São Paulo, domingo, 07 de junho de 2009

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Eleição libanesa divide o Oriente Médio

Com apoio da Síria e do Irã, Hizbollah enfrenta governo apoiado por EUA e Arábia Saudita; voto de cristãos é decisivo

Resultado do pleito terá peso simbólico, mas pouco efeito prático no Líbano, diz analista; próximo premiê será nome de consenso

CLARA FAGUNDES
DA REDAÇÃO

Os libaneses travam hoje, nas urnas, uma das mais cruciais batalhas entre facções pró e anti-Ocidente do Oriente Médio.
Apoiada pela Síria e pelo Irã, a coalizão do grupo xiita Hizbollah -misto de milícia e partido político- enfrenta o governo do premiê sunita Saad Hariri, aliado de EUA e Arábia Saudita.
Com colégio eleitoral menor que o da cidade do Rio de Janeiro, o pleito mobilizou o mundo. O vice-presidente americano, Joe Biden, foi a palanque em Beirute para ameaçar suspender apoio ao país se grupos "antipaz" ganharem a eleição. A Arábia Saudita e a Síria financiam candidatos abertamente.
Israel, que travou guerra com o Hizbollah por 33 dias em 2006, observa atentamente o pleito. "Naturalmente, Israel prefere que moderados estejam no poder, mas sabe que o Hizbollah não atacará da noite para o dia se vencer", afirmou o cientista político Hilal Khashan, da Universidade Americana de Beirute.
O analista israelense Barry Rubin concorda. Uma atitude de confrontação imediata não interessa ao Hizbollah, por colocar em risco sua própria estrutura militar e social, avalia.
Termômetro ideológico para a região, a vitória ou derrota do Hizbollah terá poucas implicações práticas no próprio Líbano, segundo Khashan. O próximo premiê do país deve ser o moderado sunita Najib Mikati, não importa quem vença, antecipou o analista à Folha.
"O Líbano não é uma democracia liberal; o sistema se baseia na acomodação de conflitos. Os dois campos concordam que o próximo governo será essencialmente técnico, liderado por um premiê sunita neutro. Creio que há consenso sobre Mikati", afirmou o analista.
Empresário, Mikati já foi premiê em 2005, após o assassinato de Rafik Hariri. A morte detonou um movimento anti-Síria que culminou no fim da ocupação militar do Líbano.

Cristãos decisivos
O sistema eleitoral libanês regula uma rígida distribuição do poder entre as comunidades religiosas. O premiê é sempre um sunita, o presidente é um cristão maronita, e o líder do Parlamento, um xiita. Os três têm entre suas atribuições centrais mitigar as tensões no país, que explodiram em guerra civil entre 1975 e 1990.
Pesquisas indicam que os eleitores estão divididos, com pequena vantagem para a oposição. Com os muçulmanos xiitas alinhados ao Hizbollah e os sunitas ao governo, as atenções se voltam para aos cristãos.
O general secular Michel Aoun, principal líder da comunidade cristã libanesa, se uniu ao Hizbollah contra o governo, em uma aliança de minorias históricas contra os sunitas.
Enfrenta, porém, a oposição interna da Falange Cristã, que apoia Hariri e, em campanha, retratou o pleito como uma escolha entre "a guerra e a paz."
Para Khashan, nem a guerra nem a paz duradoura serão decidas hoje. "Ainda que o campo da Falange Cristã e do governo conquistasse maioria no Parlamento, eles teriam meios para dissolver o Hizbollah ou forçar o grupo a desarmar-se? Não."


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