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Protestos deixam ao menos 156 mortos no oeste chinês
Choque entre muçulmanos uigures e polícia pode ser pior conflito étnico da década
Região a 3.200 km de Pequim tem movimento separatista; manifestações são reação a morte de uigures acusados de estupro, segundo relatos
RAUL JUSTE LORES
DE PEQUIM
Ao menos 156 pessoas morreram e mais de 800 ficaram feridas, segundo a agência estatal
da China, após violentos choques entre a população muçulmana uigur, os chineses da etnia han e a polícia, em Urumqi,
capital da Província de Xinjiang, a 3.200 km de Pequim.
O governo não diz como as
mortes ocorreram nem quem
são as vítimas. A internet está
fora do ar na maior parte da
Província, e o Twitter foi bloqueado. Mas a tensão na região
separatista no extremo oeste,
rica em petróleo e gás, só cresceu nas últimas semanas.
No mês passado, dois operários muçulmanos foram assassinados em uma fábrica de
brinquedos no sul da China,
após acusações de que teriam
estuprado operária da etnia
han, majoritária no país. Descobriu-se depois que as acusações eram falsas, feitas na internet por ex-colega de fábrica.
A partir das 7h da noite de
domingo, cerca de mil jovens
uigures começaram uma passeata diante do Grande Bazar
de Urumqi e pouco depois começaram a atacar lojas e estabelecimentos de chineses han e
a incendiar carros e ônibus.
Manifestantes gritaram o nome dos muçulmanos mortos,
de acordo com testemunhas.
A polícia chinesa chegou
pouco depois, e a violência se
intensificou. Se os números forem confirmados, terá sido o
mais violento conflito étnico da
China na década. Mas não se
sabe ainda quantos dos mortos
são vítimas de uigures violentos ou da repressão policial.
Outras 1.434 pessoas foram
detidas, segundo a imprensa
estatal. Segundo a Reuters, que
ouviu moradores, a polícia estava fazendo prisões aleatórias.
Discriminação
Têm crescido nos últimos
anos os protestos de uigures,
que acusam Pequim de perseguir sua cultura e sobretudo
sua religião. No ano passado,
funcionários públicos acusaram o governo de obrigá-los a
cortar a barba e de não permitir
suas orações nas repartições.
Quase a metade dos 20 milhões de habitantes de Xinjiang
é uigur -eram 80% há 20 anos,
mas a migração recente em
massa de chineses da maioria
han reduziu essa maioria.
O Exército chinês tem estimulado reservistas a se instalarem na despovoada Província,
com garantias de emprego e registro de residência.
Os secretários do Partido Comunista (quem de fato manda)
nas duas Províncias são da
maioria han, assim como a
maioria dos funcionários públicos. Segundo os dissidentes, os
han têm também privilégios
em contratos com o governo.
No ano passado, um atentado
contra uma delegacia de polícia
em Kashgar, perto da fronteira
com o Paquistão, deixou 16
mortos, dias antes da abertura
da Olimpíada de Pequim.
Os EUA se disseram preocupados com o episódio, mas afirmou ser prematuro especular
sobre as circunstâncias. "Pedimos a todos em Xinjiang que
exercitem a compostura", disse
o porta-voz da Casa Branca.
Segundo o chefe da polícia local, Liu Yaohua, os manifestantes estavam armados com facas, paus, tijolos e pedras. Números preliminares dizem que
203 lojas e 14 casas foram destruídas, bem como 190 ônibus,
10 táxis e dois carros policiais.
"O número de mortos também está aumentando", disse
Liu em entrevista coletiva.
Na noite de ontem, segundo
relatos obtidos pela Folha, as
ruas da cidade estavam desertas, e várias lojas e restaurantes
ficaram fechados durante o dia.
Há militares e paramilitares,
em caminhões e viaturas, por
toda a cidade de Urumqi. Pequim começou a organizar ontem viagens para a imprensa
internacional para mostrar o
seu lado sobre a revolta.
O governador de Xinjiang,
Nuer Baikeli, disse que os protestos são liderados por "forças
extremistas no exterior". A
agência estatal acusou a organização Congresso Mundial
Uigur, liderada pela ativista
Rebiya Kadeer, exilada nos
EUA depois de anos presa na
China. Kadeer, porém, nega.
O governo local também afirmou ter deslocado cem oficiais
uigures para interrogar as centenas de presos pelos protestos, que não falam mandarim.
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