São Paulo, sexta-feira, 07 de julho de 2006

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Um ano depois, Londres recupera calma

Após atentados que mataram 52 pessoas, informe aponta queda nos crimes e mais satisfação com a polícia

Sang Tan/Associated Press
Policial armado patrulha área perto do Parlamento, em Londres


MARCO AURÉLIO CANÔNICO
DE LONDRES

Um ano depois dos quatro ataques coordenados que mataram 52 pessoas em um ônibus e três estações de metrô, Londres está mais segura e sua população voltou à vida normal. Mas ninguém duvida que outro atentado suicida possa acontecer na capital britânica.
Essa é a conclusão de especialistas e autoridades de segurança ouvidos pela Folha sobre o que mudou em Londres desde que quatro terroristas explodiram quatro bombas na manhã de 7 de julho de 2005, tornando real um cenário previsto há décadas na cidade.
"Vivemos com a ameaça terrorista por muitos anos e, como nação, entendemos esses riscos. Mas o tipo de ação daquele dia não foi algo ligado a uma organização, foi algo mais volátil, ideológico, difícil de prever e de rastrear", disse Sandra Bell, diretora do Departamento de Segurança Nacional do Instituto Real de Serviços Unidos para Estudos de Defesa e Segurança.
"É um movimento internacional que os métodos de inteligência convencionais não conseguem captar. Por isso, pode acontecer novamente, apesar de todo o esforço para melhorar a segurança", disse.
Não que os esforços da polícia britânica tenham sido à prova de críticas ou de ações desastrosas. Na mais grave delas, policiais mataram a tiros em um vagão do metrô o eletricista brasileiro Jean Charles de Menezes, 27, confundido com um terrorista 15 dias depois dos atentados e no dia seguinte a uma tentativa frustrada de promover um novo ataque.
A divulgação do relatório pela Comissão Independente de Queixas sobre a morte do brasileiro, prevista para o mês, foi adiada para o final de agosto, gerando mais críticas.
A Polícia Metropolitana não respondeu aos pedidos de entrevista da Folha, mas divulgou um relatório sobre seu desempenho no último ano intitulado "Londres Fica Mais Segura". Nele, informa que o número de crimes na capital está em seu menor patamar nos últimos cinco anos e que o índice de satisfação da população em relação à polícia cresceu 10%.
"As pessoas depositaram muita fé nas ações da polícia e do governo, como é normal nessas situações. E deve-se notar que, ao contrário da resposta emocional que o governo dos EUA deu ao 11 de Setembro, os políticos britânicos reagiram de modo prático, gerenciando o problema", afirmou Stefan Halper, especialista em segurança internacional da Universidade de Cambridge.
Deve-se notar, contudo, que o endurecimento do sistema de segurança pós-atentados custou ao premiê Tony Blair sua maior derrota parlamentar, ao ver rejeitada a proposta de legislação antiterrorismo que, entre outras disposições, ampliava de 14 para 90 dias o prazo para a polícia manter presos suspeitos sem indiciamento.
Para o professor David Alexander, da Robert Gordon University, um dos maiores especialistas do país em trauma e reações sociais, as reações aos atentados tiveram um efeito positivo. "O 7 de Julho causou algo chamado "espírito da blitz", que é a união que se verifica em uma sociedade quando ela se vê atacada. Já havíamos vivenciado isso nos bombardeios da Segunda Guerra Mundial, por exemplo. As pessoas se unem, ficam mais alertas para o perigo e mais solidárias."
Alexander também afirmou que a maior parte da população já voltou a viver normalmente. "A taxa de utilização do metrô, que voltou a atingir seu pico após a queda na seqüência dos atentados, é prova disso", diz.


Texto Anterior: Mexicano ainda precisa construir sua legitimidade
Próximo Texto: TV Al Jazira divulga vídeo de terrorista
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.