à noite, os líderes das principais entidades agropecuárias, que comandam o locaute do setor, se reuniam para discutir se suspenderiam o locaute, previsto para terminar na segunda-feira. Os produtores buscam evitar o desabastecimento a todo custo para não perder o apoio nas cidades.
O presidente da Federação Agrária Argentina, Eduardo Buzzi, afirmou que os bloqueios são "funcionais ao governo" e que "desprestigiam o protesto que os produtores vêm fazendo".


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