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Eleição libanesa divide o Oriente Médio
Com apoio da Síria e do Irã, Hizbollah enfrenta governo apoiado por EUA e Arábia Saudita; voto de cristãos é decisivo
Resultado do pleito terá peso simbólico, mas pouco efeito prático no Líbano, diz analista; próximo premiê será nome de consenso
CLARA FAGUNDES
DA REDAÇÃO
Os libaneses travam hoje, nas
urnas, uma das mais cruciais
batalhas entre facções pró e anti-Ocidente do Oriente Médio.
Apoiada pela Síria e pelo Irã,
a coalizão do grupo xiita Hizbollah -misto de milícia e partido
político- enfrenta o governo
do premiê sunita Saad Hariri,
aliado de EUA e Arábia Saudita.
Com colégio eleitoral menor
que o da cidade do Rio de Janeiro, o pleito mobilizou o mundo.
O vice-presidente americano,
Joe Biden, foi a palanque em
Beirute para ameaçar suspender apoio ao país se grupos "antipaz" ganharem a eleição. A
Arábia Saudita e a Síria financiam candidatos abertamente.
Israel, que travou guerra com
o Hizbollah por 33 dias em
2006, observa atentamente o
pleito. "Naturalmente, Israel
prefere que moderados estejam no poder, mas sabe que o
Hizbollah não atacará da noite
para o dia se vencer", afirmou o
cientista político Hilal Khashan, da Universidade Americana de Beirute.
O analista israelense Barry
Rubin concorda. Uma atitude
de confrontação imediata não
interessa ao Hizbollah, por colocar em risco sua própria estrutura militar e social, avalia.
Termômetro ideológico para
a região, a vitória ou derrota do
Hizbollah terá poucas implicações práticas no próprio Líbano, segundo Khashan. O próximo premiê do país deve ser o
moderado sunita Najib Mikati,
não importa quem vença, antecipou o analista à Folha.
"O Líbano não é uma democracia liberal; o sistema se baseia na acomodação de conflitos. Os dois campos concordam
que o próximo governo será essencialmente técnico, liderado
por um premiê sunita neutro.
Creio que há consenso sobre
Mikati", afirmou o analista.
Empresário, Mikati já foi
premiê em 2005, após o assassinato de Rafik Hariri. A morte
detonou um movimento anti-Síria que culminou no fim da
ocupação militar do Líbano.
Cristãos decisivos
O sistema eleitoral libanês
regula uma rígida distribuição
do poder entre as comunidades
religiosas. O premiê é sempre
um sunita, o presidente é um
cristão maronita, e o líder do
Parlamento, um xiita. Os três
têm entre suas atribuições centrais mitigar as tensões no país,
que explodiram em guerra civil
entre 1975 e 1990.
Pesquisas indicam que os
eleitores estão divididos, com
pequena vantagem para a oposição. Com os muçulmanos xiitas alinhados ao Hizbollah e os
sunitas ao governo, as atenções
se voltam para aos cristãos.
O general secular Michel
Aoun, principal líder da comunidade cristã libanesa, se uniu
ao Hizbollah contra o governo,
em uma aliança de minorias
históricas contra os sunitas.
Enfrenta, porém, a oposição
interna da Falange Cristã, que
apoia Hariri e, em campanha,
retratou o pleito como uma escolha entre "a guerra e a paz."
Para Khashan, nem a guerra
nem a paz duradoura serão decidas hoje. "Ainda que o campo
da Falange Cristã e do governo
conquistasse maioria no Parlamento, eles teriam meios para
dissolver o Hizbollah ou forçar
o grupo a desarmar-se? Não."
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