São Paulo, domingo, 07 de agosto de 2011 |
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E EU COM ISSO? Brasil deve sofrer com 'tsunami financeiro' e com desaceleração País poderá ganhar com fluxo para emergentes, mas só em alguns meses TONI SCIARRETTA DE SÃO PAULO Longe de ser uma ilha, o Brasil deverá ser um dos países mais afetados pelo rebaixamento dos EUA. O país poderá até se beneficiar daqui a alguns meses de um eventual aumento de fluxo de capital para países emergentes, valorizando ainda mais o real, agora que ficou estampada a fragilidade da economia americana. Antes, porém, vai sofrer com o tsunami financeiro que deverá varrer os mercados nos próximos dias. O Brasil foi uma das maiores apostas do mercado financeiro global no período entre as crises de 2008 e 2011, mas é um país pequeno, periférico e alternativo. Será um dos primeiros a perder recursos para cobrir as perdas nos mercados maduros. Após o choque financeiro, virá o ajuste à nova realidade recessiva ou de baixo crescimento global. Dependente da exportação de commodities agrícolas e minerais, o Brasil perderá duplamente com a redução de volume e de preços desses produtos. Projetos de infraestrutura para Copa do Mundo e para Olimpíadas, que são intensivos em capital, terão mais dificuldade de financiamento. Além do abalo na confiança, os bancos terão de reduzir o dinheiro disponível para empréstimos porque terão de recolher provisões maiores para calote, por conta da avaliação de crédito piorada dos títulos dos EUA. RESERVAS DO BC Acostumados à realidade de alto risco, os fundos de pensão e de investimento brasileiros não investem em títulos americanos. Pelas mãos do Banco Central, porém, o Brasil é um dos maiores compradores de títulos do governo americano, que, além de não renderem quase nada (retorno é de 0% a 2,5% desde 2008), ainda impõem risco cambial que trouxe sucessivas perdas desde 2003 com o recuo do dólar. Questionado no passado sobre a compra de tantos papéis dos EUA, o BC afirmava que sua política conservadora pedia investimentos em títulos AAA, sem risco. O BC aplica US$ 207 bilhões em títulos americanos -63% das reservas cambiais. A avaliação no governo brasileiro é que a notícia é sem dúvida negativa e causará estresse no mercado amanhã, mas não mudará a composição das reservas brasileiras nem levará à fuga de investidores do país. Desde 2007, o BC promove uma mudança gradual na composição das reservas, migrando parte das aplicações do dólar para o euro e outras moedas. Como a dívida americana segue com avaliação de grau de investimento, não há uma obrigação de se desfazer desses papéis. A situação do BC brasileiro não difere da da maioria dos fundos de pensão, de investimentos e soberanos (governos) do mundo, cujos estatutos obrigam a manter a maioria das aplicações em papéis sem risco de calote. Apesar do ineditismo da situação, esses fundos não têm para onde migrar suas aplicações. Mesmo países que mantiveram o rating AAA, como Reino Unido e França, não têm títulos no mercado suficientes para absorver parte dos investimentos nos títulos americanos. Colaborou Brasília Texto Anterior: Análise - Previsão econômica: Crises agudas expõem fragilidade das previsões Próximo Texto: Dominó: Rebaixamento deve chegar a empresas Índice | Comunicar Erros |
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