São Paulo, sábado, 07 de agosto de 2010

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ANÁLISE

Massacres e carnificinas caracterizam a história da Colômbia no século 20

NEWTON CARLOS
ESPECIAL PARA A FOLHA

A história da Colômbia é um interminável rosário de violências de todos os tipos. O quinquênio (1948-53) em que uma carnificina matou 300 mil ficou conhecido como "La Violencia".
O século 20 começou com a "guerra dos mil dias" entre liberais e conservadores, comerciantes urbanos e latifundiários que disputaram a ferro e fogo o espólio da Coroa espanhola e continuaram se enfrentando nas urnas e à bala. Proclamada em 1819, a República enfrentou 40 revoluções antes de se consolidar. Mas em 1948 um expoente do partido Liberal, Jorge Gaitán, rompeu com a cúpula partidária, lançou-se no populismo, foi assassinado, e as favelas de Bogotá explodiram no "bogotazo" diante de espantados participantes de assembleia da OEA.
A fermentação política e popular que resultaria na criação de grupos guerrilheiros teve sua origem aí. Em 1950, a eleição de Laureano Gomez, conservador, levou a violência a níveis insuportáveis e produziu anarquia.
Acabou por colocar no poder, com pretensões a "pacificador", o general e ditador Rojas Pinilla. Mas as guerrilhas, envolvendo militantes liberais "gaitanistas", se consolidavam nas montanhas e criavam "repúblicas independentes" de camponeses. Pinilla caiu em 1953, os dois partidos tradicionais, o Liberal e o Conservador, voltaram a se revezar em palácio e, a partir de 1964, as "repúblicas" se tornaram alvos militares, quando foi assaltada a de Marquetia.
Operação a cargo do batalhão colombiano que lutou na Guerra da Coreia e foi treinado pelos americanos. Marquetia tornou-se um símbolo do universo guerrilheiro da Colômbia. Guerrilha é associada à ideia de revolução social.
Mas na Colômbia, como se vê, resultou em boa parte de uma "cultura de violência" com raízes em disputas que datam da independência.

FORTE INFLUÊNCIA
Em "Guerrilleros, Buenos Días" (1954), Jaime Vasquez Santos conta como se criaram grupos de luta armada com origem no partido Liberal, a partir de 1948. Mais tarde se soube, por meio de documentos e relatos verbais, da "forte influência" dos comunistas nessas formações, de onde saíram as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia, que acabaram se tornando a mais antiga insurgência do continente, marcada por profunda "metamorfose ideológica" e sustento baseado em fatores de degradação.
Um ex-chefe guerrilheiro de El Salvador, que trocou a violência por "status" político, disse que as Farc se transformaram num opulento ninho de sequestradores. Usam, disse, seres humanos como objetos de troca e cobram "imposto de guerra" inclusive de narcotraficantes -ou elas próprias traficam.
O Voz Operária, jornal do PC, publicou editorial batendo forte nos que insistiam em soluções militares e declarando a inexistência de "situação revolucionária" na Colômbia. As Farc sobreviveram, mas não como opção revolucionária. A sua longevidade, enfrentando inclusive forte apoio militar dos EUA aos governos colombianos, se deve sobretudo aos quesitos acima.


NEWTON CARLOS é analista de assuntos internacionais



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