São Paulo, sábado, 07 de agosto de 2004

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IRAQUE SOB TUTELA

Insurgentes xiitas falam em 36 mortos e pedem trégua; pelo menos 13 civis morrem e 58 são feridos

Americanos dizem ter matado 300 em Najaf

DA REDAÇÃO

O recrudescimento dos combates entre as forças dos EUA e a milícia do clérigo radical xiita Moqtada al Sadr na região de Najaf (sul do Iraque) resultou na morte de cerca de 300 insurgentes em dois dias, declarou ontem um comandante americano na região. Os rebeldes contestaram o número, dizendo que houve 36 mortes.
Segundo hospitais, os combates também deixaram ao menos 13 civis mortos e 58 feridos.
Ante violência e à guerra de informações -os dois lados se acusam pelo rompimento da trégua que manteve o majoritariamente xiita sul do Iraque relativamente calmo por dois meses-, Al Sadr voltou a exortar seus seguidores a combater as forças americanas.
"Vocês tomaram esse caminho [de combater os EUA] e agora têm de enfrentar os perigos e os obstáculos. O paraíso não vem de graça", declarou Al Sadr, em mensagem lida por um assessor num sermão em Kufa, vizinha a Najaf. "Não esperem que eu suba neste púlpito e lhes dê instruções. O inimigo me espreita em todos os lugares. Não deixem que minha morte os desuna."
Os combates dos últimos dias puseram fim ao acordo firmado entre as forças dos EUA e a milícia de Al Sadr, o Exército Mehdi, após um levante xiita ao qual se seguiram ações americanas. Em abril e maio, cerca de 20 soldados e 350 insurgentes morreram na região.
O fim da trégua representa uma séria ameaça à estabilidade do governo interino do Iraque, que já enfrenta focos de violência em cidades sunitas e na capital. A presença de uma Força Multinacional de 160 mil militares sob comando americano, que segue no país apesar da devolução oficial da soberania iraquiana, tampouco consegue manter a segurança.

Recuo
A violência recrudesceu anteontem quando os marines acorreram em socorro de policiais iraquianos após um ataque contra uma delegacia na cidade, segundo os americanos. A milícia acusa os EUA de iniciarem os combates.
Porta-vozes de Al Sadr repetiram a oferta de trégua da véspera. "Como eu disse em nome de Al Sadr, queremos retomar da trégua", disse Mahmud al Sudani a repórteres. Os EUA dizem não ter recebido nenhuma proposta.
Segundo o coronel Gary Johnston, da 11ª Unidade Expedicionária dos Marines, que atua na região, dois militares foram mortos em combate e 12 foram feridos. "O número de baixas inimigas é de 300 mortos em ação", disse.
Johnston afirmou que o Exército Mehdi estava mal coordenado e atirou a esmo contra marines pesadamente armados, que contavam com o apoio de caças F-16, helicópteros e aviões AC-130.
Dentro da cidade, sagrada para os xiitas, rebeldes com fuzis e granadas-foguetes seguiram patrulhando as ruas. Tendas no mercado emanavam fumaça, e tiros eram ouvidos em vários pontos.
O governador da Província afirmou que os rebeldes mortos chegaram a 400, e que mil foram presos. Ele disse que iranianos se uniram ao Exército Mehdi e lhes deu 24 horas para deixarem a cidade.
Soldados britânicos e italianos também enfrentaram a milícia em Basra, Amarah e Nassiriah, onde seis insurgentes morreram. Em Bagdá, confrontos nos dois principais bairros xiitas, Sadr City e Shoula, resultaram na morte de 20 iraquianos e 114 feridos, segundo o Ministério da Saúde.
Também ontem, Amã anunciou que quatro jordanianos foram capturados na região de Ramadi (oeste), dando continuidade à onda de seqüestros de estrangeiros que eclodiu em abril.
O principal líder xiita do Iraque, grão-aiatolá Ali al Sistani, 73, desembarcou em Londres para se submeter a um tratamento cardíaco. Um assessor disse que é a primeira vez que o clérigo moderado manifesta o problema.


Com agências internacionais

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